(Entrevista de Fátima Campos Ferreira a António Ramalho Eanes, RTP, Abril de 2020)
Em 13.3.20 a minha filha chegou do Reino Unido e confinámo-nos em casa de amigo-família, apartados da capital, onde ficámos meses. Ontem ela partiu para longe, com sua mãe. Eu regressarei amanhã, exactos 10 meses depois, a esse meu Nenhures a sul do Tejo, para mim tão mimoso, reconfinando-me entre amigos que são vera família.
Como para quase todos este tem-me sido um péssimo ano. Morreu a minha mãe, sem que eu a acompanhasse. Perdi o meu amor, sem a perceber. E - num registo mais difuso, claro - perdi o contacto, efectivo, com vários da minha camarata. No menos importante, estou completamente "liso" - e há dias em que isso assusta, muito em especial quando os dentes "batem leve, levemente", digo "dão de si", anunciando despesas incontornáveis.
Mas isso é a minha vida, coisas íntimas que um burguês não deve partilhar com qualquer um. Ou um "gajo que é gajo" deve calar. Disto se fala com um amigo, másculo. Ou ao balcão do bar, quando se podia beber ao balcão, perdigotando.
O que posso falar, o que "fica bem", é do que sou e como vou. Contrariamente a muitos destes das modas d'hoje, e que tanto palram, não sou a minha cor, ou os meus genitais, nem o que faço para ter orgasmos. Nem sou a minha descrença mística. Ou quaisquer confusas - e tão iletradas - ideias que alguns julgam ser "ideologia". Sou, há décadas que o decidi, um português, um patriota. É essa a minha ideia, o meu mito, se se quiser. A minha "identidade", para falar como os mariolas. A minha opção, para falar como quero.
Por isso, nesta noite antes de retornar ao refúgio, antevendo o quanto vou e vamos penar, ouço de novo o melhor que se ouviu nesta pandemia. Entre a vacuidade dos nossos próceres, o desatino dos locutores avençados e o ulular de nós-ralé, houve uma pessoa que falou o necessário. Uma pessoa ... (Quase) Apenas ele. E o mais grave é que o ano acabou e nos patéticos rescaldos que sempre surgem ninguém o realçou, lembrou. À fala de 2020! Passou-lhes, paupérrima gente.
Por isso, malas já feitas, antes da partida findo este dia ouvindo o nosso General António Ramalho Eanes. General militar, verdadeiro Marechal civil