Há algumas semanas uma estação televisiva portuguesa - há pouco adquirida por um colectivo polarizado por um industrial dos transportes com propaladas ligações ao poder político - atribuiu um dos seus canais ao molde de negócios "franchising", alocando-o ao rótulo CNN. Fê-lo com alarido, a pompa e a cerimónia da gala pirosa, e o vasto apregoar de Doutores comentadores apresentados como "vozes livres e independentes". E logo continuou o seu rumo noticioso que, dizem-me amigos atentos, segue afável para com os poderes incumbentes.
Aquando da "abertura" do canal - de facto, um mero "face-lifting" - muita gente, até minha amiga, jornalista e não só, reparou no assunto e saudou a chegada do que se aventou como uma diferente forma de jornalismo televisivo, mais intensa e abrangente, mais problematizadora, se se quiser, ecoando alguma competência e o perfil da estação-mãe, a já velha CNN americana.
Hoje o popular SLB mudou de treinador. O tal canal-franchising esteve (pelo menos) entre as 13.45 e as 14.45 a falar do assunto (julgo que antes já estaria, e que terá continuado, apenas refiro o período em que a minha tv esteve ligada), focando a sala de imprensa do Benfica, vazia, enquanto um vasto painel de comentadores dissertava sobre o assunto, tudo emoldurado por um banda sonora repetitiva, um instrumental potenciador de ansiedade. Após as "importantes" declarações, ainda que curtas, do presidente e do treinador de futebol, o painel perorou durante alguns minutos sobre o verdadeiro conteúdo do abraço que ambos haviam trocado.
Ou seja, e goste-se ou não da CNN original, em termos de "franchising" isto é o mesmo do que um tipo ir a um Burger King português e comer bacalhau à Brás ou rojões à moda do Minho. Ou, para me centrar no "franchising" na imprensa portuguesa, comprar a National Geographic portuguesa e encontrar uma revista de tipas nuas ou o Le Monde Diplomatique português e receber uma revista de culinária. Por outras palavras, este canal da TVI é uma pura fraude. E são fraudulentos todos os tais Doutores comentadores que ali são colaboradores avençados (de facto sendo colaboracionistas em tamanha fraude).
Mas isso ainda é o menos... O que realmente me irrita é a patetice desses que eu conheço que ainda atentaram, saudaram e até aventaram sucessos, a esta tralha mais-do-que-anunciada. Como saberão os que por aqui passam, elementos femininos da minha família vedam-me o uso público do vernáculo. E não será em plena quadra festiva, ainda a 10 dias do libertador Dia de Reis, que vou agredir essa vontade das que me são tão queridas. Por isso fico-me com esta invectiva, dedicada a esses amigos ainda apatetados: ide comer filhoses!! E interpretem-na, à invectiva, como deve ser, pois ida de mim.