10
Set23
De volta ao "Azulejos Pretos", de Pedro Bidarra
jpt
Há algum tempo o Pedro Bidarra publicou o "Azulejos Pretos", livro muito bem conseguido - dito de grosso modo, conseguiu meter o universo do Rossio lisboeta a rodar durante uma festarola pela Betesga de uma casa-de-banho, tudo a cheirar coca com veemência. E nisso deixou um microcosmos disto tudo como vai estando, e sem puxar o autoclismo. O livro - repito - está muito bem conseguido. Publicado há 3 anos parece-me que terá passado algo despercebido. Ou pelo menos não o vi nas parangonas e escaparates - talvez por o autor não ser do meio literato, talvez porque o estilo é despojado de requebros. Ou por pouco se ligar aos livros dos não canonizados.
Ou talvez por outra razão, essa de a muitos ter parecido demasiado ríspido condensar o mundo circundante a um cagatório, no qual se acumula gente a meter coca, fumar ganzas, beber copos. e, um pouco também, levar outrem ao sexo. Assim sendo excêntrico às sensibilidades que do remanso do sofá burguesote se julgam "realistas".
Num mural alheio vejo agora que a popular cantora Aurea comemorou os 36 anos. E assim os assinalou na sua página de Instagram, colhendo imensas entusiásticas saudações. Na sanita, entre azulejos... azuis.
Para quem se espante com estes modos de hoje, com uma mulher a celebrar-se sentada na sanita, apenas me cumpre dizer - vão ler o "Azulejos Pretos". No qual o autor fez, e bem, o que se pede, como agora se comprova: anteviu, e assim foi "até ao osso" do real, deste cagatório.
Adenda: em tempos deixei um postal sobre o "Azulejos Pretos".