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Nenhures

Nenhures

15
Mai23

Divagações nas Delongas

jpt

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“Um verdadeiro triunfo!, esta minha vinda à Colômbia”, concluí eu ontem à noite (já longa). Pois a Iberia fez por mim - e quero desconfiar que a pedido de forças sociais relevantes - o que a TAP se recusou a fazer pelo presidente Marcelo em Maputo: adiou o voo Bogotá-Madrid, atrasando-me o regresso à Pátria Amada, soube-o cerca de meia-hora depois do horário previsto para a partida.

Disso avisou a sala de embarque bem preenchida. Logo a mole viajante se foi levantando em busca de informações. Aí começou o Show Iberia, tantos traços culturais activados - quiçá resquícios da pujante mente imperial que fermentou a Invencível Armada (aérea?) - e tão vistosos que até ressuscitaram o meu saudoso “olhar distanciado”. Pois a segunda informação emitida foi a convocatória para que todos se sentassem!, escolar reprimenda recebida com audível desagrado pela moldura humana…

Seguiram-se duas horas, entrando-se já neste dia seguinte, de silêncio substantivo polvilhado de comunicações vácuas. Mas o interessante é que a Iberia - no aeroporto internacional de Bogotá, num voo para Espanha, com passageiros de várias nacionalidades - passou a comunicar apenas em castelhano. Diante do caos esqueceram-se do habitual bilinguismo das companhias aéreas… Passada uma hora daquilo, distraída no meu “broken english” a traduzir aquele efectivo silêncio a suíços, alemães, franceses e algum etc. que incluía até… colombianos, lá fui aconselhar os proto-desvairados funcionários que seria de regressarem às informações em inglês. Para compreender que os pobres não estavam em abissais e linguísticas reclamações “hispânicas” ou “indígenas”, quais activistas do CES da Lusa Atenas. Mas que apenas vão tão pouco pujantes na língua dos gringos como sigo eu…!

Enfim, lá seguimos para um hotel. O que implicou tornar a passar pelo controlo de fronteiras, em fila escoltada pelas tão atrapalhadas assistentes da Iberia. Um rancoroso agente invectiva-me em busca do carimbo de saída com que o meu passaporte deveria ter sido brindado horas antes. “Não sei”, digo-lhe três vezes. Na quarta vez que me pergunta o mesmo, do porquê de estar eu ali sem carimbo de saída, espadachando o meu passaporte na minha cara, digo-lhe no meu ridículo portunhol “não sei, é o seu trabalho, tem de saber como eu estou aqui assim!”. Irrita-se, tira-me da fila, entrega-me a duas dessas assistentes Iberia, e enquanto punhados me ultrapassam estas vasculham-me o documento, clamando - tornando-se assim ainda mais feiosas do que são, nisso mérito delas, não ganharam o emprego devido ao palmo de cara e ao punho de mama… - “ser minha responsabilidade” tudo aquilo. Entretanto esgotado um magote de passageiros o fascista junta-se às tais desengraçadas, conversam sobre mim e de súbito tomam consciência do que já lhes narrara: o passaporte é electrónico, passa incólume aos colecionáveis carimbos. O arvorado sorri e passa-me o documento, para que eu siga. 

Mas estou cansado e agora aborrecido com o destratamento. Por isso esqueço-me que estes controleiros fronteiriços são desconfiáveis - não mataram os nossos, ali mesmo nas vizinhanças de minha casa, um azarado tipo apenas porque lhe faltava um qualquer carimbo, apesar dele ser “louro e de olhos azuis”, assim dos nossos favoritos, como dizia o esquerdista Pacheco Pereira nos seus dias putinescos? Enfim, esqueço-me desse âmago ferino, e digo-lhe “porque não me deu esse sorriso antes, para quê tudo isto?”. De novo, lesto, se apropria do meu passaporte, invectiva-me “estás tomado?”, nem percebo, só depois na sua insistência, “estás tomado!!”, compreendo que me diz bêbedo. Ombreia com o par de jarras da Iberia e anuncia que eu ficarei ali, que vai chamar a polícia devido ao meu estado. Não estou bêbedo mas fico estupefacto, mais até com as cabrinhas Iberia (feiosas, não recordo se já o disse), ali tão ciosas em chatear o passageiro. Fico calado, presumo que tenha arqueado a sobrancelha (dizem-me ser-me gesto habitual), constato que nenhum deles porta identificação. Logo, logo, sem mais, me devolve o documento e eu sigo - “amanhã uso o livro de reclamações, espanhóis de merda…” -, mas um bocado alquebrado: na fronteira de chegada uma oficial tentou ser simpática e disse-me “velho”, à partida o seu colega quer ser antipático (e consegue) e chama-me “bêbedo”. Será melhor não voltar cá, sabe-se lá que mais avançarão.

Enfim, quase 5 horas depois da hora da borregada partida lá aporto ao hotel, feito coito de desiludidos. Enquanto espero por um verdadeira ceia leio as novas de Lisboa. Rio-me: Sousa Pinto, em tempos o agitado inventor das “causas fracturantes” agora tornado xuxu dos salões do centro bem-pensante, encantados com a verve do homem em avatar crítico, associou-se a outros da mesma laia (gente com o desplante de militar no PS), invocando o “fascismo” “inadmissível” da centena de tipos do CHEGA que se manifestaram no Largo do Rato, sede do sindicato socialista. Nas redes sociais vários, até não-PS, concordam. 

Estou cansado, esfomeado. E, repito, aborrecido com os maus-tratos, e percebo-me burguesote, nisso saudoso do quando até parecia um jovem aprumado, assim imune a estas cenas. Por tudo isso descarrego, desabafo, e para todas eles encomendo desgraças, dolorosas. Há pouco mais de um ano, na sequência dos dislates russófilos emanados do PCP aquando da invasão da Ucrânia, umas dezenas de manifestantes, entre os quais ucranianos, acorreram à sede daquele partido manifestando-se contra as suas posições. Na época vieram estes “comentadores” e estes “redessociólogos” gemer qualquer “inadmissibilidade”? É a malta do CHEGA desagradável? É.Mas para se manifestarem avessos às Leitão Marques e aos Silva Pereira onde o deverão fazer? Em Quelimane….? Mas se for contra o PCP toca de acorrer à Soeiro Pereira Gomes?

Acordo cedo e avanço para a leitura de um artigo sobre a história da Antropologia portuguesa, coisa de italianos. Para além das laudas ao nosso “progressismo político” actual lá vem o regurgitar do discurso socialista: o enquadramento histórico (em texto de 2023) anuncia o colonialismo português como um projecto do Estado Novo, malévolo. Os autores são estrangeiros, estarão a ecoar o que se lhes disse. Mas mais uma vez lá vem o elidir da essência colonialista do nosso republicanismo, da I República, de como tudo isso nos conduziu à I Guerra Mundial - é um esquecimento que é um aldrabismo (o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no centenário do Armistício é um monumento protocolar dessa mistificação).

No fundo trata-se do óbvio: naquele meio intelectual, do tal “progressismo político”, o relevante é apupar o padre António Vieira e salvaguardar os antecedentes do PS, o qual distribui empregos e financiamentos. 

Interrompo a leitura, irritadíssimo. Desço à recepção onde me avisam que talvez siga hoje à noite. O meu problema é que os filtros acabaram e é difícil comprar mais - fuma-se pouco por aqui, escasseia a venda de tabaco. Os bogotanhos devem pensar que há coisas mais relevantes do que fumar à porta dos restaurantes. Se calhar há… Vou à rua fumar, terceiro cigarro com o mesmo, e último, filtro, um nojo. Despreocupado com o regresso. Pois de facto, constato, para todos os outros é igual a que horas ou em que dia viajarei eu. É verdade. Mas assim rebelo-me contra este meu declive, até depressivo, num “estás tomado?!”.

Regresso ao quarto, onde perorava o insuportável sotaque da Annanpour. No caminho uma empregada trata-me, como aqui o têm feito, por Señor Taveira, sorrio com gosto à tão rara alusão ao apelido do meu avô materno - oficial do 28 de Maio que não era mais colonialista do que os seus irmãos e cunhados mais velhos, também militares, que antes haviam partido, patrióticos, para a guerra na Flandres. Mas pronto, a minha irritação se calhar deve-se a ter lido ontem um (até fraco) “Abril e Outras Transições”, no qual o Cutileiro resmungara, en passant, a mistificação da I república, como acima de tudo, culmina com aquilo de uma boa educação universitária (sumamente altaneiro remete-a para Oxbridge) se definir por ser aquilo que torna alguém capaz de identificar “when a man is talking rot”… Não que eu tenha estudado por aí além mas atrasos nos vôos dão para estas… divagações.

Avanço, uma matrona simpática, nariz arrebitado atraente, companheira de vôo - a quem eu, na véspera ajudara com as malas, como se nada fosse - retoma a conversa comigo. Almoçaremos juntos, eu para dentro a recordar um conto de Cortazar no "Todos os Fogos o Fogo", que li em Salema aos 14 anos (um engarrafamento na auto-estrada, passados poucos dias as pessoas já se organizaram em comunidades, e até casais se fazem, de súbito o trânsito começa a fluir e tudo se desfaz na debandada). Ainda assim "fiz conversa" quase duas horas, um recorde de décadas. 

No regresso ao quarto, aqui, outra me trata por Senhor Taveira. E de súbito o tão raro tratamento atira-me para 35 anos antes: no Hospital Militar, a que acorrera para ver se me via livre da tropa, fui recebido por uma senhora, que então me parecia até decana, secretária de um qualquer Coronel ou General Médico. Olhou distraidamente para os meus documentos e tratou-se por "Taveira". Eram ainda os tempos do escândalo dos filmes e talvez também por isso disse-lhe "Eu não sou Taveira, sou Teixeira".

Ao que a Senhora me respondeu, dando-me a maior lição na vida, e que tantas vezes esqueço: "Taveira somos todos!".

(Talvez avance hoje. Se daqui a bocado encontrar o sacana da fronteira pago-lhe uma cerveja. E claro que não reclamarei das hospedeiras, ou lá como se lhes chama. Mau mesmo é o estado deste filtro, após 5 cigarros. Fedorento, afianço).

14
Mai23

Após um mês

jpt

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Uma vantagem de se viajar com um belo fotógrafo - para além de grande amigo - é este descanso de não se ter de andar a captar as meras muletas de memórias, esse apenas que são as toscas imagens que nós leigos atrevidos insistimos a desadequadamente chamar "fotografias"... 

Sim, de vez em quando lá alcei do telefone para "registar" não sei que sensação de momento - a qual depois nunca fica patente na imagem. Como aqui... Mas sei que são imagens que delirei logo que, dentro de dias, o Pedro me passar uma selecção do que colheu ao longo das nossas viagens. 

Acaba-se hoje este mês de Colômbia, um país magnífico que desconhecia. Enorme, belo, de imensa diversidade, no cerne de uma cordilheira monumental, tudo ainda com flora abundante e também ainda com agente afável. De bónus conheci um pouco de uma literatura muito interessante e um punhado de intelectuais dados e argutos, olhando mesmo para uma sociedade tão problemática que os imuniza a folclorismos, tão vigentes alhures. E, o mais importante de tudo, passei o mês entre amigos que são gente maravilhosa.

Daqui a pouco sigo para o aeroporto. E estou já com a sensação de que eu não mereceria este tanto que foi. A católica culpa do desfrutar, resmungo, ateu, diante do espelho.

13
Mai23

Ensaio Sobre Antropologia

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Estudei antropologia social e usei profissionalmente essa formação disciplinar até ter atingido a decrepitude intelectual. Mas ainda sei algo sobre a temática - a Antropologia é uma ciência nascida na antiga Roma, no período republicano, e tratou-se do desenvolvimento de variações do princípio fundamental "Em Roma sê romano". Tudo o que depois veio a ser escrito sobre a matéria - em particular coisas emanadas de uma quinquilharia chamada "reflexividade" é uma contrafacção promovida pela poluente indústria de "papers". 

Por isso aqui estou, em Roma sendo romano. Ainda assim, isto de um tipo beber genebra misturada com flores é um bocadinho, como dizer, amaneirado... Só mesmo por amor à Antropologia. E à seguinte tequilla que também antecederá o almoço.

09
Mai23

Sócrates vintage

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Aqui são menos 6 horas do que no Trancão. Ontem descemos de Bogotá, na rota de Medellín, à qual não chegaremos, cruzámos as "terras calientes" e chegámos ao mítico Magdalena, rio matriz do país, aqui na envelhecida Honda, porto ribeirinho abandonado. Num bom e pausado restaurante, temperado a ventoinha de tecto, como este excelente "triunfo peruano" - farripas de carne estufada com pimentos sobre ("em cama de" no linguajar flausino actual) arepa e acompanhada de mandioca. Gin antes, cerveja durante, tequilla depois. Na alvorada tenho um WhatsApp sorridente - vários me mandam o artigo do João Miguel Tavares... Vou à pirataria Telegram e leio-o, são 5 da manhã e estou-me a rir: Luís Montenegro, o intermediário jurídico de negócios que dia sonhou ser califa no lugar do califa, é ali fuzilado como "Sócrates vintage". Mergulho em água tépida em demasia, nado pouco ("devia ter deixado de fumar há 20 anos agora é tarde demais), rio-me ainda mais, a lembrar-me do cabrãozinho tripeiro e da sua tropa fandanga, agora já sem cacique. Enxugo-me, matabicho frugal, cigarrada. E toca de ir ver o vulcão, de longe pois está activo. Mas antes de arrancar ainda volto ao quarto, abeiro-me da sanita e escarro. No "Sócrates vintage"...

08
Mai23

O naco

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A gente vem lá de baixo, das planuras, e vê bem como estes tipos arrasaram a mata para depois largarem as terras às vacas, nesta bruta mente de ganadeiro. Uma desgraça.

Depois, carnes trazidas cá acima, comem-se assim, em modos que não nos são exóticos e em nacos para aí com 400 gramas, quando não mais. Soube bem, malgré tout.

07
Mai23

O Primeiro de Maio

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A globalização imparável: aos 58 estreio-me num Primeiro de Maio, feito turista observador das coisas andinas. Comparando com as coisas lá de casa noto algumas parcas diferenças quanto aos fenotipos caminhantes e uma enorme placidez manifestante (no meio daquilo há imensos cãezinhos pelas respectivas trelas). E o mesmo folclore: nesta secção após terem passado as efígies de Ernesto Guevara, as blusas clamando CCCP ou "Lenin vive" - a matriz das assassinas FARC e quejandos - saltam-me à vista estes, os do patético "x" em riste. Rio-me alto, nisso sou visto mas decerto que incompreendido. Depois, lá mais para o fundo - a longa cabeça do desfile era de sindicalistas, estas tralhas estavam remetidas para o fim - ainda surgiriam um bando de putos vestidos de preto, "antifas", gritam-se, e ainda uma vintena de surpreendentes "cabeças rapadas antifascistas", musculosos, excitados e tatuados. Enfim, pouco me faltou para ir beber uma imperial à "Portugália". Com xs clientxs...

07
Mai23

O intelectual

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Sei que muitos duvidam - e nisso com toda a pertinência - das minhas habilidades intelectuais. Mas a isso não poderão associar o questionar da minha atitude. Pois poderá haver melhor pose analítica, reflexiva, filosófica até, do que esta, captada pelo Pedro Sá da Bandeira aquando da minha incursão ao Sargento Pimienta, templo do reggaeton?

(Fotografia de Pedro Sá da Bandeira)

07
Mai23

Na vila de Leyva

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É um lugar-comum, até estafado, isto de se ser o somatório do que já se foi, dessas memórias, frutos de uma militante "amnésia organizada". E sim, apesar de mim-mesmo, fui feliz ao viver na Bélgica. Lembro-me disso na bela praça da Villa De Leyva, interrompendo os gins (clássicos, claro) e fazendo anteceder as subsequentes tequillas de uma saudosa Duvel. Enfim, pouco importa onde se está, apenas como se está e com quem se está. E o que há para beber, a bem dizer-se...

(Fotografia de Pedro Sá da Bandeira)

 

07
Mai23

A “crise” vista de longe

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Vim à Colômbia, minha estreia em país apaixonante. Algumas palestras em Bogotá e esplêndidos passeios, coisas de ser ombreado por magnífico amigo feito mestre cicerone. Nisso, semana após semana, me vou afastando das majordências pátrias - mesmo que essas insistam em aterrar por via das incessantes "notificações" telefónicas, algumas delas também já escalpadas pelos cruéis bisturis arrolados neste Delito de Opinião... Sim, apesar dessa canga informativa, a distância havida, a complexidade local, a urbe Bogotá, a diversidade enfrentada, o peso dos Andes, a mata pós-amazónica, e o belo convívio continuado, tudo isto me refresca, até me acalenta aquela serôdia utopia do "ah, se eu voltasse a ser assim, que já o fui mesmo...", em tudo isso algo desprendendo-me da Pátria (sempre) Amada. Mas não por completo, que ainda me assomam laivos...

Nos últimos dias descemos um pouco, até a histórica Vila de Leyva, zona de gargantas agora pejadas de estufas, mas sede onde os coriáceos e de ouro sequiosos espanhóis se incrustaram desde finais de XVI, exactamente enquanto outros deles se nos uniam e mais outros se deixavam afogar na Mancha, afinal não Invencíveis. Enfim, gente que seria (muito) rude mas - e tanto dá para o perceber quando agora aqui os imaginamos nestas altitudes e naquelas eras - "antes de quebrar do que de torcer". 

Segue hoje esta província de Ricaurte mais plácida, entre a tal agro-indústria, o turismo local, para além do aparente remanso dos reformados bogotenhos... tudo isto pois apaziguadas as guerrilhas comunistas e seus opositores fascistas, e entretidos os decadentes "narcos" em recônditas ruralidades e trepidantes tiroteios urbanos. Nesse aconchego calcorreamos as redondezas da turística Leyva, e nisso passamos pela vizinha vilória Santa Sofia, pequena instalação recente, de gente gentil e também com anseios turísticos, a reboque das "belezas naturais" e em torno de uma patusca grande recente igreja, assinalada como "oferta de cacique".

E será essa placa que - ainda que sabedor das semânticas que por vezes nos afastam dos "nuestros hermanos" e demais hispânicos - me faz regressar, em breve ápice, por via desses incontroláveis fluxos, moles ditas "associações de ideias", ao ainda não saudoso rincão. Pois logo de seguida enfrento está entrada do cemitério. E assoma-me tudo isso que venho recebendo, a inepta malvadez, vergonhosa, desse Galamba, a que associo toda aquela tropa fandanga, a dos "jugulares", "câmaras corporativas" e quejandos, socratistas abjectos, esses galambas e adões, uns agora no governo, outros aos restos...

Rio-me, num "deixa-me fotografar!". Depois arrancamos. Pararemos numa venda para comprar batatas andinas e abóboras que me parecem gigantes, eu comerei uma arepa (bolo de milho) de queijo. Enrolo um cigarro e fumo-o na estrada, esta dos montes e vales. Em silêncio penso "tenho quase 60 anos!" , ""ela" está aí a chegar!". E "Que Se Foda o Galamba! E os Outros!". Apago a prisca, reentro no carro. Volto à Colômbia. A mim?

05
Mai23

Pessoa nos Andes

jpt

 

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Entre outros janto com um aqui nacional... Homem interessantíssimo, dono de um português impecável, guardado de ter cursado também em Portugal. Cosmopolita de grande perfil profissional, verdadeiro Amador de arte e mundo calcorreado, até in illo tempore em Moçambique. Humor cáustico, corrosivo de conhecedor reflexivo, sobre a sua Colômbia, arredores e restante mundo, naquilo do ir "até ao osso". Encanta-me. Intervala-se quando sobre o meu país, tanto pela cálida memória que dele tem como pela gentileza hospitaleira que lhe noto. E vem até a gabar como divulgamos Pessoa e ele se torna nosso. embaixador mundo afora, e por cá também. Sorrio, reencho o copo de tinto, e conto-lhe das pantagruélicas biografias agora editadas e das polémicas geradas, tinha Pessoa um pirilau grande ou pequeno, era dado a meninos (dizem os agora homos) ou meninas (dizem os agora heteros)...

Ri-se ele (e outros convivas) e desintervala-se, tratando-me/nos como a todos os outros, num genial sarcasmo: "pois é, o Pessoa é a vossa Frida Kahlo", cruel bisturi até ao âmago da pobre alma lusa. Gargalhamos. E eu, passados dias, ainda não parei de rir.

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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