09
Out23
Caim
jpt
Acabei este "Caim" de José Saramago, que deu brado polémico quando foi publicado. A citação aposta na badana é prometedora, "A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele". Para dissertar sobre esse seu deus, e todo o cadinho de incompreensões que convoca, Saramago pôs Caim em transumância por tempos e lugares dos episódios bíblicos. Procurando uma paródia invectivadora do deus cristão - de facto, sobre o Deus do Antigo Testamento - suas maldades e defeitos.
A qual me parece não só redutora mas também já anacrónica, em pleno XXI - e depois de várias incursões literárias contemporâneas explicitamente retrabalhando a Bíbia (como a do mais-velho Thomas Mann ou de Tournier), e muito mais conseguidas. E não gostei - mesmo nada - do tom, a resvalar para um sarcasmo até grotesco por via dos modos do narrador, cutucando os leitores com intromissões modernaças, como as de deus dizendo "truques para épater le bourgeois" ou os anjos "metendo as grossas tábuas debaixo do braço, como se fosse o jornal da tarde" (157-161), para meros exemplos.
Enfim, um livro que é uma ira desconseguida.