16
Jun21
Hungria-Portugal (crónica)
jpt
Ontem - tal como tantos - acompanhei o jogo no meu camarote-sofá, de cachecol apesar do calor. Como é óbvio contestei com vigor e sageza veterana o pendor conservador do nosso engenheiro seleccionador, antevendo uma deslustrada campanha sob tal "motorista". E elogiei a extrema capacidade do nosso engenheiro seleccionador - sempre avesso à fugaz embriaguês do espectáculo - montando uma equipa tacticamente irrepreensível, delineada para enfrentar os gigantes que se sucederão, e clarividente nas letais e oportunas alterações que decidiu, mostrando que iremos longe sob tal "motorista".
Antes do jogo, já em estágio no sofá, tive uma distracção, inadmissível nos antecedentes de um jogo de tal importância que tanto esforço exige do 12º jogador. Pois li que o nosso presidente da República disse para não nos distrairmos com as questões da política sanitária, minudência que nos importuna há 17 meses. Tendo apelado para que nos concentrássemos no que realmente importa, a campanha da selecção de futebol neste Europeu.
Confesso que até em Sousa, de longe o pior presidente da república desde 1976, um poço de tétrica demagogia, tamanho desplante me desnorteou por momentos. Felizmente, após alguns minutos de desconcentração, reencontrei o rumo. E pude assim contribuir para a vitória da equipa de todos nós contra os perigosos húngaros ("não é por acaso que os chamam magiares", como alertou em tempos um prestigiado luso).
Para quem queira acompanhar os motivos da minha ira diante destas manigâncias presidenciais, deixo ligação a um postal que coloquei no ma-schamba em Junho de 2004, aquando do Euro-2004. Contém a transcrição de uma entrevista a João Nuno Coelho, que estudara a produção do discurso político através do futebol.
E insistindo, diante de um PR a dizer-nos para pensarmos na bola e esquecermos esta coisa da política do Covid, deixo ligação para um texto meu de 2011, também no ma-schamba, sobre esta futebolização que nos quer estuporizar.