28
Set24
Na Danação de Fausto
jpt
A semana fora difícil, sofrera um KO, numa redonda "ida ao tapete" fruto de um inesperado, e violentíssimo, uppercut. Sarei um pouco acabando um pequeno texto que amigo me encomendara mas que eu arrastara, e disso e dele darei notícias.
Mas convalesci muito ontem. Na alvorada um amigo ofereceu-me dois bilhetes para a "Danação de Fausto" na "Fundação" - como se dizia antes do Pingo Doce estabelecer a sua... Lesto, agitei a mão sapuda, dedos engordados de unhas roidas, percorrendo o Filofax em busca de quem me acompanhasse, num "requer-se cuidadora informal para deriva operática" - pois, caramba, mesmo não sendo eu muito de Berlioz isto, uma cena faústica ainda para mais, não é algo para ir com um dos da rapaziada, digo eu, "machola" (como dizem os da "linguagem inclusiva"), mesmo se sexagenário.
Mariola - ainda que convalescente - candidatei-me a uma esbelta companhia, indisponível estava, hélas!. Com o frenesim da urgência percorri o alfabeto - como fazem nos filmes americanos. Lá mais para a frente convidei uma jovem, tão dada ao romântico que comigo relê agora Mary Shelley, "estou no estrangeiro" respondeu-me a dra. Frankenstein, sem disponibilidade para este seu... tio (monstruoso?). Mais avanço e logo tenho sucesso, num "não foste (também) enfermeira?!", "vem lá cuidar...".
Acorri, a linha vermelha do metro levou-me da velha pala até esta nova pala, ufana! Telefotografei, para comprovar que já lá estive. Atraso alheio, um qualquer incidente de trânsito, impediu-nos de assistir à sessão de guia de audição. Mas, enquanto esperava encontrei bons amigos, parentela espiritual - que logo nos convidaram para uma garrafa de vinho durante o intervalo.
Depois fomos jantar. Falei dos meus pais, e também do meu tio. Saudavelmente saudoso. E dos que ainda cá estão. Nisso muito me ri. Gostei. E tenho a certeza de que a minha cunhada também.
(Ah, o Berlioz? Gostei, e a reacção do público foi entusiástica, um sucesso. E parece-me que a maioria saiu dali com a certeza de que não vale a pena vender a alma ao Mefistóteles. Alguns já a terão vendido, mas isso não tem remédio, como bem se sabe.)
[Obrigadíssimo Martim]