Dos blogs às redes sociais
Por cá há vinte anos muitos da minha geração mergulharam no bloguismo, tanto que até se falou do meio ecológico "blogosfera". O primeiro blog de alguém conhecido terá sido o Ponto Media de António Granado. Mas o que disseminou a mania foi o impacto num pequeno meio urbano do Coluna Infame, de um trio de desconhecidos que se vieram a tornar reconhecíveis. Tudo muito alargado quando apareceram o Aviz e o Abrupto, como se o prestígio dos seus autores legitimasse a volúpia palradora que se gerou. Nada disso chocava - nem articulava, parece-me - com as redes sociais de então, o HI5, o Orkut, os grupos de "conversa" (chat), seriam espaços diferentes, gentes e objectivos diferentes.
Passados poucos anos apareceram as redes sociais ainda vigentes. E os bloguistas logo acorreram, nisso dissolvendo a tal "blogosfera". Muitos deles, os mais politizados, avançaram para o Twitter, impávidos diante da evidente contradição: E no frenesim do "microbloguismo político" incompreenderam a contradição - a política não se analisa com frases curtas, as impostas pelos apertados limites daquela rede. Alguns, talvez muitos, ainda por lá continuam, assim guturais clamando contra a... superficialidade dos políticos actuais e a análise política da imprensa. Enfim, cada um como cada qual. Mas há alguns (e os tuiteristas com toda a certeza) que até metem dó.
Mas outras redes e modos se instituíram. Entre os da tal minha geração alguns, menos viraram-se para o Youtube, de início normalmente de modo mais passivo (mas benéfico) pois restrigindo-s a partilhar obras alheias e - depois - atrevendo-se a assomarem, tal como alguns outros vieram a fazê-lo neste modo radiotelevisivo de agora, dito "podcast". Mas a maioria transitou primeiro para o albergue espanhol temático do Facebook e/ou, anos depois, para o Instagram, esta rede catapultada pelo miríade de Cristianos Ronaldos, Kardashians e demais "influenciadores" ali vigentes.
É nestas duas macro-redes - ainda que me pareça que o Facebook está em declínio, envelhecida e cansada a mole residente - que tenho conta. E anteontem notei bem a diferença mental que comanda os seus utilizadores, isso através de algo que me aconteceu. Em dia soalheiro, neste Verão insistente que persiste, cruzei o Tejo num até simbólico cacilheiro, algo que não fazia há pelo menos um ano. No cais esperei um pouco pela partida, e depois fui-me até à Margem Sul naquele até lânguido trote do cavalo-de-rio. Fi-lo de telefone na mão, blogando na plataforma do Facebook - que é mais manuseável em telefone do que a do blog -, naquela meia-hora escrevendo um postal. O qual encimei com um fotografia "picada" numa qualquer página digital. Nisso não olhei nem a montante nem a jusante. Publiquei o texto, aportei, e calcorreei o pequeno trajecto até a casa amiga para almoçar umas deliciosas favas com entrecosto.
É isso o comportamento típico do bloguista, encapuçado de facebookista. Pois fosse eu um instagramista militante ter-me-ia agarrado ao mesmo telefone, captando imagens a norte e sul, a oeste e leste, e até lhes chamaria "fotografias", por pobre de pindéricas que fossem... E publicá-las-ia na minha conta. Tal como fiz ao meu textito, por pindérico que seja.
São mesmo dois modos diferentes de estar. E neste Tejo com o Bugio lá ao fundo impõe-se-me a pergunta: são estes modos, o do garimpo das imagens ou o das palavras, o rumo do faroleiro, iluminador, no Bugio. Ou são apenas os modos da macacada, sita nas ilhas do bugio? Parece-me, e cada vez mais, que são estes últimos. Enfim, a ver se na próxima travessia me deixo a apanhar a brisa. E a ver a paisagem. Pois Lisboa, apesar dela-própria e algumas das suas gentes, é lindíssima.