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Nenhures

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(Cartoon publicado no Expresso, sem indicação de autor)

Por cá há dois tipos de locutores anti-Covid: o PCP, que insiste em reduzir este momento a uma "epidemia". Confesso que não percebi ainda esta deriva. Esperaria muito mais uma posição de defesa do trabalho, uma exigência extrema de medidas de protecção sanitária à mão-de-obra. Uma ofensiva contra as hipotéticas tentativas do capital (e do Estado) de manter o afã pelo lucro, pela actividade laboral, em detrimento da reprodução física e social da classe trabalhadora. Enfim, alguma coisa terei que ler para perceber este aparente flanar do PCP diante da era covídica;
 
e um núcleo alargado da direita democrática, extremado na afirmação do histrionismo mundial, num frenético "no pasa nada" nisto do Covid-19, como se tudo seja um mito, um exagero. Não se trata, como foi afirmado no início deste período, de "liberalismo epidemiológico": de facto, internacionalmente os oponentes à retracção sanitária foram o marxista nicaraguense, o fascista brasileiro, o mercantilista americano, o brejnevista bielorusso e a social-democracia sueca. Parece-me evidente que a refutação dos perigos desta pandemia alimentou-se da simpatia (até indita) por Trump e Bolsonaro, mas o charme discreto da monarquia burguesa sueca veio-se a impor como legitimador. No entanto, o rei Carlos Gustavo já lhes tirou o argumento, numa autocrítica decerto que penosa.
 
Entretanto o mundo contrai-se, procurando que o céu não nos caia em cima da cabeça. Há exageros, lusos e alhures? Há. Por cá houve e há medidas mal tomadas, e muito comportamento errático? Sim. Muita demogogia estatal? Há. E, talvez pior do que tudo, pressupostos ideológicos estatistas minoraram a resposta abrangente a esta pandemia? Parece-me bem que sim.
 
Mas criticar derivas e engasganços é uma postura. Outra é este afã avesso às preocupações. Até pessoalmente sinto como agressões estes discursos (quotidianos, repito) que negam a pertinência de cuidados extremos. A minha mãe findou a sua vida enclausurada face ao perigo, verdadeiramente letal, desta doença. A minha filha contraíu a doença, estando longe, o que exponenciou os meus cuidados. E habita onde surgiu a nova estirpe, dita de maior agressividade sobre os jovens. E há os restantes familiares, septuagenários alguns. E os amigos próximos, que vimos de biografias nada ascéticas. E nisto há que conviver com os tipos que insistem (repito, quotidianamente) "no pasa nada".
 
Têm todo o direito a isso, liberdade de opinião acima de tudo. Mas nos últimos dias há uma alteração nos seus ditos - uma vera involução. Pois leio vários apelando a que não nos vacinemos. Já não se trata de uma visão diferente, crítica e legítima. Nisso até salutar. Mas o apelo a uma resistência a uma política sanitária que não aparenta ter algum efeito negativo. Apenas porque ... Um mero finca-pé. Um não dar o braço a torcer.
 
Ao fim deste horrível 2020 estou cansado. Olho para estes doutorzecos, aparentes "liberais", os anti-vacinas de agora, mero capim. E digo-lhes "desnasçam" - e para quem não perceba o termo imagine o que seria preciso para alguém desnascer. E verbalize esse hipotético acto no mais rústico do léxico português.
 
Entretanto por aqui irei apagar das minhas ligações-FB (não bloquear, atenção, que isso é censura inadmissível, apenas apagar) todos os filhosdeputa que por aqui andam a apelar a que não nos vacinemos. E com desprezo dizendo-lhes, insisto, "desnasce, pá!".

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