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Nov24
Pregador Político em Moçambique
jpt
(Pregação de Luís Fole)
Breve excerto da pregação de Luís Fole, cabecilha da Igreja Ministério Divina Esperança, na qual professa e é pastor Venâncio Mondlane. Aqui abordando a situação política moçambicana.
A argumentação não me surpreende - é típica nestas igrejas do evangelismo politizado. Para alguém como eu a reacção imediata - o arrepio - nem se funda no meu ateísmo. É muito mais provocado pela adesão, radical, à laicidade - o que é algo bem diferente, tanto que esta até se pode fundar na Bíblia, naquele fundamental "dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22:21), um dito político.
Acredito que alguns daqueles (moçambicanos e também outros) que querem tomar partidos - os que optam pela legitimidade histórica do Frelimo, avessos a esta espécie de novos matsangaíssas; os que repudiam os até satânicos do Frelimo, num Glória in excelsis Deo da voz do povo - discursos pregados deste tipo alimentam as polarizações entusiásticas.
Mas há os que não têm de tomar partidos (principalmente nós, os estrangeiros). E neste sentido a problemática relevante é a de perceber as causas sociais e políticas da ressurgência nas últimas décadas da religiosidade politizada, nisso atentando que algumas destas igrejas evangélicas, pentecostais ou não, são expressões de novas religiosidades "populares", dos "descamisados". É muito mais importante perceber o significado social disso do que andar a clamar "bolsonarismos" alheios ou quejandas invectivas..., isso um pensamento paupérrimo.
Uma segunda demanda é terminológica, e liga-se com a primeira. É perceber que a "virtude" não se restringe à qualificação - bondosa ou maldosa -, uma simplificação semântica típica dos cristianismos vulgares. E assim recordar, sublinhando-o, que "virtude" significa também potencialidade. Ou seja, que dinâmicas - positivas, negativas - têm as expressões sociais, os movimentos políticos. Assim percebendo um pouco do que é que isto tudo, o real, significa.
E após isso quiçá, se cada um o entender necessário, fazer opções, "tomar partido".
Ou então, como bom ateu, ser bíblico num "não há nada novo debaixo do Sol" (Eclesiastes 1:9). Neste "pessimismo antropológico" que alguns apupam como de "direita" E que eu considero ser mera lucidez. Amesquinhada.