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Mai21
O Lidl nos Olivais
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Na passada semana, e com a prestimosa presença das autoridades locais, foi inaugurada uma loja do Lidl nos Olivais. Assim, num terreno delimitado pelas ruas Cidade de Bolama e Cidade de Bissau - exactamente onde cresci e agora envelheço -, terminou um período de obras constantes que durou... 28 anos! Repito, 28 anos de obras.
Não só o projecto inicial foi algo alargado - tenho em casa um folheto camarário de 1990, assinado pelo autarca Jorge Sampaio que o demonstra. Mas é também um projecto notoriamente sobredimensionado. Em volume e em adequação às necessidades, da freguesia e da cidade. Prova disto? Estes 28 anos.
Nisto na zona aconteceu a tercearização das lojas dos prédios - e o definhar do pequeno comércio que nelas se havia instalado desde o início do bairro, esmagado pelo centro comercial instalado (estuporadamente dito xóping). E também o aumento de escritórios e de habitação. A construção de uma escola C+S. Uma estação do metro. O trânsito muito cresceu. E foi mal regulado, pois de modo contra-intuitivo. O estacionamento desta zona habitacional tornou-se escasso. Entretanto, no bairro surgiu uma outra estação de metro. E brotou o vizinho Parque das Nações. Quanto à ideia de um novo aeroporto, já naquele in illo tempore dito urgente, definhou na querela entre os socialistas neo-terratenentes dos arrabaldes da Ota e os sociais-democratas financeiros a quem coube o legado do Rio Frio. Ou seja, a continuada extensão dos serviços do aeroporto da vizinha Portela teve efeitos pressionantes na mobilidade na Encarnação, nos Olivais-Norte e nos Olivais-Sul.
31 anos depois do anúncio das obras, 28 depois do seu início, várias presidências camarárias decorridas, duas nesta freguesia, no bairro não foi construído nem um parque de estacionamento público nem um silo de automóveis. Nada foi pensado, e ainda menos executado. Três décadas: Sampaio, Soares, Santana, Carmona, Costa, Medina. Na freguesia: Egipto, a actual inefável Lima. Na câmara? Moles de arquitectos e engenheiros e decerto que alguns sociólogos. E nada.
O que nos resta, aos fregueses? A punção da EMEL, pensada como ordenadora. Apesar da extensão do bairro, da sua acidentada orografia. E do envelhecimento, empobrecimento e isolamento da sua população. Pois nada foi pensado, nada foi planeado. Numa administração que espelha políticos e funcionários públicos: sobredimensionar projectos na volúpia do apego à "indústria" da construção civil. E taxar os cidadãos. De modo vigoroso e punitivo - pois tanto as modalidades do parqueamento como as quantias exigidas pela EMEL são, de facto, uma extorsão.
A mim, vá lá, resta-me isto de ter o Lidl na minha rua. Pois agora basta-me atravessá-la para comprar uma garrafa do apreciável Queen Margot, suficiente uísque a menos de 7 euros. E bebo um copo generoso, com gelo, durante este escapismo das redes sociais. Lendo tantos "cidadãos", tão convictos deles-mesmos, a protestar com a (falsa) marquise do Cristiano Ronaldo. E depois bebo outro. Sem problemas. Pois, apesar do que acima digo, não tenho carro.