03
Mar22
Entender a guerra da Ucrânia
jpt
Há imensas fontes para se tentar perceber a situação na Ucrânia. Desde logo as inúmeras televisões - por hábito vou mais à France 24 e à BBC World News mas a DW também me serve. Um dos nossos generais comentadores televisivos recomenda a fiabilidade da televisão estatal da autocracia catariana. Enfim, há para todos os gostos.
Outras estações serão menos recomendáveis: um popularíssimo cómico português acaba de espezinhar a cobertura da guerra do canal rival, feita pelo antigo director do canal onde há duas décadas começara a sua carreira televisiva e que o terá dispensado - "Cá se fazem, cá se pagam", "a vingança é um prato que se serve frio" e se a guerra ucraniana é mais sanguinolenta do que a do "millieu" lisboeta os combatentes não serão menos sanguinários. E aqui o povo ri e aplaude, não faz manifestações de oposição aos tiranetes.
Em "papel" (digital) há imensa coisa, e farto-me de ver recomendações de literatura contextualizadora/explicativa do processo actual, entre as quais abundam as que remetem para o omnipresente Kissinger, cuja pertinência nestas matérias costuma ser idolatrada - e não serei eu o iconoclasta.
Dada essa profusão de palpites até pedagógicos também faço uma proposta aos interessados no entendimento da crise na Ucrânia, algo acessível e que se poderá ler neste fim-de-semana.
Trata-se deste "O Americano Tranquilo" de Graham Greene, um pequeno romance que explana com detalhe algumas das dinâmicas que promoveram este actual conflito. Será muito de interesse principalmente para quem se interrogue sobre a intervenção do mundo "ocidental", sem com isso se sossegar na demonização dos malditos "capitalistas, imperialistas, ocidentais" (e, agora, no pós-Greene, "neoliberais" e "brancos").
Adianto, como ressalva da minha parcialidade, que este é o "livro da minha vida" (o que não quer dizer "o melhor livro"), pois tendo-o lido e relido na adolescência logo percebi que eu era aquele protagonista Fowler, o que reafirmei nas várias leituras ao longo da vida. Não como alter ego, mas sim como constatação de uma evidente predestinação. Algo que aliás se cumpriu: só não tenho uma namorada mais nova, que me desame e que de mim dependa economicamente. Mas isso é de somenos, pois o estado é o mesmo. (Tanto assim que até tive um blog chamado Rue Catinat).
Enfim se tiverdes curiosidade sobre este caso ucraniano ide ler o tal "O Americano Tranquilo". E também percebereis muito mais coisas, como bónus.
(Nota: há dois filmes que não fazem justiça ao livro. Um suficiente + (apesar) de Mankiewicz; um suficiente - (nota puxada para cima) de Philip Noyce. Convém evitar vê-los, pelo menos antes da leitura)