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Nenhures

Nenhures

22
Mar25

Dinamarca-Portugal

jpt

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Ontem ao fim da tarde fui ao "Cabeça de Touro" ouvir o que têm para dizer os membros de uma lista que se candidatará à Junta de Freguesia dos Olivais. Gostei - aqui a IL já está a reflectir, nisso a trabalhar, saúdo isso.
 
Depois segui ao vizinho "Flor do Minho", partilhei uma boa dobrada com amigo "dos tempos". A menina-minha-mais-que-querida foi mais frugal. Ao sentarmo-nos, eu a escolher ficar de costas para a televisão, perguntou-me ela - e também ele - "não queres ver o jogo?". "Não me interessa", ripostei, abancando sem cerimónias. "É a selecção...!", resmunguei, já com a manápula nas azeitonas.
 
Fernando Gomes era braço direito de Pinto da Costa. Depois foi delegado para a FPF. Ali escolheu Fernando Santos para seleccionador. Este teve o bambúrrio de ganhar um Europeu com uma equipa que não jogava nada. Depois, aquando da primeira Liga das Nações fez aquilo para o qual esta fora criada: jogar com os putos e os secundários. Ganhou!
 
Entretanto a FPF de Fernando Gomes fez com Santos um contrato para "dar a volta" ao fisco. E arrastou-o anos a fio como seleccionador, de desilusões e mau futebol feitos. Os ministros das finanças, o primeiro-ministro e o presidente? Adoravam-no, ao Gomes.
 
Depois, quando "aquilo" ficou insustentável, Gomes - presidente da federação de futebol num país onde há uma extraordinária "escola" de treinadores (4 na 1ª Liga inglesa, vários triunfantes no Brasil, outros nos luxos árabes, imensos mundo afora) - contratou um estrangeiro mediano, tornou-o - se calhar já sem contratos mariolas - um dos seleccionadores mais bem pagos do mundo. E o septuagenário Santos lá foi, mundo afora, amealhar porventura para pagar as inesperadas coimas.
 
Gomes foi condecorado (aquilo do contrato não o maculou). E foi para presidente do Comité Olímpico (aquilo do contrato não o maculou). E deixou-nos amarrados ao tal seleccionador. E a selecção nacional não joga nada, está até pior do que no tempo de Santos.
 
"Não queres ver o jogo?", surpreende-se a menina-minha-mais-que-querida, "Então, pá?", surpreende-se o meu-padrinho. Sorvo o gole da imperial, com as costas da mão limpo a espuma alojada na bigodaça. E ouço o Comendador Teixeira a perguntar: "como é que se condecora um gajo destes?", "isso é que eu queria ver, o marcelo a responder a isso".
 
Ainda a lambuzar-me com a dobrada (aviso, é boa a do "Flor do Minho") dizem-me que o jogo acabou. Perderam? Claro, "não jogam nada...." E não adjectivo nem aduzo interjeições. Pois está ali a menina-minha-mais-que-querida. Apenas reduzo tudo ao óbvio "não é a minha selecção".

16
Fev25

Pinto da Costa?

jpt

AZ Alkmaar - 3 (2) x Sporting - 2 (1) (AP) de 2004/2005, TU - 1/2 Final - 2ª Mão

Há dois anos fui a Norte, aboletei-me em maravilhosa quinta de querida amiga, ali nas cercanias do Sousa. Nesses dias tive o privilégio (verdadeiro) de ser visitado por amigos sitos nesse acima-do-Trancão. Foi a última vez que vi o Jorge, um delicioso amigo feito na Ilha de Moçambique - com o qual nunca tive, geografia a isso obrigou, grande convívio mas ao qual me unia uma enorme empatia, que quero crer fosse recíproca. O Jorge - que morreu dois ou três meses depois, não sem antes me ter enviado uma mensagem audio, que recebi em Bogotá, a resmungar comigo devido ao meu "direitismo" exarcebado, e a qual não consigo apagar do meu telefone - já estava muito doente mas ainda assim meteu-se ao volante e foi até lá, junto a Paredes. Também foram a Cristina e o Rui, este apareceu um bocado manco, dado a lesão que o acometeu, queridos amigos feitos em Maputo. Foi para mim, neste abandono em que às vezes, demasiadas, me sinto, um dia delicioso. Sentámo-nos a tasquinhar na varanda, com a frugalidade que era, evidentemente, necessária. E falámos da vida que fora. 

Às tantas eu contei (mais) uma memória, convocando a gargalhada geral, daquelas até às lágrimas. Pois lembrei este jogo do Sporting com o AZ67, meias-finais da Taça UEFA, há já 20 anos. O qual vi num ecrã gigante na esplanada do "Eagles", na baixa de Maputo, em mesa apinhada. Na qual estava o Rui, claro. E também o Nuno, e a este convoquei então para mandar calar um pateta benfiquista que ali nos azucrinava porque perdíamos a peleja, e eu (que a última vez que me bati com alguém deveria ter 11 ou 12 anos) já estava pronto para a porrada... E no final do jogo, aos 120 minutos - final do prolongamento, já em desespero -, num canto em que até o guarda-redes Ricardo "foi lá à frente" o Sporting marcou, por Miguel Garcia, o lendário golo que o levou à final da Taça (aos 8'15'' do filme). E eu, nos então meus 90 e tal quilos, logo me encontrei, exultante, histérico, ao colo do Rui, ele um pouco maior do que eu, e ambos (ele garboso heterotóxico militante, eu também heterotóxico mas mais onírico) abraçados de beijos na boca - sem língua, sem língua....!!! -, tamanha a felicidade sentida! O que o Jorge se ria, o que se ria a Cristina, o que também se ria o Rui (ainda que tentando negar...), o que me ria eu, com tal memória! 

É a bola. O futebol. A suspensão do resto. Enquanto ela rola, os "nossos" jogam. 

Mas isso não justifica, nada justifica, que nos suspendamos nos restantes dias, sempre! Que sigamos despojados dos nossos critérios. Um simpático interlocutor veio agora ao meu mural FB exigir-me "elevação" por ter eu resmungado diante do inaceitável coro de elogios ao defunto Pinto da Costa. Por aí afora há imensos encómios ao indivíduo e também apelos desse tipo, o "respeito pela família", "pelos amigos"- como se a família não conhecesse o seu patrono e dele, e de tudo aquilo, vivesse. Como se os amigos (general Eanes, incluído, para mal dos nossos pecados) não fossem adeptos daquilo, miseráveis coniventes. E clientes, quantas vezes.

Vejo agora que o jornal "A Bola" noticia ter o Portimonense jogado hoje com o nome de Pinto da Costa nas camisolas, e que a equipa o homenageou antes do jogo que fez. E logo me lembrei de outro episódio: há cerca de 30 anos Rui Nabeiro decidiu financiar o Campomaiorense no futebol, e entregou a tarefa a um filho. O clube ascendeu à I divisão durante uns anos. Apesar do patrocínio, decerto que generoso, era um clube modesto, plantéis modestos, jogadores modestos - desses que não ganham milhões, que chegados aos 30s avançam para a II ou III divisão, disso seguem para alguns empregos não especializados. Depois uns prosseguem a sua vida, com memórias feitas, outras atrapalhar-se-ão. Um dia num jogo Campomaiorense-Porto houve sururu, e um dos modestos jogadores de Campomaior, ali a fazer pela vida (o prémio de jogo, a ansiar pela manutenção na I divisão, nisso a renovação do contratozeco), foi expulso. Cá fora contou o que acontecera, uma mariolice qualquer (mais uma) do árbitro e ele a protestar. E o guarda-redes do Porto, esse Vitor Baía que viria a seguir até ao fim com Pinto da Costa, a gozá-lo, com sarcasmo, "cala-te, ou vais para a III divisão como o Portimonense" - como fora este clube, remetido por Pinto da Costa pois se indispusera com o seu presidente, o pato-bravo local Manuel João (julgo), que tendia para o Benfica... E o pobre (modesto) do Campomaiorense irritou-se, foi expulso. 

E é esta elevação, estas "condolências", que convocam. O respeito pela corrupção, pela violência (eu lembro-me do sexagenário - ou já septuagenário - Carlos Pinhão a ser agredido em Aveiro pelos homens de Pinto da Costa), pela falsificação. Querem o respeito pelo malvado princípio "o que importa é ganhar, seja lá como for". O homem foi um escroque imundo, corruptor da sociedade portuguesa. A agora chorosa família sabia-o perfeitamente e disso fruiu, e muito. Os amigos também ... o são. "Elevação"? Como diria o Boris Vian, se vivesse nestes tempos, "hei-de escarrar no teu forno"! E nos dos adeptos de tais modos...

15
Fev25

Uma morte, lá no Porto

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Bertrand.pt - Golpe de Estádio

Corrupção, espancamento de jornalistas, tráfico, falsificação de apostas desportivas, um sem fim de crimes e ignomínia. Quase tudo disso escrito há pelo menos 30 anos. Mas ainda assim consagrado por tantos, desde esse comentador televisivo que os portuenses elegeram para seu autarca, até ao proto-delfim de Guterres que a escória PS nos quis impingir. Até mesmo, imagine-se, pelo general Eanes (e nós que tanto esforço fizemos para esquecer o comendador Gomes...).
 
O idoso morreu. Findou o padecimento. Mas enoja este coiro de elogios ao escroque. Sinal do país que somos.

23
Jan25

A jornada da Liga dos Campeões

jpt

 

Sou futeboleiro mas só vi os resumos dos jogos da Liga dos Campeões (há iletrados pirosos que dizem goalkeeper, off-side, liner, corner, striker e, também, champions, assim se julgando "do mundo"...). E nisso me ergo "comentador da bola", assim concluindo:
 
- a popular agremiação de Carnide elevou-se ao propalado cognome de Sport Lisboa e Benfica - reconhecível na fotografia pelo seu tradicional equipamento - diante de um célebre (mas por ora mediano) Barcelona, num jogo excitante e caricato que mereceu ganhar, tendo-o perdido por grande azar (uma monumental "paiada", coisa que nunca vira, aquele golo de cabeça de Raphinha - um tipo que mal serviu ao meu Sporting!!). E ainda por serem aqueles árbitros não só catalães como também hinchas do Juntos pela Catalunha, equipa treinada por Puigdemont;
 
- a outra agremiação portuguesa, antes conhecida por Sporting Clube de Portugal, do qual fui adepto, apresentou-se na maior competição mundial de clubes jogando diante de um obscuro clube da ex-RDA de grená equipado, com vestes a la Real Madrid, julgando que isso será suficiente para o êxito. Perdeu, não sei se merecidamente, nem atentei nisso. Pois estou-me borrifando para este Zara Clube de Lisboa - até porque, (ex?)tóxico que sou, para ver modelos de modas e lavores prefiro algumas beldades femininas, mais ou menos escanzeladas, do que estes latagões tatuados e escarradores.
 
(Mas sim, tenho saudades dos meus frémitos e exaltações com aqueles Yazalde, Keita, Jordão, Acosta, Miguel Garcia de camisola - jersey, para os morcões de agora - verde-branca e calção preto. Quando havia Sporting...)

04
Ago24

Sporting - uma derrota histórica

jpt

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Em futebol o Sporting tem algumas derrotas históricas, impressionantes. Nas meias-finais da Taça das Taças com o Magdeburgo, muito esquecida porque foi em 24 de Abril de 1974. O clube alemão não fez história, o Sporting era-lhe superior, a final europeia estava ao alcance e só 30 anos depois se conseguiu uma outra. A dolorosa derrota na última final da Taça UEFA em 2005, com o CSKA, no próprio José de Alvalade. E, claro, os célebres 3-6 contra o Benfica, abalroando uma extraordinária equipa do Sporting (talvez a melhor que já vi), que tudo tinha para encetar um percurso vencedor.  Todas elas foram explicáveis, para além dos talentos alheios. A de 1974 terá tido razões, mas era demasiado novo para disso me lembrar. A de 2005 foi normal - uma final diante de uma boa equipa - mesclada com o azar constituinte do futebol: erros individuais, uma bola enviada ao poste alheio que sacudida para contra-ataque originou golo alheio. A frente ao Benfica é famosa, e sempre revivida, muito devida a erros tácticos na tentativa de virar o resultado.

Ontem diante do Porto, ainda que na modesta Supertaça, foi a quarta derrota histórica. Não só pelo inédito 3-4 depois de um 3-0. Mas por muito mais do que isso: uma equipa campeã, dita como reforçada, até impante nisso. Diante de uma equipa de um clube em polvorosa, depois de um convulso final de ciclo presidencial de 40 anos, sem dinheiro nem reforços, um plantel parecendo remendado, com um novo técnico que ascendeu em reboliço. E o Sporting desabou. Insuflando o Porto, equipa e clube. Devastando o moral próprio, anunciando péssimas consequências. E sem nada alheio que justificasse o acontecido. Surgindo como equipa sem ponta por onde se lhe pegue...

Uma derrota histórica. E uma enorme trapalhada. O odor do rotundo fracasso instalou-se.

14
Jul24

A final do Euro-2024

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O Euro-2024, termina hoje. O meu prognóstico é antes do jogo: a selecção de Espanha, país do nosso querido Roberto Martinez, tem sido a melhor do campeonato. Surge mesmo como uma equipa invencível...

02
Jul24

A Ralé Britânica

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A BBC, que não é um tablóide mas sim a estação pública da pérfida Albion, esse decrépito e abjecto antigo império de onde vem essa ralé turística, tatuada e bêbeda, decidiu-se gozar com o grande atleta e nosso ídolo CR7, chamando-lhe "Misstiano Penaldo". Abandalhar um atleta numa falha é uma vergonha. Sendo uma estação de serviço público é miserável.
 
Isto é mesmo o exemplo da célebre "fleuma britânica". Ou seja, da arrogância daqueles imundos bárbaros, que nem os romanos conseguiram civilizar. Seria bom, desejável, que pelo menos durante dois ou três dias a escumalha britânica que cá anda em veraneio não fosse servida em bares e restaurantes. Que fossem confinados aos kebabs e quejandos que por cá pululam. E que a razão para tal lhes fosse explicada, naquele profundo e singelo "Fuck off". E isso serviria para nos mostrar - até fazer - menos servis. Até porque "contra os bretões marchar, marchar," sempre!

27
Jun24

Manel Fernandes

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Morreu o Manel Fernandes, o nosso eterno capitão. (Aqui no seu cromo da Futebol 77, já depois de ter vindo da CUF). O Manel era a "bola", o verdadeiro futebol. E o Sporting.

Aplausos. Em ovação.

 

*****

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A colecção "Futebol 77" (os cromos da época 1976/1977) nas páginas centrais da caderneta tinha esta hipótese, o coleccionador arvorar-se em selecionador por um jogo. A minha equipa para o jogo contra a Polónia (a então poderosa de Lato), em 16.10.1976, era esta, claro que com o Manel Fernandes a titular:

Damas, Artur, Laranjeira, José Mendes, Pietra; Octávio, Alves, Fraguito; Manel Fernandes, Nené, Chalana.

23
Jun24

(Após) Portugal-Turquia

jpt

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Repito a ligação para esta minha historieta, com mais de uma década (gosto tanto dela que a agreguei ao meu "Torna-Viagem", o livrinho que impingi aos amigos e conhecidos), uma conversa com uma polícia de trânsito sul-africano sobre Cristiano Ronaldo.
 
Passou a tal década (ou mais). Cristiano Ronaldo é o maior atleta da história portuguesa. Um símbolo, admirado por muitos de nós. E também mundo afora, polícias do Mpumalanga e outros - como a menina que ontem se perfilava diante dele durante os hinos, com as mãos na cara tamanha a emoção espantada, tocando-lhe para ver se ele era real, ou o petiz (malandrete), que aos 10 anos se escapou campo adentro para tirar uma fotografia com ele.
 
Mas CR7 é também um barómetro, mede o cretinismo nacional. Pois desde há décadas que é perene a raiva contra ele, as críticas constantes, a vir ao de cima a maldita inveja lusa contra o sucesso (se obtido "lá fora" então é pior). O que vem muito do mais rasteiro do clubismo, alguns, apesar de tudo, ainda o apupam pelas origens sportinguistas - e outros, ainda mais abjectos, pelas origens humildes. (E não esqueço o povo de Guimarães, num particular de 2013, a gritar vivas a Messi apenas para o macerar, a mostrar como é escumalha o "berço da Nação").
 
É já um veterano - a sua idade acerca-se da que tinha Lopes quando foi campeão olímpico, Livramento campeão europeu de clubes, Agostinho no cume do Alpe d'Huez, Pepe na sua lenda de central insigne. É um veterano goleador... Os cretinos, que são minoria mas vasta, continuam a bolçar que "está velho", que "joga à mama", que "é egoísta", que "não joga nada".
 
Ontem, por parvas razões, vi parte do jogo da selecção num café lisboeta. A clientela, uma mole sorvedora de caracóis, passou a tarde clamando esses impropérios, enquanto perdigotava a repugnante molhanga. Retirei-me para casa, vi um John Ford que nunca vira ("Os Cavaleiros", com o Duke e o grande William Holden). Depois passei pelo FB, onde - apesar do "banho turco" - ainda havia básicos a repetirem impropérios contra o CR7.
 
Deitei-me, a ler o Dalton Trevisan que trouxera da Feira do Livro. Não haja dúvida, aquela desgraçada Curitiba de Trevisan é aqui mesmo.

15
Jun24

Euro-2024: Allez la Belgique!

jpt

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Característica histórica fundamental do pensamento "ocidental" (termo que sempre uso na sua extensão geográfica a la Wallerstein) é a sua constante e radical autocrítica. Por isso mesmo sempre incompleta, reformulada, verdadeiramente intensificada. Nisso também incluindo a (auto)devastação política das múltiplas formulações que vêm sendo sistematizadas. Poderia dizer que fundamentar esta afirmação não cabe num postal de blog. Mas ainda que sendo isso verdade, é mais honesto reconhecer que para tal fundamentação se exige muito mais do que o meu saber. O qual, mesmo que parco, é ainda assim suficiente para reconhecer a legitimidade da asserção.
 
Este preâmbulo serve apenas de peanha para dizer o meu desprezo por este aparente criticismo actual, superficial e folclórico, dito "woke". Ou, se em versão académica, mascarado de "decolonial", mesmo "póscolonial". É um corpo textual que parece socialmente relevante a quem se deixe enredar em algumas "bolhas", segmentos digitais animados pela esquerda "mansa" sita na comunicação social, em nichos académicos das humanidades, e suas associadas movimentações "artísticas", nas ong's subsidiadas pelos... Estados. E refractado em pequenos partidos de extracção comunista, ditos "pós-marxistas".
 
Nesses núcleos profissionais depauperados esta via "contestatária" vai parecendo que "paga bem" aos seus "activistas", o que é uma verdadeira alienação (sim, a la Marx) desses agentes. Pois tem recompensas estatutárias (algum reconhecimento entre as moles de "activistas"; afectos alheios ditos "respeito"; reconforto identitário; e, até, "seguidores" internéticos...). E concede (pequenos) privilégios económicos (a selecção para alguns, poucos, empregos; subsídios laborais avulsos; e coisas mais comezinhas, como viagens profissionais avessas à temida rotina quotidiana, financiamentos a ou aceitação de modestas publicações, para exemplos mais frequentes).
 
Estes locutores têm tópicos, que são mais do que agenda ou mesmo jargão, são verdadeiros símbolos que se sonham signos. Os quais servem para afirmar a adesão a uma "omnicausa", pois brandindo um desses tópicos se apela à dedução alheia da partilha de tantas outras causas, à pertença a uma "mundividência" "activista", coisa a qual se diz "interseccionalidade". Um, muito propalado, é a aversão ao género linguístico, um "importante" debate que ocorre: são os meneares dos "X"s ou "@"s ou, até pior, lembro aquilo da "a etnógrafa", "a antropóloga", que há dias repetia em conferência um respeitado professor, proclamando assim a opção pelo "universal feminino" - e eu, em surdina, deprimindo-me enquanto resmungava sucessivas imprecações num também "devia era ter estudado economia ou direito...". E isto, já agora, antes de, e depois de tantas diarreias sanguinolentas a norte do Zambeze, ouvir ali loas às virtudes da "matrilinearidade", qual avatar do matriarcado, entenda-se.
 
Outro tópico é o da vantagem cognitiva (e assim ética) da homossexualidade: "sou feminista... e assumo que gosto muito de levar no cu", escrevia há anos um intelectual socratista. Mas quando eu me deixo rodear dos seus (semi)admiradores, ou quejandos "activistas", e proclamo o meu feminismo (pela igualdade de direitos, equidade de oportunidades - e esta permite, liberalismo à parte, a existência de políticas indutivas), associando-o às minhas (até saudosistas) apetências sexuais, logo os "póscoloniais" se incomodam, até ao "por favor, cala-te...!", em esgares atrapalhados, quando chego às hipérboles da lascívia pós-cunnilingus. Pois para isso, para enfrentar o desprezo sarcástico, já não lhes chega a "interseccionalidade"...
 
Outro tópico constante é a afirmação do omnipresente e frenético racismo, claro que branco, pois comumente associado à (ontológica) inexistência de outros racismos. - "Portugal é um apartheid", clamava no jornal Público um colunista, ali colega da presidente da Junta de Freguesia dos Olivais.
 
Charneca de todo este pensamento silvestre é o carnaval anacrónico da refutação do pensamento passado, científico, filosófico, artístico, literário que seja. Tudo é dissecado em busca da malvadez e abrenunciado como factor causal de horror vivo actual. Nesse crivo nada escapa - até um autor como Mark Twain (!) é visto como necessitando de ser expurgado... O passado (se "branco", claro) é mau!
 
De toda essa tralha o que mais me irrita - e que mais considero denotativo da militante mediocridade deste "activismo" - são as críticas, queridas como letais, ao Tintin de Hergé. Sim, porque Tintin me é família, com ele cresci, lendo-lhe os álbuns em francês antes de saber ler, coleccionando desde o princípio a revista semanal, elegendo desde logo o capitão Haddock como verdadeiro alter ego. Por nele ter aprendido a reconhecer esses tantos trinados do "eu rio de me ver tão bela neste espelho". Por tudo isso tanto me irritam esses jornalistas "culturais", "críticos" de banda desenhada, lentes universitários, "activistas" múltiplos, em potlatchs de anacronismo ignorante a invectivarem Hergé, o colonialismo racista em Tintin. Incapazes de perceberem a evolução intelectual do jovem Georges Remi? Nada disso. Recusam essa via pois não lhes "dá jeito" ao perorar "activista". Pois, entre tantas coisas, se descobrem agora "devolução" ou "reparação", como poderão lembrar "As 7 Bolas de Cristal" (1943!!!!!) ou a sequela "O Templo do Sol"? Ou o tão pioneiro que até excêntrico na época "Carvão no Porão" (1956) - preferem clamar contra os "lábios" das personagens negras, os "estereótipos", choram. De facto, bem no fundo, não perdoam a Georges Remi a absoluta clarividência, a radical autocrítica do "pensamento ocidental" aposta no seu final "Tintin e os Pícaros". No qual desnudou o pérfido guevarismo, esse que habita a mente destes "críticos" de pacotilha.
 
Por isso é bom evitar essas bolhas. Da mansidão que se quer tonitruante, se diz bem-pensante. E ver o mundo, discutindo-o, fruindo-o. Nisso melhorando-o. Com pensamento, crítico e até radical se necessário. Sem folclorismos. "Interseccionais" ou similares.
 
E nisso, nesse afã pelo mundo, na sua rugosidade, muito para além das tais "bolhas" esparvoadas, saudar a magnífica saída da Selecção de futebol da Bélgica, os "Diables Rouges" neste Europeu-2024. Aparecendo à Tintin!!!!!
 
Assim sendo? Allez la Belgique!!!!

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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