(Fotografia de Pedro Rocha/Global Imagens)
Iniciam-se hoje as (longas) celebrações do cinquentenário do 25 de Abril. A razão deste começo é simbólica, advinda do calendário, pois a vigência do regime democrático ultrapassa agora o número de dias decorridos entre a revolução de 28 de Maio e o final do Estado Novo. Ou seja, a "longa noite do fascismo" foi suplantada pela "longa alvorada" da democracia.
Para a sedimentação desta não estará tudo cumprido. Não só porque essa incompletude, e imperfeição, é sua condição inultrapassável e desejável. Mas também nas concepções vigentes nos poderes políticos. E para esse défice democrático bastará atentar no facto de que Adão e Silva, o comissário desta longas comemorações, considera irrelevante a data de 25 de Novembro de 1975, o marco que erradicou o horizonte da ditadura comunista. E também porque - e de forma mais significante - ao que consta na imprensa, será hoje mesmo apresentado o novo governo no qual constará - no poderoso posto de ministro das Finanças - um antigo presidente da Câmara que durante anos delatava a regimes antidemocráticos estrangeiros os nomes e moradas dos seus oposicionistas, nacionais ou estrangeiros, residentes no nosso país. De facto, esta coincidência, a do início das celebrações de Abril e da indicação de Medina como estreante no governo - ainda para mais quando o regime de Putin agride a Ucrânia, prende em massa os seus oposicionistas e ameaça com a utilização de bombas nucleares -, é uma horrível e tristíssima ironia, bem demonstrando como é a elite vigente no Partido Socialista.
Ainda assim, este marco de calendário apela a que se pense o futuro. Se - como acima referi - a "longa noite do fascismo" é agora ultrapassada em comprimento pela "longa alvorada da democracia", então já estamos na hora do almoço. Ou seja, findou a legitimidade daqueles que a reclamam no que fizeram - ou os seus ancestrais políticos - aquando da tal "noite" e da posterior "alvorada". Chega disso, dessas prosápias. Vamos almoçar.