O caso Marega
Muitos falam sobre o "caso Marega". Quem melhor falou foi o seu treinador, Sérgio Conceição, ao exclamar "isto é uma vergonha, c....!". Quem também escreveu bem foi o meu amigo (e ex-bloguista no ma-schamba) Miguel Valle de Figueiredo no seu mural de Facebook: "Ena! Descobriu-se ontem que há selvagens nas claques de futebol!!!" - e disserta, infelizmente em publicação apenas acessível para as suas ligações, sobre a extensa rede de cumplicidades com este fenómeno de "claquismo", esse lumpen congregado e excitado pelos interesses mancomunados em torno do futebol. Interesses económicos, políticos e da corporação jornalística.
Como estou no blog sportinguista És a Nossa Fé tenho escrito sobre claques - por exemplo, alguns meses antes do "caso Alcochete" botei este "O governo está a dormir" (E continua a dormir), sobre a inactividade governamental face a este fenómeno induzido das claques futebolísticas, e sobre o que disto se pode esperar. E mesmo na última semana tornei a abordar a matéria, premente no Sporting Clube de Portugal. Quem não lê esse blog não compreende a intensidade do que digo: o ambiente dessa gente, e que chega à internet, é abrasivo, de uma violência verbal, intelectual, insuportável. Cada vez que escrevo sobre claques (ou algum dos co-bloguistas o faz) o fel alheio respinga, irracional, odioso, chega-nos em doses até dolorosas. É incomparável com outras áreas temáticas no país. Garanto, é quase inacreditável o conteúdo e o tom dos comentários que recebo quando abordo a necessidade de extirpar isto da organização dos espectáculos desportivos.
Entenda-se muito bem, esta escumalha, sita em várias terras e inúmeros clubes (esta de Guimarães tem fama de ser a mais aguerrida, mas em Braga pedem-lhe meças. A do Porto é horrível, a benfiquista cultua o assassinato de adeptos de outros clubes, a do Sporting é asquerosa e bem sabida a sua tendência para os atentados contra atletas, etc.) está aí, activada. E à mão de semear.
Alguns escrevem mal: o mariola Ventura desvalorizou o caso. E umas horas depois, ao ver os ventos levarem a bola para o outro campo, titubeou um pouco. Ventura é um problema que temos, todos. Ou quase todos, pois há um punhado que o apoia. A nossa vantagem é exactamente esta, ele titubeia, é fraca gente. Viu-se quando, como ele próprio disse, não soube o que fazer diante da saudação fascista do seu apoiante. Vê-se agora no recuo tuiterístico diante da indignação geral. E temos um problema colectivo, nas nossas diferenças, porque o que Ventura e estes amorais que o apoiam - alguns deles tão activos nas redes sociais, outros apenas no blaseísmo lisboeta de apoucarem os opositores desse tralha - querem é este claquismo disseminado na opinião pública, e instalado nos poderes. Talvez mesmo, num dia mais distante, tendo o poder.
E está também muito mal a igreja católica. Quando o padre José Antunes, presidente da AG do vitória de guimarães (em minúsculas, claro), diz que o jogador tem que ir para o psiquiatra, seria importante que a hierarquia da igreja dissesse algo, se demarcasse desse seu membro energúmeno. Mas as horas passam e, fiel à lentidão eclesiástica, o clero mantém-se mudo. Talvez, creio, daqui a umas décadas algum sucessor do cardeal Manuel Clemente, o ilustre Prémio Pessoa crente no exorcismo, se pronuncie. Mas, então, ainda que venha pio tarde piará.