29
Ago24
Regresso aos DVDs
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É importante louvar "isto" enquanto por cá se anda. Mais que não seja para que não aparente eu ser um velho cansativamente negativo... Nisso não caindo na cantoria das utopias metafísicas, tais como aquela da insuportável, de insustentável, "felicidade". Mas sim saudando o fruir, esse que se vem com a aparência material é mesmo obrigação moral.
Há dias recebi uma encomenda postal, contendo este dvd do "Notting Hill", enviada por uma boa mas bem longínqua amiga, carinhosamente irónica no dito "directamente das ruas de Maputo" - dvd pirata, pois então, como lá abunda(va)m - "pois não quero que te falta nada", sabedora da minha militante (e eterna) afeição por aquele "indefinitely" da Julia Roberts...
Acontece que o meu leitor de dvds se estragara há muito tempo, e já o remetera para o apropriado lixo. Em roda de amigos narrei o caso - orlando-o, sou franco, com laivos de gabarolice, espúria como esta sempre o é, naquilo do "ainda há miúdas, e bonitas, que me mimam". Logo um velho amigo, rindo-se, me resolveu o caso "não seja por isso, tenho um leitor velho a mais, dou-to", e dias depois retornou à esplanada do bairro com a máquina.
Ontem fui a um aniversário, e contei a historieta, enquanto vasculhava as estantes do casal cinéfilo. "Então leva já este, que é o melhor filme do mundo", diz o aniversariante, dono do ali repetido "Leopardo" de Visconti. O qual já não revejo há uns bons anos.
Depois, em modo breve, aflorou-se Delon, e foi bom ver gente "de esquerda", e muito letrada, desprovida do cretinismo abespinhado com o actor agora morto devido às suas ideias políticas. Pois não são destes folclóricos de agora, incapazes de perceberem o mandamento "Para que tudo fique na mesma, é preciso que tudo mude", com que Lampedusa prenunciou (e denunciou) estes patetismos de agora, os "cancelamentos" com que se intumescem.
Enfim, sigo agora - hoje à noite -, bem para além dessas gentes minudências. Pois para rever o baile no Leopardo de Visconti. Nesse belo louvando as dádivas recebidas.