Com duas amigas de Maputo cruzo um fim de tarde, excêntrico para mim, pois poisando naquelas desinteressantes esplanadas intra-prédios, que em tempos associei ao sonoro nicho "bobo" pós-alfacinha. Falamos das memórias do que lá se fez, e ainda faz, as coisas do "desenvolvimento" que aqui tão longínquas parecem, país tropeçado de abundantes "boas causas", o tal pensamento "bobo" tão ufano, tão de ademanes, como se tudo isto não passe daquele Príncipe Real, ralo de turistas, artistas e pederastas.
Nisso, como é norma quando se juntam (ex-)(actuais) operários do tal "desenvolvimento", soa o ícone "empoderamento". Como sempre resmungo contra o anglicismo, tão desnecessário num país língua que carrega o "potenciar", pois feito de horrível fonética e mais do que tudo carregado de ideologia paternalista, conservador-obscurantista como quase nenhum outro, verdadeiro símbolo deste vazio das boas-causas de papagueares feitas. Entre risos - pois conhecem-me os tiques - as amigas defendem o termo, até sarcásticas. Levantamo-nos, que faz frio, e avançamos a tasca ao Largo da Misericórdia, umas boas pataniscas com arroz de feijão a preço mais do que acessível. Para trás fica o tal "empoderamento" mais as apatetadas "boas causas" e respectivos maneirismos, e fala-se da vida ...
Depois, já regressado a casa, lembro-me desta (já velha) citação: "Todas as palavras em voga tendem a partilhar um destino semelhante: quantas mais experiências pretendem tornar transparentes, mais se tornam elas próprias opacas. Quanto mais numerosas são as verdades dogmáticas que afrontam e suplantam, mais depressa se transformam em cânones inquestionáveis".