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Nenhures

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14
Dez23

O assassínio de jornalista moçambicano

jpt

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Foi esta noite assassinado na sua casa, sita na Catembe (a "Outra Banda" de Maputo), o jornalista moçambicano João Chamusse, durante muitos anos editor do jornal "Canal de Moçambique" - jornal no qual escrevi durante anos, e que há três anos viu as suas instalações destruídas por uma atentado bombista  - e agora editor do "Ponto por Ponto". Também comentador televisivo, Chamusse foi uma voz muito crítica do status quo político daquele país. Junta-se agora a um rol de corajosas figuras que, expressando opiniões livres e desassombradas e actividades políticas avessas ao poder vigente, foram alvo de atentados de violência extrema. Como o exemplificam os assassinatos do autarca nampulense Mahumudo Amurane, do académico constitucionalista Gilles Cistac, ou do activista Anastácio Matavele, bem como o frustrado assassinato do jornalista Ericino Salema, ou do violento atentado ao académico Jaime José Macuane - o qual terá sido informado pelos esbirros de que esses tinham ordens para "não o matar", sendo "apenas" baleado nas pernas.... Entre outros, refiro apenas os que conheci pessoalmente, à excepção do presidente Amurane.

Entretanto, há dias houve algumas eleições locais em Moçambique - em municípios cujos recursos aos resultados anunciados nas eleições nacionais em Outubro passado foram considerados procedentes, e sobre as quais aqui falei (123). Agora, em alguns sítios a polícia carregou sobre votantes e sobre festejos de vitória da oposição. Houve mortos. Recebi algumas imagens violentas via o agora omnipresente Whatsapp. Num curto filme um jovem assassinado pela polícia no Gurué, jazendo sobre um charco do sangue próprio.

Desde há muito que me interrogo sobre as causas do silêncio português sobre a deriva autoritária (que considero suicidária) do poder moçambicano. Silêncio dos órgãos de soberania, da imprensa, das instâncias da sociedade civil. E até mesmo da mole de "cidadãos digitais", sempre lestos a "indignaram-se" com fenómenos alhures, sobre tantos dos quais pouca ou nenhuma informação contextualizada os tais "teclistas activistas" têm. Para exemplo, fi-lo face ao silêncio parlamentar português aquando do assassinato do presidente de Nampula, dado ter então a nossa Assembleia expressado pesar pelo assassinato de uma secundária autarca brasileira. Ou diante do espavento da imprensa portuguesa diante de um assassinato policial nos EUA em contraposição com um assassinato com as mesmas características (raciais) acontecidas em Moçambique. E nos últimos dias aqui deixei implícito que o regime político português considera ser possível opinar sobre o desgraçado estado da pequena Guiné-Bissau mas se encolhe diante do colosso (com pés de matope) Moçambique.

E confesso que não percebo a razão, se a esta se entender como algo lógico, deste silêncio diante do acumular de malfeitorias evidentemente promovidas pela deriva do poder de Maputo. E como português - nunca neo-colono - muito lamento isto. Nem tanto o silêncio dos políticos, sempre protegidos pelo mito do "interesse nacional", da "realpolitik". Mas até mais os dos jornalistas, sempre tão lestos em proposições sobre o "dever-ser" mundial. E, ainda mais, o dos "cidadãos digitais".

E que este vil assassinato de Chamusse, um pérfido atentado à liberdade de imprensa, possa comover o tal sentido de "cidadania global". Envergonhando os silenciosos.

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