02
Nov23
"Catembe" no Cinema Ideal
jpt
Os que estão em Lisboa, poderão ver no cinema Ideal (ao Bairro Alto), entre hoje (2.11) e sábado (4.11), o filme "Catembe" de Faria de Almeida. As sessões serão às 21:15. O bilhete custa 5 euros.
O filme - e alguns outros, pequenos, do cineasta, que estão anunciados no sopé do cartaz - rodado na então Lourenço Marques será alvo de apresentações: Maria do Carmo Piçarra, investigadora (quinta-feira), Amarante Abramovici, cineasta e programadora (sexta-feira), Isabela Figueiredo, escritora (sábado).
Transcrevo o texto alusivo ao filme que está inscrito na página-FB do Ideal:
"Manuel Faria de Almeida (Moçambique, 1934) é autor de uma das mais importantes obras do cinema português, "Catembe" (1965), um filme severamente censurado pelo regime ditatorial do Estado Novo. O filme vai ser apresentado em sala, no cinema Ideal, numa ação do projeto FILMar (no âmbito do qual a Cinemateca Portuguesa o digitalizou com o apoio do programa EEA Grants 2020-2024).
A recente digitalização do filme permitiu revelar o trailer inédito que contem algumas imagens das sequências amputadas durante o processo de censura. Retirado de circulação pelo próprio realizador, o filme foi sujeito a 103 cortes, muitos deles perdidos, e que revelavam o quotidiano da cidade de Maputo, então Lourenço Marques, no início da década de 1960. "Catembe" tinha estreia marcada para o Cinema Império, em Lisboa, no mês de novembro de 1965, mas a violência das exigências do regime, levaram à anulação das suas exibições.
A cópia que agora se apresenta, junta os 45 minutos autorizados, aos quais se juntam 11 minutos de cortes, e o trailer que exemplifica a singularidade do olhar de Manuel Faria de Almeida, então um jovem realizador que veria o seu percurso amplamente afectado pela repressão artística e política a que o seu trabalho foi sujeito. O filme, cujo título completo seria "Catembe - Sete Dias em Lourenço Marques", acompanhava o quotidiano do bairro de pescadores, bem como de uma jovem rapariga, contrariando as imagens impostas pelo regime colonial.
As sessões serão acompanhadas com a apresentação de três filmes assinados por Manuel Faria de Almeida."
Não posso deixar de referir o primeiro comentário posto neste anúncio na páginas do Ideal - irreverente diz algo fundamental, que "o filme foi censurado no Estado Novo" mas também depois, que não passou. De facto, foi escassas vezes mostrado, principalmente (ou mesmo apenas) na Cinemateca. Não sei porquê, talvez se possa agora perceber essa elisão deste trabalho - e, honestamente, isso será mais interessante do que a explícita censura pré-25 de Abril, que surgia "por defeito".
Eu vi o filme há uns anos, exactamente na Cinemateca. Ainda era uma cópia não digitalizada. Coloca-a abaixo, em formato da plataforma Vimeo, para quem se possa interessar/concentrar durante quase uma hora:
Catembe, de Faria de Almeida, 1965 from Jorge Borges on Vimeo.
Catembe, de Faria de Almeida, 1965