O Podcast Mudo (5): imigrantes da CPLP
Num mundo feito de países cada um destes deve ser soberano no estipular dos fluxos imigratórios que decide acolher/induzir- e nisso há duas adendas: a soberania é, por definição, relativa, pois subordinada à contratualização internacional; a transposição das obrigações a ter com refugiados para essa noção muito em voga de “refugiados económicos”, é uma demagogia própria de serventuários dos sequiosos amantes de mão-de-obra desapossada, estupradores do lumpen.
Há alguns dias, na sequência da morte de imigrantes devido ao incêndio do “compound” que os albergava em plena Lisboa velha, Carlos Moedas (do qual tenho uma boa impressão) e Luís Montenegro (que me parece um evidente erro de “casting”) apelaram ao ordenamento da imigração. Logo de Belém ao Rato choveram os dichotes, ecoados pela ralé reaccionária. Mas é mesmo necessário regular a imigração, e mais fácil o é agora porque é relativamente reduzida. E isso para muito melhor acolher os imigrantes: nem se trata de os “integrar” ou “assimilar” - termos que o folclore contestatário da já velha “esquerda” multiculturalista muito contesta para efeitos da sua guerrilha onírica-, mas de os inserir, nisso estendendo-lhes ao máximo o acesso real aos direitos que uma muito decente legislação já lhes atribui.
Assim sendo, esta notícia da atribuição imediata (e com facilidade de procedimentos burocráticos) de residência anual - com a concomitante segurança que disso advém - aos provenientes dos outros países da CPLP é um grande momento. Rejubilo não só por razões ideológicas mas também pela longa convivência com os problemas tidos no acesso a Portugal, principalmente por cidadãos moçambicanos, cá dirigidos por razões pessoais, turísticas, familiares, estudantis, laborais e imigratórias. Delongas, dificuldades, desconfianças até desesperantes. E injustificadas na era que vivemos.
Enfim, estamos tão viciados no “bota-abaixo”, nacional e internacional, que nos arriscamos à distracção diante do (muito) bom que também surge. E isto é mesmo muito bom. Viva!
(Já agora, porque vem um bocadinho a propósito. Os nossos governos têm sido, e justificadamente, muito contestados. Pelas trôpegas políticas. Mas também pela mediocridade de muitos dos seus membros, gente que não se compreende como o PS desencanta - e nisso como esquecer, como exemplos paradigmáticos, a actual ministra da Agricultura, o antepenúltimo da Defesa ou o penúltimo da Administração Interna? Também por isso convirá realçar que - “até ver”, pelo menos - este ministro Carneiro - que surge anunciando este processo ainda que obviamente não seja o autor da medida, de âmbito bem mais vasto do que a sua tutela - tem sido uma boa surpresa, entre o discreto e o eficiente. “Ele” há-os…)