Dois meses confinados: rescaldo
(Lou Reed Live, "Vicious")
Daqui a pouco, a 13.5, cumprirei dois meses confinado aquém-Tejo, em magnífica companhia anfitriã. Quero partilhar alguns momentos cruciais deste excêntrico período:
1. Tenho 55 anos e está a tocar, bem alto, o cd "Lou Reed Live".
2. Estreei-me no focinho do porco e nas caras de bacalhau. A minha ética e o meu palato aprovaram.
3. Passei imenso tempo com a minha filha. Julguei que ser pai é a melhor coisa do mundo. Mas agora mesmo, a propósito de um desgraçado filicídio, aprendi na facebookpedia, com doutos lentes, que a família é um mero e vil mito afectivo que, sob tutela do Estado capitalista, reproduz as (exploratórias) diferenças sociais. Voltei a 1983, àquele inicial ISCTE. E duvido se não há gente confinada desde então ...
4. Perdi o meu nome: (ex?)amigos, da geração dos assistentes dos reedfeet dos 80s, desnomearam-me quando me irritei com a ignomínia de me dizerem culpado pela disseminação do Covid-19 em Moçambique. E que pagasse por isso. Falando sem rebuço? Brancos a comprarem o espaço que ninguém lhes vende. Eu estou numa quinta, cuspo para o chão ... (é para ti, Isabel, que eu não desnomeio as pessoas).
5. O vil dr Vitor Gaspar passou 850 milhões de euros ao banco do amigo do prof. Cavaco Silva e o dr. Passos Coelho fingiu que nada sabia disso. Nós, na esquerda, manifestámo-nos contra este neoliberalismo.
6. Os liberais (que significa "fascistas" no linguajar actual dos académicos da esquerda) suecos, bielorussos, nicaraguenses e brasileiros, não confinaram a população.
7. A economia portuguesa desde os 1960s que não estava tão bem, segundo um mandarim (és tu, João, e eu estou numa quinta, escarro para o chão).
8. O Queen Margot não aumentou de preço e a cerveja do Lidl é bebível se bem gelada.
9. A "Vicious" ainda mexe comigo ...
10. Um dia destes desconfinar-me-ei. A ver se chegado além-Tejo não me deparo logo com um mandarim.