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Nenhures

Nenhures

08
Fev20

Os decoloniais e os nomes

jpt

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O meu nome? José Flávio. "Flávio" por nome de avô paterno. Para meu desgosto juvenil. E fui "Flávio" até à universidade, só já doutor disso me libertei. Para os amigos? "Zezé". Não "Zezé" porque "bem", "queque" ou "beto" (na velha tipologia que o MEC celebrizou). Mas "Zezé" porque Zés muitos havia e fiquei, aos 10 anos, no Maracangalha dos Olivais, "Zezé Moreira", então célebre treinador brasileiro em breve comissão no Boavista ... E, muito raramente, ainda há quem, olivalense está claro, me chame "Zezé Moreira", assim logo a desfazer-me em serôdio carinho.

O meu nome? Taveira (amputado do seguinte Pereira, por motivos de espúria economia no registo), o lado matrilinear transmontano. Trisavô capitão-mor de Mogadouro, ao que consta, bisavô "centurião de África", morto em Angola pelas sezões na ocupação de um qualquer Uíge, avô oficial do 28 de Maio. E o devido, pois patrilinear, Pimentel Teixeira, também apelido compósito. Origem? Maçãs de Dona Maria, ali para o centro do país, concelho de Alvaiázere. Nome de séculos, parece que um qualquer rústico daquela colina comprou uma carta de armas em meados de XVIII - cacique local, está visto, acontece nas melhores famílias.

O meu nome? Tal como o meu avô o fora Pimentel foi o meu pai, "engenheiro Pimentel" nos serviços, "camarada Pimentel" em tanto do resto. Porque mais raro do que Teixeira, e porque não fez a tropa naqueles seus anos 40s. Mas eu? Teixeira, desde a primeira tarde no Calhau, o alferes de Mafra a vociferar um "Sô Teixeira" isto ou aquilo, pois até aí fora o tal "Flávio" para os que não me "Zezéavam". E desde aí o meu nome? Zé Teixeira, em quase todo o lado.

Mas depois, já em Maputo, tive um chefe, delicioso, que me chamou, quando colérico ou entusiasmado, "jpt". Assim bloguei anos, o Zé Teixeira em Maputo a blogar "jpt". Um dia apareceu-me o facebook, em 2008/9. Criei uma conta para divulgar o blog em nome de "José Pimentel Teixeira" (o FB não aceita iniciais). Pouco se lembrarão disso, mas houve então uma polémica lisboeta, uns ciosos (até bloguistas, e gauchistes, claro está ...) a vociferarem contra os nomes compósitos, "cagança" ululavam ... E eu deixei cair o Pimentel, pois de facto não o uso na vida, só no tal blogal "jpt". E nos seus sucedâneos, nas coisas de teclas. Porquê? Pela tal coisa blogal, um tipo habitua-se a assinar assim ... Mas, aqui entre nós, que ninguém me ouve, também um pouco por cagança, pois de facto o uso da maioria dos compósitos é mesmo isso. Não sempre, mas muitas vezes ...

 

Porquê este longo arrazoado, quase intimista? Li ontem este artigo, "O Padre António Vieira no país dos cordiais", publicado no "Público", vero manifesto da esquerda actual. Contra muita coisa e, nisso, contra a recente estátua lisboeta do Padre António Vieira, coisa do presidente Medina, ao que julgo entender. E concordo, aquela estátua -se fosse importante - não tem ponta por onde se lhe pegue, estetica e conceptualmente, bloguei-o aquando da festarola inaugural.

Mas o artigo tem muito mais coisas, as atoardas contra o nosso passado malvado, como se esse estivesse a acontecer e fosse necessário sustê-lo. Os apelos à destruição das tralhas a que chamamos monumentos, pois demoniacamente colonialistas, como se tudo fosse Palmira, a Idolátrica. E os tão necessários elogios a Katar Moreira e a Ba, como se estes arautos do vento que passa. Opiniões, a cada um as suas ...

Mas o que adorei foi o ditirambo contra uma gente que é o "comentariado tradicional, grisalho e conservador - predominantemente masculino, branco, lisboeta e de uma certa classe social". Depreendo que falem de gente que vai à TV e aos jornais e que não aprecia o dr. Ba e a dra. Katar Moreira. E que não pugna por derrubar estátuas, bustos, igrejas, menires e sucedâneos que por aí abundam, pais afora.

O douto artigo é escrito a oito mãos. Googlei-os, aos donos das mãos: 2 brancos de sexo masculino, 2 brancas de sexo feminino (quanto ao género só eles poderão responder, julgo que esse é o paradigma agora respeitável). Ainda não grisalhos, ao que surgem. Tratam-se de quatro pessoas daqui idas para universidades americanas, nas áreas de ciências sociais e humanas [vamos ser "neo-liberais" e crer naquele vil mito liberal da "meritocracia"?]. E os quatro assinando com ... nomes compósitos.

Mas muito indignados com .... "uma certa classe social".

Isto é patético.

Bloguista

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