Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Nenhures

Nenhures

31
Jul19

O Padeiro dos Olivais regressa à Pátria

jpt

117.JPG

Avenida Dailly, Schaerbeek, Bruxelas, de onde partimos no último sábado, eu em verdadeiro torna-viagem, quiçá o meu último, quem sabe se apenas o deste agora. Decidido o regresso automobilizado logo os patrícios ali vizinhos me aconselharam os cuidados necessários ao trabalhoso caminho: que ultrapassássemos Paris durante a noite, para evitar o seu demoníaco trânsito. Assim o fiz, largando a de facto bela e aprazível Bruxelas ao fim da tarde, de molde a cruzar aquele horroroso remoinho durante a meia-noite dominical, ainda assim atarefadíssima. Mas o conselho mais fundamental foi o dedicado ao combustível: que atestasse à saída do país, cerca de Mons. Que reabastecesse o mínimo possível em França, que tão mais cara por lá servem a gasolina – tanto que até terá provocado aquilo dos “coletes amarelos” que andaram nas bocas nestes últimos tempos, principalmente aquelas mais ditas eurocépticas. Assim o fiz, carregando a meio do franco trecho, e reforçando o pouco necessário já no País Basco gascão. E que atestasse no início do reino nosso irmão e de novo no seu término, ali nas imediações da antes mítica Vilar Formoso. Pois, disseram-me, e não só acreditei como o comprovei, a gasolina é tão mais cara em França do que na Bélgica e em Espanha. E é isso a verdade, como qualquer viajante mais atento o pode comprovar.

Mas o que mais me surpreendeu foi já conduzindo na Pátria Amada, apesar desta tantas vezes dita "Gasta", e assim o ir parecendo. Pois, autoestrada adiante fui vendo os anúncios dos preços do combustível. E bem fidedignos o são, pois mostram que a gasolina comum é mais cara em Portugal do em Espanha. E do que na Bélgica - onde as pessoas ganham, grosso modo, cerca de três vezes mais. E até do que na França - a tal terra dos furiosos "coletes amarelos", onde os rendimentos ainda são maiores. Não o acredita o prezado e almejado leitor do blog? Dirá que este bloguista é um "lusotropicalista"? Um "neoliberal"? Um "(filo)fascista"? Um "ressabiado/ressentido/invejoso"? Ou mesmo um "populista"? Ou até, como agora sói dizer-se, um mero "padeiro dos Olivais"? Não acredita mesmo? Então confirme aqui.

Lisboa alcançada. Malas amontoadas em casa. E vou às compras, à grande superfície fronteira, um estabelecimento Pingo Doce. O equivalente, por assim dizer, ao Colruyt de Schaerbeek onde abastecia parcelas do rancho até há tão pouco. Venho com os preços bruxelenses, essa Brasília da Europa, bem frescos na memória. E fico estupefacto: não só tantos dos vegetais são mais caros, os espinafres (especializei-me, entretanto, num saboroso esparregado, lembrando-me da saudosa matapa), os espargos, os cogumelos, as berinjelas, as abobrinhas (sempre galicamente ditas courgettes), com preços mais acima. E etc. Mas, e notai bem, até o pão é mais caro. O pão. Vou repetir, sem isso acompanhar com alguma praga, até o pão é mais caro.

Parcas compras feitas e vou até ao Arcadas, desde há décadas o meu café de bairro, saudoso que venho da bela imperial da casa, sem igual, vos garanto, e dos seus apreciáveis salgados. Para além do convívio, este talvez o produto mais refinado da casa. Saudações feitas o patrão logo me mostra, comentando-a, como é uso entre nós, a capa do diário - e ainda não sabia eu ter este sido visitado pela inspecção das finanças e como tal, dada a alguma mácula vasculhada, convocado a adoçar as suas relações com o poder governamental, características da nossa política que os intelectuais e teclistas avençados juraram menosprezar. A capa do diário? Meia dúzia de VIPs socialistas não foram apresentados a tribunal há uns meses, como se esperaria se seguindo as leis. E o tal PS, o partido da dupla funcional Sócrates & Costa, voa nas sondagens para a maioria absoluta.

A gasolina é mais cara do que em França, o pão mais caro do que em Bruxelas. E a malta segue trepidante, "no comboio descendente," vão todos "à gargalhada, uns por verem rir os outros, e os outros sem ser por nada", vão "todos à janela, uns calados para os outros, e os outros a dar-lhes trela, mas que grande reinação! Uns dormindo, outros com sono, e os outros nem sim nem não".

"Populista", dirão alguns intelectuais comentadeiros. "Masculino tóxico", dirão teclistas adamados e não só. Serei, isso e até pior e menos. Mas que fique claro neste meu regresso à gasta e amada Pátria: não é só a gasolina, até o pão é mais caro do que "lá fora". Acreditem, que sobre esse assunto este Padeiro olivalense segue atento.

E a malta gosta disto. Que fazer? Torre-se o pão velho. Ou açorde-se-lo, se para isso houver arte.

E que se lixe, que isto, qu'esta gente, não tem arranjo.

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub