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Dez23
O turismo em Lisboa
jpt
Há anos terei blogado aludindo a esta história mas repito-a agora, pois natalícia - dado que emanando da "voz das crianças". A minha filha teria então 7, 8 ou, vá lá, 9 anos. Viéramos de Maputo em férias. No segundo dia, idos dos Olivais, cruzámos a Baixa, entrámos na Avenida da Liberdade e inflecti rumo ao Príncipe Real. Cruzando a Praça da Alegria a petiza, impressionada com o que ia vendo, perguntou lá do banco traseiro, perspicaz mas (ainda) não irónica: "afinal Lisboa é mais pobre do que Maputo?". Tamanha a sucessão de edifícios entaipados, grafitados, decadentes, toda aquela "zona histórica" num estado tétrico, como o estava antes da explosão turística.
Este episódio vem-me muitas vezes à memória. Retornou agora, ao ver repetidas partilhas no Facebook de um texto de um evidente intelectual, clamando contra a profusão turística que arromba a "identidade" lisboeta - e decerto que nisso a portuguesa. O texto é partilhado por gente que se revê como de "esquerda", "progressista", com laivos ou âmagos daquela "interseccionalidade" da moda, e com presumível bom comércio com as fundações coordenadas pela maçonaria e com o jornal da SONAE. O poder, entenda-se,
Ora se em nome da preservação da "nossa identidade" eu escrever que muita confusão sempre me fez a disseminação por todo o país, quais cogumelos, de pequenas lojas de quinquilharia entregues a casais chineses, notoriamente incapazes de fazerem aqueles investimentos, dir-me-ão do CHEGA. Tal como se falar contra a proliferação nas "zonas nobres" das cidades de lojas asiáticas de lixo "souvenir", que evidentemente não se pagam a si próprias. E se me alertar com as preocupações de alguns - já passadas à imprensa - com a importação de núcleos de bandidagem violenta oriunda do Brasil, passivel de arrombar a "segurança", o grande bem "identitário" nacional - como sabe quem viveu no estrangeiro -, dir-me-ão "xenófobo". Se resmungar contra a opção para motoristas públicos por oriundos do subcontinente indiano, desprovidos de conhecimentos básicos para o efeito - como também a imprensa narra -, avessos a essa "identidade" popular lisboeta que é o "taxista", ainda mais "fascista" serei. Se protestar contra a inaceitável construção municipal de um templo para a crescente imigração muçulmana, sobre mim dirão pior do que Maomé proferiu sobre o toucinho. E se me passar - como sempre me passo - quando vejo nas ruas da minha cidade uma cabra de véu, assim clamando serem as outras (portuguesas ou outras, islâmicas ou de outros credos ou increias) desonradas, violentáveis e até escravizáveis, dir-me-ão até incapaz de compreender a "multicultura"....
Mas se disser mal dos "franceses", desses "europeus", que aqui vêm destruir a "identidade" da "comunidade" lisboeta, da rede dos seus "clubes" e "associações" como se estes ainda "orgânicos", então partilharão o meu texto, aplaudirão o meu "progressismo", a minha defesa da "identidade" municipal, até pátria. E se o texto estiver bem escrito até é capaz de ascender ao... "Público".
A todos estes "progressistas" de pacotilha desejo um Natal cheio de ... salmonellas nas lampreias e similares.