O PCP e a Venezuela
O Partido Comunista Português é agora um pequeno partido português, decadente. Tem quatro deputados eleitos: Paulo Raimundo (o seu secretário-geral), Paula Santos, Alfredo Maia. E António Filipe - esse que chegou a ser presidente da AR, patética iniciativa simbólica no primeiro dia desta legislatura, dado ser o decano do parlamento vigente. Personalidade política execrável, como patenteou no seu apoio constante, sarcástico, inumano até, à invasão russa da Ucrânia. E que tão louvado foi quando nas penúltimas legislativas até surpreendentemente não foi reeleito, coisa dos ademanes da corporação vigente no "campo político". Estes quatro indivíduos (Raimundo, Santos, Maia e Filipe) acabam de produzir este texto sobre as eleições deste fim-de-semana na Venezuela, absolutamente laudatório do regime de Maduro.
A propósito da actual situação eleitoral troquei ontem mensagens com amigos residentes nos países vizinhos. Digo-lhes sobre este texto. Do Brasil, saído de um encontro com estudantes de ciências sociais venezuelanos ali refugiados (que não constituem um núcleo da "extrema-direita", com toda a certeza), um amigo e colega espanta-se com o rumo das gentes da Soeiro Pereira Gomes. E logo me envia um texto com a posição dos comunistas venezuelanos, linearmente avessa à manipulação do regime de Caracas.
Entretanto a missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) repudia o processo eleitoral. Na vizinhança os países reagem, de forma matizada, o que é normal face à complexidade da situação e às articulações internacionais. Os governos ditos de "esquerda" também têm posições diversas: no Brasil Lula da Silva é Lula da Silva, e já sufraga a situação; mas o Chile de Boric refuta o processo, originando conflito diplomático, e convulsões políticas no seu próprio governo (Boric tem um governo de coligação no qual está o PC chileno); enquanto em Bogotá Petro mantém o silêncio. No país há contestação popular, violentamente reprimida, e Maduro afirma os manifestantes como "drogados e mercenários". As forças armadas do país suportam o regime e denunciam o "golpe de Estado mediático". E, sempre sinal bem denotativo, não há manifestações de júbilo pela vitória.
Nada disso - a realidade, as características do regime de Maduro, a fraude em curso, a sua via repressiva e âmago cleptocrático, as próprias declarações dos seus congéneres e camaradas venezuelanos - conta para os 4 deputados do PCP, Raimundo, Santos, Maia e Filipe. Não seguem qualquer "coerência" ideológica. Nem têm - como pequeno partido de outro continente - quaisquer preocupações geoestratégicas. São apenas o que são, boçais.