[Postal de ontem no És a Nossa Fé]
Uma boa vitória, a mais dilatada de sempre do clube na Liga dos Campeões. (Mais) alento moral, e a mostrar (a confirmar) que a equipa não se esboroou mentalmente após a entrada aziaga nesta competição. E ganhos muito objectivos: apuramento garantido para a próxima etapa europeia - que seria o indito objectivo predeterminado no clube (que não na equipa), dado o historial de dois dos integrantes do grupo; mais pontos no ranking de clubes da UEFA, preciosos para o futuro; uns milhões de euros encaixados devido às vitórias, os quais grosso modo equivalem a duas contratações futuras de defesas no assisado regime actual do Sporting; valorização dos jogadores no mercado internacional - em particular nos endinheirados mercados médios do futebol europeu, pois o campeão turco foi abalroado em dois jogos. E ganhos subjectivos: a maturação da equipa como um todo, que parece outra em relação à do naufrágio com o Ajax, e de vários jogadores até agora inexperientes nestas andanças; o presumivel transportar deste saudável ambiente interno para os jogos do campeonato, algo catapultado pelo enorme tino verbal do treinador.
Nisto tudo fica esta sensação: já só "basta" vencer ao Dortmund para seguirmos em frente na Liga dos Campeões. É possível, claro, mas será difícil, e se acontecer será mesmo um escândalo em termos europeus. Mas o importante é lembrar: quem há um ano pensaria ser possível um momento destes? Ou mesmo, quem há um mês isto apregoaria em voz alta, tantos os "apóstolos da desgraça" a bradarem um afinal fogo-fátuo do clube?
Insisto no que escrevi aqui há 15 dias, a necessidade dos adeptos acalmarem nas críticas, de se manterem fiéis ao "jogo a jogo". Pois as coisas estão a correr bem, com competência e bom espírito. Para sublinhar isso apelo ao que se passou ontem no jogo. Paulinho - que tão criticado tem sido, na imprensa e nos círculos sportinguistas na internet - marcou um grande golo, o terceiro na competição. No jogo anterior marcara também um "golão". Nos quatros jogos já realizados enviou também três bolas à barra. E viu um golo - muitíssimo bem marcado - anulado por um fora-de-jogo "centimétrico". Além do tudo que joga e nisso contribui para que a equipa jogue.
Ora ontem logo no início, como todos vimos, em jogada corrida estoira a bola na barra. E reage com evidente desespero facial, num óbvio "como é isto tudo possível?" Feddal de imediato convoca o apoio e o público reage em uníssono, aplaudindo o jogador. E voltou a fazê-lo quando ele foi substituído. O que mostra que o jogador, apesar do seu bom desempenho constante, está algo afectado com a malvada malapata que o tem perseguido e que os colegas o sabem e defendem. Mas o episódio mostrou também que os adeptos também o sabem, e o apoiam, acarinham.
Será então de calibrar o olhar. Deste há muito (e os blogs da SAPO cumprem hoje o 18º aniversário, o que é imenso tempo) que se percebe que bloguistas e seus comentadores (bem como os também posteriores activos nas redes sociais) tendem a viver numa "bolha", a julgar que o que encontram na "rede" é o verdadeiro pulsar do real. E nisso botam opiniões, enfatizam as próprias e atiram-se às alheias como se isso se reflectisse no tal real. Mas ontem aquele estádio (quase) cheio em aplausos a Paulinho, no momento em que a equipa segue um rumo positivo e em formato tão simpático [ninguém poderá dizer que são os árbitros a favorecer o Sporting, ninguém encontra treinador e direcção em abrasivas e desnecessárias agressividades diárias contra jogadores, clubes adversários ou a sociedade em geral], mostra bem a real irrelevância dos punhados de "inteligentes" diante do ecrã a contestarem Paulinho ou qualquer outro dos futebolistas do Sporting. Convém mesmo calibrar o olhar. Não no sentido de suspender um olhar crítico aos jogos. Mas perceber que as "brigadas do reumático" intelectual na internet nada significam. E seria bom deixar de lhes dar eco.