Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Boaventura Sousa Santos publicou no "Público" (pelo menos) dois textos de opinião dedicados à invasão russa da Ucrânia. Nada do que neles escreveu diverge das concepções que nas últimas décadas vem pronunciando sobre as diversas matérias do mundo, e que tão queridas e aclamadas vêm sendo em nichos da intelectualidade portuguesa: uma filosofia da história de teor conspiratório, crente na "mão invisível" que tudo causa e comanda, a omnipotência dos omnimalevolentes Estados Unidos da América; um método particular, o manuseio por cardápio das realidades históricas (ditas como apenas "construídas" pelos observadores) para sustentar um discurso apresentado como progressista e que se embrulha como democrático - ainda que refute a "democracia formal"...
Nestes dois últimos textos essas condições estruturais lá estão patentes, mais uma vez. A sua paupérrima deriva pela monocausalidade, intelectualmente indigna - convém notar que até chega a dizer que a dissolução guerreira da Jugoslávia em 1991 se deveu a que os EUA não queriam que subsistisse um país europeu do Movimento dos Não-Alinhados (em 1991!!!), um perfeito dislate. Disparatada mundividência que o leva agora à simples responsabilização dos Estados Unidos da América, da NATO e das democracias liberais europeias pelo advento da guerra russo-ucraniana. E uma verdadeira hipocrisia, ao anunciar que desde há muito existia a necessidade de extinguir a NATO para fazer uma força militar europeia conjunta - sendo óbvio, sem ser necessária grande especulação, que se isso tivesse acontecido nas últimas três décadas, decerto que sob influência maior do par franco-alemão e implicando grande aumento de despesas na Defesa, Boaventura Sousa Santos e todos os seguidores viriam constantemente criticar esse esforço armamentista capitalista, imperialista e anti-democrático.
Enfim, e por mais que se possa discordar destas opiniões, nada do que ali surge é surpreendente para quem costume ler o autor. Aparentemente é mais do mesmo... Ainda assim esta abordagem, verdadeiramente descabida, à invasão russa abanou o "Público". Daí o violentíssimo editorial de anteontem, escrito pelo seu director Manuel Carvalho, ripostando explicitamente ao mestre conimbricense, coisa rara pois afrontando quem há tanto tempo segue do jornal colunista. E o título diz quase tudo, naquilo da "miséria moral"..., que abarca, é certo, outros componentes do eixo russófilo mas que, é evidente, se centra naquele autor.
Será de esperar que esta auto-crítica do jornal se possa alargar, afrontando outras derivas internas de extremo racialismo, também elas surgidas em roupagens "pós-modernas" e, ainda, "pós-coloniais". Que em nada perdem face ao seu velho mestre no que respeita à superficialidade demagógica e ao constante demonizar das sociedades democráticas. A ver vamos...
Para quem não conseguir ler a imagem aqui deixo a transcrição da inusitada crítica ao colunista do jornal:
“A miséria moral da esquerda iliberal”
Manuel Carvalho 11.3.22, Público
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.