Alguém foi-se ao Padrão dos Descobrimentos e escreveu uma qualquer tralha. Caiu "o Carmo e a Trindade". Gente "saiu à rua" (hoje em dia é "aos teclados") arrepenhando os cabelos, rasgando as vestes, acorrendo à honra pátria, a Câmara aprestou-se a limpar a ofensa aos ancestrais, a célere Polícia Judiciária pôs-se em campo e logo desvendou ser o crime uma agressão estrangeira, assim sossegando-nos por não se tratar de uma sempre temível traição.
Todo este disparate dá-me vontade de... também bramir. Desde há imensos anos que está Lisboa (e não só) carregada dos tais grafitos. Boçais e imundos. Dizeres estapafúrdios, desenhos indigentes, rabiscos, miríades de "bastos" de todos os tamanhos e posições. Toda essa tralha amadora e morcona de facto legitimada e potenciada pela consagração - pela academia, pelas instituições estatais, pelo "gosto informado", agora até pelos construtores civis - da "street art" (de facto, uma mera "street curio"), que nada mais é do que o piroso desta era - a patética Pasionaria da Graça, os "Pierrot com lágrima" a louvar os profissionais de saúde ditos a "linha da frente" contra o Covid, etc. No fundo, tudo isto seguindo a coberto pelo culto da "intervenção".
E agora todo este "ó da Guarda!", "Aqui-d'el-rei!"? Recordo que há uns tempos o jornal "Público" (claro) publicou um artigo de 4 universitários sitos em universidades americanas. Portugueses, brancos, de meia-idade, e de nome compósito. Defendiam a prática espontânea da "intervenção" "decolonial" sobre os monumentos. E desvalorizavam os críticos dessa festança como meros "homens, velhos, brancos e de certa classe social" [burgueses, entenda-se. Ou seja, os que tendem a assinar com nomes compósitos, para quem não perceba]. Alguém deu porrada nesse "paper curio"? Nada, que ninguém se vira a esta gente dos ademanes.
Enfim, vai um ror de disparates. E nisso lembrei-me de um texto que escrevi há sete anos quando encontrei uma "intervenção" "decolonial" no ex-libris colonial em Bruxelas. Para quem tiver paciência aqui deixo a ligação.