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Out22
O Presidente Medina e a procissão dos pobrezinhos
jpt
No próximo dia 17 de Outubro é o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Nesse âmbito a Câmara Municipal de Lisboa - e, claro, o seu presidente Fernando Medina - vai organizar uma passeata de "pobres" (agora ditos "desfavorecidos") pelas ruas da capital, dizendo que tal iniciativa quer dar "visibilidade" àquele universo social, presumindo eu que tal "visibilização" seja entendida como dotada de propriedades curativas. Ou, pelo menos, paliativas...
A iniciativa é uma co-organização da CML com uma Associação Impossible – Passionate Happenings, que há cerca de 15 anos vem colaborando com a câmara em vários actividades (eu, ainda que não purista, torço sempre o nariz a estas organizações com nomes trendy, em língua estrangeira, mas isto deve ser defeito meu).
Outra questão isto me levanta: a Câmara de Medina articula-se nesta iniciativa através dos Núcleos de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA), o que me deixa intuir que os "pobrezinhos" (aliás, "desfavorecidos") que serão "visibilizados" naquela passeata, deverão ser "mobilizados", arregimentados, através dessas instituições nas quais recebem apoio, o que deixará entender alguma redução do seu livre-arbítrio. Ou seja, serão induzidos, sentir-se-ão compelidos, à tal exposição pública.
Mas o que mais me choca nesta "procissão de pobrezinhos" é o silêncio, de facto conivente, da esquerda social-democrata, do socialismo democrático que é o núcleo histórico do PS. A actual presidência de Medina, e a anterior de Costa, fez este partido dominar a maioria da Juntas da Freguesia da capital. E onde estão agora essas estruturas partidárias, os presidentes de Junta e suas bases, refutando esta abordagem cosmética à problemática da pobreza? E - apesar de perceber o difícil equilíbrio da "coligação" geringonça que suporta o governo, e de entender os cuidados a ter com Medina, mais do que provável sucessor de Costa -, muito me surpreende o silêncio do BE e, principalmente, do PCP diante deste tipo de iniciativa, tão evidentemente poluída por uma mundividência conservadora, caritativa mesmo.
Enfim, espero que as próximas autárquicas tragam uma mudança em Lisboa - e entre outras coisas que promovam o afastamento a este tipo de entendimento das situações sociológicas na capital. Será muito difícil, apear um incumbente autárquico é sempre raro e ainda por cima Lisboa, capital de serviços, é sociologicamente "de esquerda", tende ao voto no partido de Medina.
Para que tal aconteça, e apesar de não ter qualquer militância política, desejo que centro e direita se congreguem numa candidatura sustentável, sob uma figura indiscutível e prometedora. Para isso atrevo-me a propor um nome que será surpreendente para muitos: o do actual comissário europeu Carlos Moedas. Homem muito competente, cosmopolita, e decerto que capaz de conjugar uma equipa autárquica que enfrente as questões da capital e da zona metropolitana que encabeça. E culto o suficiente para fazer a câmara afastar-se desta tralha agit-prop caritativa, acoitada pela demagogia impensante do PS.