Submissão, Michel Houellebecq
Começa bem, a trama (que é conhecida) é interessante - e actual. Depois, a páginas dezenas torna-se... muito francês. Sim, o livro é de um francês sobre França. Mas há os tiques narrativos, de personagem, até indizíveis - em texto curto e não reflexivo/comparativo -, que são "déjà vu".
Mas uma das decisões para o Ano Novo foi esta: ler mais e mais disciplinadamente, menos flanar sobre os livros. Ou seja, aceitá-los como são, acompanhá-los. Terminá-los (pelo menos se algo interessado). Seguirei então, a ver o que acontecerá à "França" (à Europa) e ao enfastiado docente universitário que a simboliza.
Mas, repito, começa bem. E até me recorda os meus resmungos ali por meados da década de 1980: "Como se sabe, os estudos universitários da área de Letras não conduzem a praticamente nada, excepto, para os estudantes mais dotados, a uma carreira de professor universitário na área de Letras - em suma, a situação bastante bizarra de um sistema sem outro objectivo senão reproduzir-se a si próprio, tudo acompanhado por uma taxa de insucesso superior a 95%.
Porém, trata-se de estudos não nocivos que podem até apresentar uma utilidade secundária. Uma jovem candidata ao emprego de vendedora em lojas Céline ou Hermès deverá naturalmente, e em primeiro lugar, cuidar da sua apresentação; mas uma licenciatura ou uma pós-graduação em Letras Modernas poderá constituir um trunfo complementar e, à falta de competências úteis, garantir ao empregador uma certa agilidade intelectual, abrindo a possibilidade de evolução na carreira - tendo a literatura, além disso, desde sempre, uma conotação positiva na área da indústria de luxo." (16).
(Michel Houellebecq, Submissão, Alfaguara, 2022 [2015])