26
Mar24
Oppenheimer
jpt
Ainda não vi o "Oppenheimer" - desconfio sempre dos "biopic", não me lembro de ter visto um que me encantasse, e não é a chuva de óscares que me anima, ou até mesmo mais me retrai. Enfim, verei na tv, numa noite insone... Mas é tão falado que fui agora à estante buscar este livro do meu avô - mas sublinhado pelo meu pai, que lhes conheço os diferentes trejeitos -, o "Ciência e Saber Comum" de J. Robert Oppenheimer, editado pela Livros do Brasil, sem data aposta (mas de 1967 ou antes, como prova a assinatura avoenga).
É um conjunto de seis pequenos textos, as lições que proferiu em 1953 nas célebras "Reith Lectures". Alguns podem pensar que neste campo do saber textos com sete décadas estarão desactualizados. Mas não. Deixo citação de breve trecho da primeira lição, dedicada a Newton, totalmente actual:
"Verifica-se até como a ciência de grandes cientistas é aproveitada em nome desses cientistas para justificar pontos de vista e atitudes a que eram inteiramente estranhos e que, por vezes, inteiramente lhes repugnavam. Tanto Einstein como Newton criaram sínteses e aprofundamentos da natureza dos fenómenos tão convincentes e tão grandiosos que provocaram nos filósofos profissionais uma febre de reajustamento, nem sempre apropriado. No entanto, a crença no progresso material, o entusiasmo brilhante, e a relativa indiferença perante a religião, característicos do iluminismo, eram tão estranhos quanto possível ao carácter e às preocupações de Newton; o que não impediu os homens do iluminismo de considerarem Newton o seu patrono e o seu profeta. Os filósofos e vulgarizadores que erradamente tomaram relatividade por doutorina do relativismo, interpretaram os grandiosos trabalhos de Einstein como ideias que punham em cheque a objectividade, a solidez e a conformidade com a lei, do mundo físico, quando é certo que Einstein via nas suas teorias da relatividade apenas como uma confirmação do ponto de vista de Spinoza, de que a mais elevada função do homem é conhecer e compreender o mundo objectivo e as suas leis" (11-12).
E por aí adiante... Julgo que gostarei menos do filme do que deste livro. Apesar da Emily Blunt...