Gal Costa
Modinha Para Gabriela - Gal Costa (Gabriela) 1975
Houve uma época - um pouco cândida - em que o "Brasil" era importante. A omnipresente "Livros do Brasil", as prateleiras de todas as casas pejadas nem tanto de Machado de Assis mas obrigando-se a Lins do Rego, Veríssimo, o pai Erico, Jorge Amado - ao qual alguns, e nem tão poucos assim, não perdoavam ter-se tornado quase Lampedusa, no "tudo mude para que tudo se mantenha", naquilo de ter inflectido na presciência de ser Mundinho Falcão afinal igual a Ramiro Bastos -, o poeta de Andrade, mais o "Chico" de "Tanto Mar", o enorme Milton, o Caetano - do qual ainda nem sabíamos a demagogia nativista -, enfim a MPB exultante e ainda chegariam o excêntrico Hermeto, o gigante Gismonti, a Cor do Som e etc, para além do sempre rei Roberto Carlos (e o meu "Portão", ao qual apenas ascendi nos anos 90s, já com idade para me comover nas alvoradas), esse que os "bem-pensantes" já então "cancelavam" devido à pirosice que lhes é natureza. E o tão esquecido Josué de Castro, presente nas prateleiras daqueles que olhavam o mundo - tão diferentes esses dos pacóvios d'agora, liberais "chic" ou "pós"-marxistas ..., avessos a prescrutar o mundo que se escapa às certezas de manual que apregoam.
E foi essa também a era desta "modinha", que nos encantou, arrebatou para um outro mundo tão mais rico e saboroso. Gal Costa morreu agora, e a nós faz-nos imensa falta outro choque, sem manifesto nem panfleto, como "Gabriela" o foi. Quanto àquele Brasil não sei o que lhe aconteceu, há muito que dele não ouço falar. Nem quero. Morreu Gal Costa, vou ouvir a minha juventude: