Os Adetos do Manchester United
Francamente não sei o que será pior. Se a partida do Rúben Amorim (e do Hugo Viana) para Manchester, se o imbecil e "lusófono" AO90.
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Francamente não sei o que será pior. Se a partida do Rúben Amorim (e do Hugo Viana) para Manchester, se o imbecil e "lusófono" AO90.
Em tempos muito bloguei contra o AO90 - tinha então a cândida esperança de que a intelectualidade portuguesa empurrasse o poder político até uma consciência de si mesmo. E, nisso, do espúrio anacronismo do ideário imperial que motivou o Acordo Ortográfico. E, ainda, para os mais iluminados, dos seus efeitos negativos na capacidade dos portugueses se fazerem entender entre os outros falantes da língua. Enfim, o Acordo Ortográfico não é, nem de perto nem de longe, o fenómeno mais gravoso deste regime (e muita da argumentação que lhe era e é avessa, de tom escatológico e grandiloquente, é até contraproducente). Mas será o facto mais facilmente ilustrativo da incompetência intelectual, inércia executiva e, acima de tudo, falta de visão ("estratégia de desenvolvimento", "projecto", "desígnio", termo a escolher consoante o ideário do locutor) sobre o país que habitam na mole de políticos portugueses deste regime.
Agora que no Delito de Opinião o Pedro Correia (re)apresenta a série Acordo Burrográfico, lembrei-me de um dos (inúmeros) casos diante do "acordês", e que me serviu para um carinhoso pois paternal postal, há já uma década. Eu sei que posso parecer (e ainda hoje) um pai coruja, mas ainda assim pergunto-me: se a minha querida filha, aos seus 9 anos, já tinha aquela compreensão, como é possível que os insignes e ilustres Professores que ascendem às mais altas posições do Estado não o entendam? Desiludam-se os que nisso vêem (atrapalhadas) razões de política externa, como o trôpego historial internacional deste AO90 pode deixar entender. Pois, de facto, toda esta continuidade "acordista" apenas se deve a ininteligência, mediocridade individual. Deles próprios, e daqueles que os içam a tais palanques.
Enfim aqui replico o tal postal de 27.3.2012:
Esta semana terminou o segundo período de aulas do ensino português. Estive a corrigir o teste de matemática com a minha filha (9 anos, 5º ano). Num dos problemas estava questionada a "semirreta". Brincando li "semirrêta". A Carolina, que sabe destas minhas embirrações, mas ainda não tem idade para perceber que estas são mais com os admiradores serôdios do Acto Colonial, sonhando-lhe avatares, veros sobrinhos-netos de Salazar e netos de António Sérgio, mas sem o brilho dos antepassados, corrigiu-me com uma "semirréta". "Eu sei", confirmei, "estou a brincar!".
Ao que ela, certeira, e boa aluna, me respondeu: "a professora de português disse que o acordo ortográfico não muda a maneira de falar". Ao que eu lhe ripostei "e como aprendes tu a falar?". "A ler?!", percebeu ela. Aos nove anos.
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