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Nenhures

Nenhures

10
Jan20

Fazer da vida "Um voo cego a nada"

jpt

ilha moç.jpg

Na era blogal, aquela primeira década de XXI, raros eram os blogs portugueses que se debruçavam sobre Moçambique de modo interessante. Havia, claro, entre esses alguns tão poucos, o Um Voo Cego a Nada, que seguia sob o verso do grande (e tão esquecido) Reinaldo Ferreira: 

Eu, Rosie, eu se falasse eu dir-te-ia / Que partout, everywhere, em toda a parte, / A vida égale, idêntica, the same, / É sempre um esforço inútil, / Um voo cego a nada. / Mas dancemos; dancemos / Já que temosA valsa começada / E o Nada / Deve acabar-se também, / Como todas as coisas. / Tu pensas / Nas vantagens imensas / De um par / Que paga sem falar; / Eu, nauseado e grogue, / Eu penso, vê lá bem, / Em Arles e na orelha de Van Gogh... / E assim entre o que eu penso e o que tu sentes /A ponte que nos une - é estar ausentes. 

O Um Voo Cego a Nada fora pioneiro, começado em Julho de 2001, antes da onda bloguística se generalizar. E tornou-se veterano, resistiu às modas, flutuações, mudanças. Sempre esteve ali, no mesmo endereço, coisa tão rara nos blogs. O seu autor, um tipo letrado, nitidamente plácido e atento - pois, claro, "cego a nada" ... -, homem (também) de gatos e banda desenhada, vinha com uma bela visão do real, e nele fez o seu diário de "visualizações", das atenções havidas, leituras, memórias, episódios, sem agendas ou manifestos, e que ele considerava uma espécie de diário aberto, um lugar que me dá, ao mesmo tempo, o aconchego da intimidade e a liberdade do anonimato ... Como era a intenção original deste suporte, a de se fazerem diários de bordo, descomprometimento que tantos de nós, bloguistas, desconseguimos continuar, na volúpia do falar de cátedra. E sempre me atraía o que notava sobre Moçambique, país onde crescera - e onde tem família, lá pela Ilha - , num olhar de memória sem saudosismos, de atenção sem revanchismos, de interesse sem ressabiamentos, derivas essas tão presentes em tantos outros sítios, blogais e não só, nos quais o fel do após-império tantas vezes brotava. Um olhar de carinho e encanto que encontrei também no À Sombra dos Palmares, antiquérrimo blog de excertos literários de autores em Moçambique, que se não lhe pertenceu poderia ter pertencido - aliás, sempre associei os dois blogs mas não comprovei, nunca perguntei.

O Um Voo Cego a Nada acabou agora, o autor não resistiu à maldita doença que há tanto o devastava. E que foi, sem rebuço, explicitando / lamentado ao longo dos últimos tempos.

Bloguista

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