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Nenhures

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1. Um amigo envia-me o artigo desta semana de António Barreto, também embrulhado num "lê". Clarividente sobre o PS este "Santos e diabos. Polícias e ladrões" que o autor, como sempre, colocou também no blog Sorumbático.

2. Enviaram-me o artigo dizendo-me "lê". E eu li, a coluna de Clara Ferreira Alves no Expresso desta semana. Texto algo escatológico. E que (também) deixa isto: "o Congresso do PS foi um festival de onanismo".

Expresso

3. Ao final do dia é uma jovem portuguesa, mais do que potencial emigrante, que me chama a atenção para uma notícia no "Expresso" - sabendo ela que eu não leio o jornal, nem mesmo o folheio. Diz-me ela que pela sua experiência - os conhecimentos da sua geração - deve até pecar por defeito essa perspectiva de que 30% dos jovens (até aos 39 anos) já emigraram.

O que seria inacreditável - se a realidade não nos obrigasse a acreditar nisso - é que nos últimos 30 anos praticamente só um partido governou. E o fruto deste regime, do conjunto de políticas económicas mais ou menos (des)articuladas que esse partido vem executando, é isto. E não só a sociedade, conservadora, envelhecida, timorata, continua a nele votar como nos seus agentes acredita. E continuam a dizer, tantos os seus avençados como os seus adeptos pagadores de impostos, que a emigração foi no tempo do ... outro (já agora, esse outro que governava um país esmagado pelos constrangimentos do FMI/BM/UE, dada a crise que governo anterior muito alimentara).

O grau de inconsciência dos portugueses - melhor dizendo, dos portugueses que por cá ficam a residir - é incomensurável.

(Aqui junto postais que coloquei no Delito de Opinião: 1, 2, 3)

Blog_(1).jpg

No dia exacto não me lembrei disto, assim falhando a efeméride pessoal, mas notei-o agora. A 3 de Dezembro fez exactamente 20 anos que comecei a blogar, lá de Moçambique integrando-me naquela vaga blogal que cá aconteceu em 2003. Primeiro no ma-schamba, que alguns anos depois se tornou colectivo. Depois, já em Portugal, no Courelas (o mesmo que ma-schamba...). Depois, sozinho, no O Flávio e agora no Nenhures. Entretanto também estive no colectivo sportinguista És a Nossa Fé e estou no Delito de Opinião.

Ou seja, isto de blogar tornou-se-me uma mania. 20 anos de verborreia - durante longos períodos até diária - deu para escrever muita tralha, inútil, às vezes até injusta, imensas vezes injustificada. Mas outras vezes acertei, releio e canto "rio-me de me ver tão bela nesta espelho". Por isso recolhi textos que estão esquecidos nos blogs - os quais não apago, até porque o tema dos arquivos dos blogs sempre me foi importante, ainda que me pareça ter isso sido descurado pelas instâncias arquivísticas nacionais. E dessa amálgama fiz este ano dois volumes que gostaria de tornar livros (vanitas vanitatum et omnia vanitas), um de crónicas de viagens e memórias, que seria (ou será, se vier a acontecer) um "Torna-Viagem", um outro de resmungos que julgo terem sido certeiros, a ser um "O Podcast Mudo". A ver se arranjarei editora para tais coisas, desde que não as pague eu, pois não tenho paciência para esse negócio - hoje em dia viçoso, ao que parece - de cobrar ao autor para lhe publicar o futuro mono e depois ainda o obrigar a impingir os exemplares aos desgraçados amigos, pobre gente que se deixa ir nisso.

Mas para relembrar o meu início blogal aqui repito o meu primeiro postal, este "Lavoura". Faço-o, por saudosismo. Mas também para convidar à leitura do grande Ruy Duarte de Carvalho, magnífico escritor, antropólogo e também cineasta.

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"...a lances de catana e de machado desfaz a rama e a trama dos espaços virgens. Prepara um espaço para a nova lavra, esgotado o humus de uma lavra antiga. Alarga a circunferência de chão raso. Devolve o sol à terra e dá-lhe a mansa forma de um corpo fecundável e passivo. O tronco nu progride mata a dentro. Governa os braços firmes e velozes, confere exactidão ao gesto azado. E os fustes, gemem, fendidos pelo golpe. Martela, vigoroso, a rijeza maior de alguns dos paus, depois transforma em lenha as copas derrubadas..."

(Ruy Duarte de Carvalho, Como se o Mundo Não Tivesse Leste, Cotovia, p. 117 )

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Este Setembro é um bom mês para se ler chilenos. Herdei uma resma deste, do qual só lera um livro - e sem grande encantamento -, e pego-lhe agora a ver como aquilo ia. Vou ficar mais um bocado:
 
"A sociedade fica estranha quando nos aproximamos dos sessenta anos: falo de livros que os outros não leram, e os outros falam de livros que não me interessa ler." (Luís Sepúlveda, Histórias Daqui e Dali, Porto Editora, 2010, p. 45).

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"Para as 6 cordas", um pequeno conjunto de canções (milongas) de Jorge Luís Borges. Nunca o lera, escondido que me estava num dos tomos das suas Obras Completas, o II (publicado pela Teorema, 1998). Precioso...

Por exemplo: "Como é seu hábito, o Sol / brilha e morre, morre ardente / E no pátio, como ontem, / Há uma lua esplendente, / Mas o tempo, que não pára, / Todas as coisas ofende - / acabaram-se os valentes / E não deixaram semente (...) - Não se aflija. Na memória / Do tempo ainda não presente / Também todos nós seremos / Os primeiros resistentes, / O ruim será generoso / E o frouxo será valente : / Não há coisa igual à morte / Para melhorar a gente."

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"Assim que viu o Helesponto inteiro coalhado de navios, todas as suas margens e as planuras de Ábidos cobertas pelos seus homens, Xerxes felicitou-se a si próprio, mas em seguida, chorou. Logo que se apercebeu disso, Artábano, aquele que anteriormente aventara livremente a opinião de que não era aconselhável marchar contra a Grécia, esse homem, ao notar as lágrimas de Xerxes, disse-lhe: "Ó Rei, como é diversa a tua atitude de agora e de há pouco! Há momentos felicitavas-te, agora choras!" "É que me veio ao pensamento - disse ele - lamentar a brevidade de toda a vida humana, uma vez que, de tantos homens que aqui estão, dentro de cem anos, nem um só sobreviverá." Artábano respondeu: "Ainda sofremos outra calamidade mais deplorável ao longo da vida. É que, sendo ela tão curta, não há homem algum tão feliz, nem dos que aqui estão, nem de outros, a quem não suceda, muitas vezes, e não uma só, preferir morrer a viver. As desgraças que se abatem sobre nós e as doenças que nos afligem fazem com que a vida pareça longa, a despeito da sua curta duração. E assim a morte se tornou para o homem o refúgio de eleição contra tão penosa vida. E o deus, depois de nos dar a provar um pouco a doçura da vida, nisso mesmo mostra a sua inveja."

[Heródoto de Halicarnasso, Histórias, Livro VII (tradução de Maria Helena da Rocha Pereira)]

(Publicado no ma-schamba, 28.6.2006)

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