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Nenhures

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07
Jan18

Moçambique 2017: o que mudou nestes três últimos anos?

jpt

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Vivi 18 anos em Moçambique, que assim me ficou avunculátria. Há meses regressei ao país após 3 anos de ausência, uma estada de cinco deliciosas semanas. O rescaldo desta, pessoal e profissional, é matéria a partilhar com os meus próximos mas ficou-me algo mais público, a alimentar a  minha mania blogal. Mas os tantos sinais que antes me fariam um feixe de postais foram ficando para trás, submersos por outro(s) compromisso(s). Mas pensei num postal mais abrangente, respondendo ao que nessas semanas tantos (talvez mesmo todos) por lá me perguntavam: “então?, o que achas que mudou no país durante estes três anos?“. É uma pergunta normal, mas a transpirar a crença nas virtudes da empiria, aquilo de que a experiência veterana nos dá laivos de omnisciência. E também de alguma metafísica, nisso de esperar que o recuo, o assumir de um diferente ponto de tomada de vista, nos permite uma agudeza mental, mais iluminada (se telúrica demoníaca, se celeste angélica, venha o diabo e escolha).

Morreu 17 e já veio 18. E fiquei-me no silêncio. Credor de mim mesmo, da exprimir essa opinião, como se diagnóstico. E não só, pois ciente que se por cá, na minha pátria, a minha opinião sobre o “estado da arte” é irrelevante, que ninguém ma requere por mais que eu a esbraceje, por lá (a tal avunculátria) ainda há quem se dê ao trabalho de me questionar. O que também me desperta conclusões pessoais, as tais intímas, sobre os meus desacertados rumos. Por isso aqui deixo o meu testemunho sobre o Moçambique que encontrei após os tais três (vácuos) anos de ausência, esperando que isso seja produtivo para quem se interessa pelo país, quem o procura interpretar.

Fui à Ilha de Moçambique, para aí pela 25ª ou 30ª vez nestes últimos 20 anos. Antes como turista, funcionário diplomático, consultor, investigador, amigo. Agora cheguei para proferir uma conferência a convite da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas local, inaugurada no ano transacto pela Universidade do Lúrio, um grande feito. Fiquei uns dias, durante os quais revi os queridos amigos por lá. Um deles contou-me este episódio, sabendo de antemão que eu o apreciaria. Marcara ele um encontro com um conterrâneo, se nahara (local) ou macua (“viente” – como lá se diz -, originário do continente mais ou menos fronteiro) não explicitou, nem é relevante. Combinou-o para a pequena praça onde está a estátua (pavorosa, já agora) de Luís de Camões, monumento tardo-colonial. O interlocutor não o percebeu, naquilo do “perto da estátua do Camões“. Ele repetiu, mas sem se fazer entender. Ainda assim insistiu, descrevendo a estátua sem a nomear. Assim finalmente conseguindo o entendimento: “Ah!, a estátua do monstro que está a pedir dinheiro?!“.

Sei que isto pouca inteligibilidade dará aos meus patrícios veiculadores das virtudes lusófonas (grosso modo o rebanho de clientes financiados pelo Estado-PS) e aos moçambicanos letrados avessos àquilo dos “camponeses”, todos crentes (e menosprezadores) de um certo “atraso” africano. Ou “das nossas limitações”, como se diz em Maputo, a “Nação”. Mas talvez aos outros, às pessoas livres, este corolário, vindo deste velho já meio rebentado, possa servir para entender alguma coisa. Espero bem que sim, até porque mais não tenho para dizer. Nem o sei dizer de outro modo.

Bloguista

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