01
Dez20
Eduardo Lourenço
jpt
A sorte não foi ter este livro em casa mas sim tê-lo lido, muito jovem ainda. E depois passar a olhar tantos dos circundantes, sem qualquer soberba mas com a percepção de que "estes não leram o Lourenço", aquele, alguns textos até ainda dos finais dos 1950s! Forma de me ter feito português, minha identidade. Coisa essa a que ele voltou recorrentemente, e que fui lendo - claro que já sem o encanto da descoberta "teenager", até porque cada vez mais afastado do estilo (e daquele psicologismo ou, melhor, "psicanalismo"). Já trintão muito sorri quando Lourenço, no seu estilo até plácido, de facto zurziu o fim de século "lusófono" dos seus compatriotas - e correligionários. Que me lembre ia só nisso, para além do muito mais ácido Alfredo Margarido, olhando aquela incultura lisboeta.
Vi-o há poucos anos, na Gulbenkian, numa implícita homenagem rodeada de "decoloniais" que (nada) paradoxalmente ali se congregavam a saudar o império, os "patrimónios de origem lusa", enredados numa radical inconsciência. Nada disse sobre tal coisa, talvez já não lhe fosse importante. E então já era o ilustre posfaciador do Senhor Engenheiro. Não teria precisado de nada daquilo. Mas preferiu assim. O tanto que demonstrou sobre nós todos é muito mais importante do que essas minudências do longo ocaso