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Nenhures

Roman Sanguszko, príncipe.

"This looks like mere fanaticism. But fanaticism is human. Man has adored ferocious divinities. There is ferocity in every passion, even in love itself. The religion of undying hope resembles the mad cult of despair, of death, of annihilation. The difference lies in the moral motive springing from the secret needs and the unexpressed aspiration of the believers. It is only to vain men that all is vanity; and all is deception only to those who have never been sincere with themselves".

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, 218)

(antes deixado aqui)

"...patriotism - a somewhat discredited sentiment, because the delicacy of our humanitarians regards it as a relic of barbarism ... It requires a certain greatness of soul to interpret patriotism worthily - or else a sincerity of feeling denied to the vulgar refinement of modern thought which cannot understand the august simplicity of a sentiment proceeding from the very nature of things and men". 

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, p. 206).

 

 

Neste Fevereiro cumpre-se um ano de guerra na Europa. A qual vem implicando um enorme esforço assente no "patriotismo", o ucraniano. E é interessante ver como na Europa, e por cá, a extrema-direita "soberanista" logo se tombou por simpatias pela força imperial agressora contra o que sempre diz defender, as tais nações, nisso confluindo com a esquerda comunista, esta que sempre se reclama de avessa aos "impérios". Sendo os democratas, mais ou menos confederativos, os grandes apoiantes desse esforço patriótico. De como a realidade bem mostra a falácia das demagogias.

joseph_conrad_part.jpg

"It was the dead of winter. The great lawn in front was as pure and smooth as an Alpine snowfield, a white and feathery level sparkling under the sun as if sprinkled with diamond-dust, declining gently to the lake - a long, sinuous piece of frozen water looking bluish and more solid than the earth. A cold brilliant sun glided low above and undulating horizon of great folds of snow in which the villages of Ukrainian peasants remained out of sight, like clusters of boats hidden in the hollows of a running sea."

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, pp. 207-208)

- Sobre o britânico Joseph Conrad e polaco Józef Korzeniowski, e nisso também sobre suas ideias relativamente à Rússia, ver este interessante artigo, muito recorrendo à sua correspondência: "Conrad and European Politics", de Sylvère Monod

(Deixara esta citação há muitos anos no ma-schamba)

manuel-maria-barbosa-du-bocage-estátua-do-poeta-e

Aqui deixo informação que me chega da vizinha e ciosa capital sadina: hoje é o dia de Bocage, pois o do seu nascimento (1765), e nisso feriado setubalense. 

Leigo que sou nessas coisas literárias ainda assim me parece que o poeta segue destratado. Nem tanto esquecido, pois é ícone dos brejeiros literatos. Será mais poeta reduzido, espartilhado pelo tom pícaro das memórias que se lhe dedicam. Enfim, não serei eu a fazer-lhe justiça, deixo apenas dois dos seus poemas de que muito gosto:

 

O Ciúme

Entre as tartáreas forjas, sempre acesas,

Jaz aos pés do tremendo, estígio nume,

O carrancudo, o rábido Ciúme,

Ensanguentadas as corruptas presas.

 

Traçando o plano de cruéis empresas,

Fervendo em ondas de sulfúreo lume,

Vibra das fauces o letal cardume

De hórridos males, de hórridas tristezas.

 

Pelas terríveis Fúrias instigado,

Lá sai do Inferno, e para mim se avança

O negro monstro, de áspides toucado.

 

Olhos em brasa de revés me lança;

Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado

Ferrando as garras na vipérea trança.


******


Vós, crédulos mortais, alucinados
de sonhos, de quimeras, de aparências
colheis por uso erradas consequências
dos acontecimentos desastrados.

Se à perdição correis precipitados
por cegas, por fogosas, impaciências,
indo a cair, gritais que são violências
de inexoráveis céus, de negros fados.

Se um celeste poder tirano e duro
às vezes extorquisse as liberdades,
que prestava, ó Razão, teu lume puro?

Não forçam corações as divindades,
fado amigo não há nem fado escuro:
fados são as paixões, são as vontades.

kipl.jpg

Há um mês uma actriz de telenovelas entrançou o cabelo e logo se desencadeou a polémica - a qual não se deveu à sempre aludida "estação parva" mas sim à evidente "era tonta" à qual alguns nos querem vincular. Entre académicos e activistas lá se fizeram ouvir os argumentos do costume, e mesmo "autocríticas públicas" até pungentes - e as declarações do músico Agir disso foram um caso paradigmático. E nessa mostra o músico, e os tantos que com ele concordam, a involução intelectual sofrida no país. Desde que alguém perguntou "Pode alguém ser quem não é" e à questão lhe juntou "A corda d'um outro serve-me no pé / Nos dois punhos, nas mãos, no pescoço," até este actual patético exemplo de contrição por "apropriação cultural" feito por um músico de ascendência portuguesa que se tatua e faz jazz. E que pode ir actuar à Festa do "Avante" sem ali aventar a impertinência das "opções de classe" do doutor Álvaro Cunhal ou do engenheiro Carlos Carvalhas, entre tantos outros - tema, de facto, similar e que há algumas décadas era brandido por estupores similares aos de hoje.

("Not appropriate": Boris Johnson recites Kipling poem in Myanmar temple)

Enfim, a nossa historieta do final de Julho fez-me lembrar Kipling. Sei que brandir o "campeão literário" do colonialismo britânico é, hoje em dia, algo desconfortável - e ao ver-me com o livro que abaixo citarei a minha filha deu-me, com bonomia, a conhecer este delicioso episódio de Boris Johnson em visita à Birmânia em 2017, citando o clássico colonial Mandalay , algo "not appropriate" diz-lhe, com a fleuma possível neste pós-império, o embaixador britânico.

Mas ainda assim recupero Kipling, a entrada do pequeno conto "Para lá da cerca", um passeio sobre os males da interracialidade, a bárbara crueldade oriental e a imoralidade ocidental desencadeadas pelo "pular da cerca", pela "incorrecção" dir-se-ia hoje, do inglês Cristopher (claro) Trejago: 

"Haja o que houver um homem deve manter-se fiel à sua casta, raça e credo. Que o branco continue a ser branco e o preto, preto. Assim, o que quer que ocorra de mal faz parte do curso natural das coisas - não é repentino, nem estranho, nem inesperado." ("Para lá da cerca", Três Contos da Índia, 2008, p. 11. Tradução de José Luís Luna). 

Ou seja, e para estes muitos d'agora, Kipling afinal é "much appropriate"...

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