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Nenhures

Nenhures

09
Jun24

Já votei

jpt

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Fui votar de manhã (e votei bem). Como desta vez se pode fazê-lo em qualquer lugar, em vez de ir até às traseiras de casa, como sempre, fui até ali à frente, à Biblioteca dos Olivais. Foi forma de matar saudades pois a Biblioteca está fechada há mais de três anos (há quem afiance que há já 4...), devido a umas obras superficiais que a Junta de Freguesia tem descurado de modo escandaloso (dizem-me que até foram financiadas duas vezes mas não posso afiançar). O que é engraçado é que indo à página da Junta vê-se como Rute Lima (a presidente em part-time) e seus correligionários PS anunciam os trabalhos sobre um novo jardim que vão instalar em homenagem ao Zé Pedro. Mas nada sobre a reabertura da biblioteca. O que muito me faz lembrar aquilo dos "coronéis" brasileiros do Jorge Amado, que se limitavam a ajardinar para legitimar as malandrices.... 

Enfim, é o PS nos Olivais, em Lisboa. E Portugal. A "esquerda", dizem, avessa ao "obscurantismo", gabavam-se. E nós, que não gostamos de duplos financiamentos para obras públicas e até vamos às bibliotecas, somos ... "neoliberais", "reaccionários". De "direita"....

10
Mar24

O voto do cidadão

jpt

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O voto é um direito, nunca um dever. Resmungo, cigarro matinal numa mão, malga de café na outra, espreitando a ameaça chuvosa, com ideia de trepar a ladeira, 13 minutos em passo estugado para apanhar a camioneta, na senda do Trancão. E com as horas que gastarei, o dia quase todo entre ida, estada e regresso, o dinheiro que gastarei, nos transportes, na bica que decerto urgirá, o almoço, por frugal que seja, e pior ainda se encontrar algum eleitor amigo, motivo quase certo para derrapar até à imperial e meia de febras, comezaina já, enfim um dia perdido, uma canseira... E para quê, o que interessa o meu voto, é só um - pois vale, infelizmente, o mesmo do que o de tantos que votam tão mal!! -, não mudará nada.
 
Decido assim abster-me, guardado está o dia para as minhas coisas. Ainda assim vou confirmar onde é o meu local de voto, para o caso de me aparecer uma inesperada boleia. Entro na página dedicada ao assunto pelo Ministério da Administração Interna. Na qual para se obter essa informação é necessário colocar o número do Cartão de Cidadão (o velho BI)!
 
Estanco! Num "raisparta, tenho de ir votar!" Convocado pois desde há muito tempo este é o único sítio onde me pedem este número. Pois num país onde todos, organismos estatais e empresas (a CTT, por exemplo de ontem, para abrir uma conta digital) pedem o NIF. Reduzindo-me a mero pagador de impostos. E a todos os outros. Enquanto aqui, talvez já só aqui, me tratam como um cidadão.
 
"Raisparta", repito em suspiro. Fumo mais um cigarrito. E sairei até à capital, armado com o meu número de cidadão para votar contra aqueles, e tantos são, que me destratam, apoucam, como pagador de impostos. Mas, nada utópico, convicto de que os votos dos outros e, mais ainda, as mentes alheias, farão que muito em breve para exercer o tal "dever cívico" (dizem-no) será preciso dizer o NIF...

22
Fev24

A Defesa no processo eleitoral

jpt

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Foram escassos os debates políticos televisivos a que assisti. E não tenho perseguido com efectiva consistência as declarações dos responsáveis partidários nem lido sistematicamente a documentação que os partidos vêm produzindo. Mas perguntei a alguns amigos mais atentos se a minha sensação tem justificação e eles corroboram-na. Ou seja, a questão da Defesa está invisível. É invisível, melhor dizendo.

Certo, é pouco popular, pouco "eleitoral", agitar custos que não sejam dirigidos à putativa melhoria imediata das condições de vida. Na direita propõe-se a redução dos impostos (um tal de "choque fiscal"), em alternativa ao velho arrazoado utópico da amputação das "gorduras do Estado". E na esquerda - onde vigora o sonho geringôncico - não só vigora a mitografia "pacifista", na qual o antibelicismo é confundido com desmilitarização e até mesmo desarmamento, como é vigente a união entre a aversão à democracia e aos compromissos com a NATO. E nisso não esqueçamos as reacções dos partidos comunistas aquando da invasão da Rússia: o PCP sempre defendendo os interesses russos, o BE logo defendendo os direitos expansionistas da Rússia - foi antológico o momento em que Mortágua, então ainda deputada a tempo parcial, usou o argumento nazi de defesa do "espaço vital" da grande Mãe Pátria russa E depois disso, em sinal da generalizada anuência dos seus militantes a esse ideário, foi a futura professora do ISCTE eleita "coordenadora" desse partido.

Ou seja, a ambição geringôncica inibe à esquerda o debate político sobre o reforço do sector da Defesa. E o fervor anti-estatista à direita tem o mesmo efeito. Para mais, os recentes ministérios da Defesa têm sido fragilizados por temáticas pouco "políticas". O antepenúltimo ministro, Azeredo Lopes, foi arrombado por um simples roubo de paiol e a forma como descomandou essa situação inibiu-o de ser voz activa - para além de o ter conduzido ao mais pungente episódio do regime democrático, ao clamar em tribunal a sua incapacidade para exercer o cargo governativo para o qual aceitara o (descuidado?) convite de António Costa. O penúltimo ministro, Cravinho, foi também vítima de difíceis questões orçamentais, que lhe terão reduzido a amplitude das suas hipotéticas ambições estratégicas para o sector. E a actual ministra Carreiras entrou no governo logo após o início da guerra na Ucrânia, o que presumo lhe tenha redireccionado o azimute estratégico para o sector. 

Enfim, há uma continuada irrelevância política associada a um desinvestimento crónico na Defesa, fruto das opções orçamentais deste regime, não só eivadas de questões desenvolvimentistas e também do expurgar da militarização das finanças públicas durante o Estado Novo tardio, mas também da tal ideologia "pacifista" e, explícita ou implicitamente, anti-NATO vigente nos vários sectores da esquerda. O patético recente exemplo dos tanques Leopard, quase todos inoperacionais quando foram convocados para participar no apoio à Ucrânia, deveria ter sido suficiente para convocar a atenção pública. E o ainda pior caso da tripulação do navio que se recusou a sair ao mar, invocando questões securitárias - que eram certeiras, ainda que de inadmissível convocatória daquele modo -, para acompanhar uma embarcação russa que se aproximava das águas territoriais deveria ter sido o sinal extremo. Mas o silêncio continua...

Cumprem-se agora dois anos sobre a invasão da Ucrânia, o grande desafio colocado à NATO desde há décadas. Entretanto o isolacionismo norte-americano, sob retórica orçamental, reafirma-se com Trump. Para atingir o patamar de gastos orçamentais com a Defesa tem Portugal o prazo mais distante dentro dos países da Aliança (apenas em 2030). Ou seja, 40 anos depois da entrada na UE o país mostra-se ainda incapaz de integrar objectivos estratégicos. Que maior demonstração de incapacidade desenvolvimentista terá este regime?

Entretanto, neste contexto de pressão interna e externa sobre a NATO, neste após dois anos de guerra na Ucrânia, a organização convoca os maiores exercícios das últimas décadas, com a participação de 90 000 militares. Portugal participará com ... 37! É evidente que não se requerem umas enormes Forças Armadas nacionais, mas sim funcionais. E que neste caso a pertinência da participação no esforço de defesa comum não obedece apenas a critérios quantitativos. Mas ainda assim, e mesmo sendo leigo na matéria, esta situação causa algum espanto... interpretativo. 

Em última análise estes situação justificaria que se debatesse este assunto. E note-se que este não é assim tão excêntrico. Pois se se debatem temas "sociais", como as reformas ou o sistema de saúde, também são prementes temas que convocam custos estatais direccionados sectorialmente, como a questão do professorado ou das remunerações policiais. E, sem rodeios, debater a questão da Defesa é debater não só o estatuto de Portugal entre os seus aliados mas também - e até mais - debater o estado do Estado de Portugal. Sem patrioteirismo, sem belicismo, apenas com realismo.

Adenda: após ler este postal um amigo enviou-me esta imagem, denotativa do pensamento que os partidos concorrentes dedicam às questões da Defesa, notoriamente inexistente. E acrescenta, muito correctamente, que também nada aparece de substantivo sobre as relações exteriores, os posicionamentos geoestratégicos. Esta é a actual velocidade de cruzeiro deste regime...

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(Postal no Delito de Opinião)

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