O Sri Lanka e o Estado do Ocidente
Não há muito para dizer sobre os terríveis atentados no Sri Lanka que a imprensa não tenha já relatado (ou venha a relatar, acontecida que foi há pouco outra explosão) – talvez lembrar que nos últimos dias houve um ataque do ISIS no Congo e que a “insurgência” islamita em Moçambique se vai disseminando para sul. Entre tantos outros países onde formas super-agressivas de islamismo político se vão disseminando, isto para além das habituais formas de ditaduras políticas e intolerância sociocultural – os militantes “activistas” e “identitaristas”, bem como os Estados europeus, são completamente excêntricos, com se alheados, ao autoritarismo religioso do Islão, patente nas formas inaceitáveis de tratamento da apostasia e de perseguição dos ateus, bem como da perseguição e discriminação de minorias religiosas. Tanto nos países de maioria muçulmana como nas práticas das populações muçulmanas residentes na União Europeia “dos direitos humanos”. Alguém se interroga sobre como actuam os líderes religiosos muçulmanos em Portugal (e na UE) face aos que querem abandonar a sua religião, como pregam sobre o assunto, que pedagogia da tolerância praticam, que modalidades institucionais instauram? De facto, a liberdade de culto, um dos valores fundamentais conquistados na Europa é posta em causa no interior de núcleos crescentes da população sem que isso seja apontado pela maioria dos intelectuais dos países europeus (algemados aos pós-marxismo identitarista) e sob o silêncio (timorato) dos Estados.
Um dos grandes problemas é o do negacionismo do processo em curso. Trata-se de uma “guerra civil” islâmica, uma “guerra santa” endógena, uma enorme conflitualidade interna ao islamismo, uma religião política por excelência, talvez a mais política de todas, promovida pela desvairada violência do “integrismo”, querendo esmagar (converter ou exterminar) outras correntes. Aquilo que é um “ur-fascismo”, para usar a problemática definição de Umberto Eco. Mas também, concomitantemente, de uma “guerra santa” contra os cristãos (e também contra os hindús, mas mais calma em termos de atentados ainda que a conflitualidade latente entre Índia e Paquistão não augure nada de bom neste domínio). É tendencialmente uma guerra universal, inegociável, pois os “integristas” tudo querem, não há como negociar.
Nesse âmbito temos o supremo problema de que o “ocidente”, ao confundir democracia com “multiculturalismo” – versão secularismo, à qual em Portugal Rebelo de Sousa deu carta de corso logo que tomou posse, diante do silêncio ignorante e estuporado da classe intelectual e dos políticos (dos jornalistas já nem se fala) – não coloca o problema tal e qual ele existe. Começa isso por não o nomear, em requebros e meneios que são verdadeiramente suicidários.
O exemplo do dia, tonitruante por vir de quem vem, é a forma como Obama e Clinton se referiram às vítimas dos horríveis atentados no Sri Lanka. Repare-se bem nisto: se há um mês o desgraçado morticínio numa mesquita neo-zelandesa foi enunciado pelo ex-presidente americano como uma agressão à “comunidade islâmica” (e não aos “Adoradores do Profeta” ou aos “Adoradores do Pedregulho”), agora os atentados são por ele (e pela sua ex-vice) considerados como atingindo os “Adoradores da Páscoa” (e não a “comunidade cristã”). Nesta vergonhosa pantomina retórica reina o substrato negacionismo, o propósito de não identificar os alvos: os cristãos.
O inimigo é, evidentemente, o ur-fascismo islâmico. Mas é evidente que Obama, e os tantos “Adoradores do Obama”, são perigosos. Chamberlains actuais, nada mais do que isso.