06
Dez24
O Jardim "Zé Pedro" nos Olivais
jpt
Os Xutos fizeram os hinos da nossa geração, "Remar, Remar", "1º de Agosto", "O Homem do Leme", mais um punhado. Tiveram a postura da rebeldia da juventude, o enfrentar daqueles rústicos aldeões dos anos 70s portugueses, os mais-velhos de então, tão convictos de si-mesmos estavam, e eles a cantarem a recusa dos que "tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...". Depois, sucesso afora e vida percorrida, da postura fizerem pose, coisa mais do que legítima, artistas que são. Ou seja, o "X" não, o "X" que-se-lixe, o quase "no future" do punk, amansou, tornado mero requebro de fim-de-semana, intervalando a nossa vida de pais-de-família. Qual o problema disso? Até porque - justiça seja feita aos Xutos - nunca se armaram em paladinos de "anti-sistema", foram muito mais, estavam fora disso, assistémicos, se se quiser, nisto da clarividência máxima, do "a vida é sempre a perder"...
Um dia com eles pasmei. Num "assim tanto também não!", até irado, praguejando. Foi ao sabê-los ali em Chelas, onde foi o Cambodja, a partilharem o palco com um trio de presidentes (Marcelo, Ferro, Medina), estes a fazerem o "X". Percebi-os, os compromissos da velhice, mas virei costas. Sim, quando o Zé Pedro morreu ainda saí de casa e fui ali ao cemitério dos Olivais acenar uma vénia, de "X" armado diante do seu féretro. Teve de ser... Mas mais nada, desde aquele dia, servil, a banda é-me apenas uma cada vez mais vaga memória.
Agora soube que aqui nos Olivais, ali às Finanças - onde ele viveu em miúdo - se apresentou a estátua do Zé Pedro no jardim que passa a levar o seu nome, coisa de que se ouve falar há anos. Aqui nos Olivais, 32 000 eleitores no centro de Lisboa, onde a biblioteca está encerrada há cerca de quatro anos - sem justificação que não seja a incúria. Onde as gerações de gente algo pública ou menos conhecida, já partida, são deslembradas, sem "arte" ou "engenho" para animar uma "memória" social, nisso animar as vidas.. Onde a indução cultural se pensa como "animações gastronómicas" e festividades de Setembro... E onde a Junta é o que é, e desde há tanto tempo que o é, uma vergonha caciquista.
E olho este friso de "X". E Moedas, assim, a sufragar isto. "E uma vontade de rir nasce do fundo do ser..."
***
Adenda: junto o que respondi a um comentário no meu mural de Facebook sobre a publicação deste texto:
Não me choca, até simpatizo com "Jardim Zé Pedro". E não o entendo como uma qualquer "violação" de um qualquer "espírito" dos Xutos. Mas levanta algumas questões:
1) há uma decisão camarária, emanada devido a uma petição pública que propunha esta homenagem, e que foi adjudicada à Junta de Freguesia . Foi estipulada uma tarefa de reformulação de um jardim. A obra não está pronta. Mas já foi inaugurada, em estratégia propagandística aqui na freguesia. (Abaixo deixo reprodução da deliberação camarária e planta do jardim a reformular, que me foi enviada por um leitor do blog).
2) sei que os proponentes da iniciativa, cidadãos desprovidos de quaisquer ambições de visibilidade, apenas olivalenses (e não só) "fans" dos Xutos, foram esparvoadamente destratados pelas gentes da Junta, estas sequiosas da tal "visibilidade";
3) esta Junta, PS desde 1980, é um exemplo patético de caciquismo ignorante. E de práticas de um nepotismo tão rasteiro, miserabililista já descritas pela imprensa (isto chega ao ponto das sopas escolares servirem para alimentar pelo menos a familia de uma das integrantes das eleitas da Junta). Situação que desaconselharia qualquer associação do presidente Moedas com esta gente (ainda por cima nem são do mesmo partido, mas mesmo que fossem...);
4) e mais importante: os Olivais, um enorme bairro construído nos anos 60s, compôs-se de imensa gente que teve alguma visibilidade pública, da geração fundadora e dos seus descendentes, para além dos que terão vindo depois. Ou seja, há um vasto manancial de "Zés Pedros", de várias áreas de actividade. Já que estamos nos 50 Anos de Abril dou este exemplo: só no mesmo "quarteirão" (para facilitar), perto de minha casa, viveram até às respectivas mortes Aventino Teixeira, Álvaro Cunhal e Soares Carneiro. O "sector cultural" da Junta aproveitou isso para qualquer animação social, cultural ou mesmo política? O que se passa neste bairro, em termos actividades sobre as "memórias" a "não esquecer" é paupérrimo, tal como o é em termos de construção de novas "memórias" e isto aqui tornou-se, agora sim, um dormitório.
5) há uma biblioteca, a antiga BDteca, sob responsabilidade da Junta que está fechada há cerca de 4 anos. Sem obras estruturais, nem isso. Apenas incúria. E espetam uma estátua de um músico (Zé Pedro que seja) e acorre a imprensa a louvar isto?
face à Deliberação nº 143/CM/2024 a obra não estará concluída, dado que o Jardim agora construído não se resume aquele espaço mas sim a toda a zona ajardinada até á Escola Primária.