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Nenhures

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Há já um bom par de anos abri uma conta na academia.edu, uma rede social de cariz académico, algo mais soturno, menos dialogante, do que as outras "redes", mais festivas e/ou assertivas. Lá fui deixando textos meus que -. passe a cagança - julguei (e julgo) um pouco mais significantes. Ou seja, que possam sobreviver um poucochinho de tempo. Alguns de cariz profissional, outros nem tanto... E tenho no computador uma dezena de textos mais compostos, que me exigem ligeiros retoques para os colocar lá.
 
Ontem convoquei um texto de há quase uma década que lá guardara. E ao entrar na conta notei numa curiosidade - ainda mais o é para quem goste de números redondos. É mesmo uma curiosidade pois não ganho rigorosamente nada, material ou simbolicamente, com isso. Mas tem piada. Isso de a minha conta ter ali 5555 inscritos!
 
O que é, afianço para quem não conheça aquela rede, uma monstruosidade. Ainda para mais sendo eu um mero furriel passado à disponibilidade, que escreve em português e sobre coisas algo excêntricas para os interesses predominantes (laivos de antropologia, centrados em temas moçambicanos).
 
É certo que este número pouco diz sobre as leituras reais. E menos ainda sobre o apreço alheio pelos textos. Mas ainda assim?, 5555 inscritos!? Sorri, cagão (repito). E abri uma garrafa de tinto Cabriz (colheita seleccionada 2020), um vinho médio um pouco acima das minhas actuais posses. E com uma taça meio cheia agradeço, o tal cagão mas humilde, a quem tem a paciência de ir ler as minhas tralhas.

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Rotineiras razões médicas levaram-me a Moscavide, tétrica localidade vizinha pois nas cercanias do Trancão. Na qual encontrei este estabelecimento, presumo que sede da consagrada sucursal olivalense "Casa de Frangos de Moscavide", esta sita no Largo do (saudoso) "Ferrador", relevante estabelecimento comercial que durante décadas nos convocou a "percorra Portugal de lés a lés, com meias Ferrador nos pés".

Tendo sido surpreendido, nisso impressionado, por esta "instalação", verdadeiro item de arqueologia urbana, fui assomado pelas recentes memórias, essas que inundam a imprensa, o do ressurgimento do "affaire Coimbra". Pois agora - na sequência de uma suicidária tentativa de censura de um artigo já publicado, como noticia o "Diário de Notícias" (e, já agora, como é grotesco ver a abjecta Fernanda Câncio no encalce de uma mulher que defende um homem acusado de más-práticas) - surgem dezenas de urubus "decoloniais" esvoaçando sobre a fétida carcaça do "abissal" ex-quarentão amante de Enver Hoxha, o tal Boaventura que consta meter a mão na pernoca das alunas, e grasnando histéricos contra o "extractivismo intelectual" que sobre essas coxas larocas ele - pelos vistos - exerceria. Sendo que alguns desses desses gramscianos orgânicos, 40 até, e vários deles até putativos africanistas, emanam da sede boaventuriana, após anos e décadas de silencioso conúbio com os atrevimentos do "Mestre" e a sua constante defesa das ditaduras mais abjectas, nesse aldrabão e desvairado (pós)comunismo anti-ocidental. Mas que agora, com escandalosa impudicícia, surgem mui corajosos na "denúncia" do tal "extractivismo" e quejandos pecados, pecadilhos e, acima de tudo, imensos dislates, do anti-democrático chefe, sábio de retórica sedutora na agregação de financiamentos. Para gente que desde há anos medra sob o arguto moleiro Sousa Santos é caso para lhes atirar o evidente "tarde piastes...". Ou, de outro modo, comeram-lhe da carne mas não lhe roem os ossos, os mariolas.

Mas enfim, o que venho aqui dizer - após ter chegado aos Olivais, fugido das redondezas da sede da "Casa de Frangos de Moscavide" - é sobre esse "extractivismo intelectual". Digo-o com o saber de experiência feita, "muitos anos a virar frangos": nas disciplinas retóricas, aliás ciências sociais, só os franganotes podem ser alvo de "extracção intelectual". E há muitos franganotes que se acoitam nas capoeiras dos galarós. Depois queixam-se? Churrasco com el@s, como agora tanto eles gostam de escrever, na sua patética empáfia libertária. Para mim que venha o churrasco com bastante piripiri, por favor. Para disfarçar o agreste sabor do desprezo.

 
[Marc Augé] L'anthropologie aujourd'hui
 
Por vezes resmungo com a imprensa "de referência" portuguesa, cheia de aparências "cultas", e nisso de obituários do showbizz ou de cortesãos, "aparatchicos" tantos deles. Alguns dirão "lá está o reaccionário". Seja!
 
Pois é no Facebook - essa malvada "rede social", tão invectivada por ser território de falsidades e futilidades - que vejo a notícia da morte do grande Marc Augé! Há já quatro dias! Googlo e notícias lusas inexistem - e o que o Google não mostra é porque não existe. Incrível, não só pela notoriedade de Augé como pelo facto dele ter sido dos poucos antropólogos publicados em Portugal - já naquela velha colecção de "livros pretos" das Edições 70 (não os tenho aqui mas pelos menos foram editados o "Domínios do Parentesco" e "A Construção do Mundo" - este último por ele organizado). E depois, mais recentemente, foram sendo publicados vários dos seus livros, isto sob o lema que lhe deram, o de "antropólogo do mundo contemporâneo".
 
Enfim, não me vou por a fazer aqui um "obituário" e muito menos uma eulogia - para o fazer a um homem destes faltar-me-ia o "engenho e a arte". Que algum mais graduado o faça, se alguém o entender. Mas já que os "de referência" nada disseram partilho aqui uma sua palestra, "A Antropologia Hoje" - ele começa a falar aos 13'40''. Lamentavelmente o filme não tem legendas e isto fica para francófonos - atenção, Augé tinha uma bela dicção, quem percebe um pouco de francês poderá acompanhar sem problemas o seu pausado e claro falar.

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João Pina-Cabral é um dos antropólogos portugueses mais proeminentes - e avanço isto não para o mimar mas porque a disciplina segue bastante clandestina em termos públicos e sendo assim é normal que os seus grandes nomes não sejam muito reconhecidos, contrariamente ao que acontece no universo das disciplinas "primas", mais dadas às "luzes da ribalta".
 
Cresceu parte da sua meninice e adolescência em Moçambique, onde o seu pai era figura relevante do clero anglicano. No início de XXI voltou ao país para leccionar na UEM. Destas últimas estadas resultou um conjunto de textos sobre o país. Há pouco coligiu 13 desses artigos neste "Transcolonial".
 
É um livro problematizador - o melhor que se pode pedir a um livro de antropologia, pelo que dispenso-me de outros requebros e adjectivos. Amanhã, 2.6.23, será (re)apresentado na Feira do Livro de Livro às 19 horas no pavilhão da Imprensa de Ciências Sociais.
 
Deixo aqui o anúncio tanto para os que estejam nas cercanias e se interessem por temas moçambicanos como para aqueles - até das tais disciplinas "primas" - que tenham interesse nas abordagens dos antropólogos. E seria interessante congregar um núcleo heterogéneo para debater o livro.
 
(Nota pessoal para os mais desconfiados - e assim potencialmente renitentes: eu disse que o livro é "problematizador" mas convém juntar que - aleluia - não se trata de "activismo". Ou seja podem ir, podem ler...)

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