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Nenhures

Nenhures

15
Jul24

Moçambique

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Grosso modo vivi em Moçambique duas décadas. Saí há uma década. Vou acompanhando - não é o meu país, não sou nem nunca quis ser "dono da terra". Apenas gosto. Acompanho, repito, desde 92, quando encetei o mestrado. Mais desde 94, quando fui trabalhar "lááá" entre Montepuez e Balama. Ainda mais desde aquele 97 que para lá me levou com contentor e esperanças (aquelas, cândidas, de contribuir para que "isto", lá e cá, se percebesse melhor).
 
Agora, hoje em dia - como há já tanto tempo - uma das coisas que mais me interessa no país é a gigantesca produção do silêncio. Sobre a actualidade e sobre o passado nacional. O qual é, afianço como estrangeiro empático mas antipático, um gigantesco obstáculo ao desenvolvimento.
 
Ou seja, e porque para bom entendedor meia capa de livro serve, vão lá ler isto. E matizem os elogios, póstumos ou outros, iconográficos, moralistas ou intelectuais. Olhem o que foi. E o coro de agora de elogios à Justiça samorista, brotado nestes dias, em miseráveis eulogias, é, pura e simplesmente, repugnante.

28
Jun24

Texto sobre história de Moçambique

jpt

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Desta vez não venho vender livros, como quando há meses - e para notório fastio de alguns - fiz, ao tentar impingir o meu "Torna-Viagem". Pois agora apenas dou: um texto longo – seria maior do que um opúsculo, se eu o fizesse como tal. Há anos participei numa homenagem ao historiador José Capela - a que teve este cartaz, que encima o postal -, grande figura da história de Moçambique e de Portugal em Moçambique. E do escravismo. Depois reescrevi o texto. Agora, como o nosso presidente vem recomendando que atentemos nesses assuntos, decidi divulgá-lo - é longo, repito, e não o escrevi para ser fácil, “amigável ao utilizador” mas apenas como dele gosto. E não é, decerto, ajeitável ao uso dos “activistas” de agora. E divulgo-o também para reavivar a homenagem a Capela, homem que esteve bem à frente do seu tempo e da maioria dos (pobres) pares.

Aqui fica a ligação ao meu: "José Capela: o escravismo em Moçambique como violência estruturante".

 

Sobre Capela antes deixara também:

- recensão a "Conde de Ferreira e Cª. Traficantes de Escravos" e "Delfim José de Oliveira, Diário de uma Viagem da Colónia Militar de Lisboa a Tete, 1859-1860", de José Capela;

- "José Soares Martins, de pseudónimo historiador José Capela", quando morreu; 

- recensão a "José Capela, "Caldas Xavier. Relatório dos acontecimentos havidos no prazo Maganja aquém Chire, Moçambique, 1884";

 

30
Mai24

As Tâmaras Azedas de Beirute

jpt

sabado.jpg

O Craveirinha tinha como data de aniversário o (para nós) peculiar 28 de Maio - e isso foi agora recordado. E lembrei-me da última vez que com ele falei. Estava eu na Alfredo da Costa para buscar a recém-chegada Carolina e sua mãe, levando-as para casa, nós encantados e atrapalhados naquele novo estatuto paternal. Pressentindo a azáfama que se seguiria, telefonei-lhe para Maputo ainda do corredor da maternidade, era o seu 80ª aniversário! Foram breves palavras, saudações mútuas, ele convocando a felicidade futura da pós-nascitura, eu aventando-lhe "muitos e bons". Mas não foram... Fiquei uns meses por cá, quando regressámos foi a correria esperada, a rotineira e a de recuperar o que entretanto não se havia feito. Depois soube que estava doente, encolhi-me num "não vou incomodar".
 
Hoje é o dia do "Corpo de Deus". Pouco (me) importam as questões da fé alheia, suspendo o sorriso diante destes feriados religiosos flutuantes, que sempre me parecem inspirações astronómicas em tempos ditas paganismos. Apenas recolho o que me é relevante, noto a festividade como um dia em que os crentes se congregam para convocar o bem. E no qual os incréus seguimos repousando, nisso plácidos. Mais pacíficos do que na labuta. Ou seja, é um dia para o bem no mundo.
 
E por isso me lembro do mais-velho Zé Craveirinha. Em particular de um poema dele. Não o que sinta como um cume da sua obra. E sem que partilhe do simbolismo invectivador que convoca. Explico-me, de antemão: desagrada-me a ideia de serem os judeus (ou israelitas) arvorados em "povo escolhido", nisso com responsabilidades especiais. Ou seja, que o sofrido às mãos nazis (e sob tantas outras, já agora) os obrigue a uma maior benevolência. Pelo contrário, têm o direito de serem como todos os outros povos: e assim péssimos. E os outros, nós neste caso, têm o dever de os aplacar, controlar. E também não vou perorar sobre as causas do "conflito israelo-árabe", que não faltam palavrosos sobre isso, que o anseio fetichista de "tomar partido" é pandemia vigente.
 
Mas há muito que é evidente que os israelitas perderam a tramontana: "Are you out of your fucking mind?", resmunguei em Novembro, pois resmungar é única coisa que um tipo pode fazer. E assim, neste dia para o bem, transcrevo o poema do Craveirinha, escrito no rescaldo de uma sua visita ao Líbano - e que o Nelson Saúte juntou à sua excelente antologia de poesia moçambicana "Nunca Mais é Sábado" (D. Quixote, 2004):
 
Tâmaras Azedas de Beirute
 
 
Plagiando a "blitzkrieg" dos seus saudosos tempos nazis
soldados judeus em apropriados dromedários de aço
de nefastas patas blindadas
assolam o Líbano
E MATAM!
 
Dedico a minha solidariedade aqui mesmo em Maputo.
Sirvo-me da máquina de escrever e da minha insónia
e um sobrevivente palestino na tenda metralhada
ouvindo esta mensagem certamente ficará
grato pela minha camaradagem moçambicana
mas não terá nas suas mãos crispadas
nem sequer uma espingarda a mais
contra as semíticas automáticas
do inimigo.
 
Neste papel estarei quite com a minha consciência
mas as crianças assassinadas terão outra vez vida?
E as tâmaras azedas de granadas deflagrando
serão novamente tâmaras doces
nos desfeitos lares
de Beirute?

16
Mai24

Sobre os livros que vou lendo (2): 25 de Abril Sempre!

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Falo destes livros:
 
1. Eduardo Gageiro, 25 Textos de Autores Portugueses Sobre Fotos de Abril (Avante, 1999);
2. Mia Couto, Vinte e Zinco (Ndjira/Caminho 1999);
3. Sebastião Salgado, Um Fotógrafo em Abril (Caminho, 1999);
4. Mário de Carvalho, Apuros de Um Pessimista em Fuga (Caminho, 1999);
5. António Borges Coelho, O 25 de Abril e o Problema da Independência Nacional (Seara Nova, 1975);
6. Alfredo Cunha, O Dia 25 de Abril de 1974: 76 Fotografias e Um Retrato (Contexto, 1999);
7. J.M. Lameiras, J.P. Paiva Boleo, J. Ramalho Santos, Uma Revolução Desenhada: o 25 de Abril e a BD (Afrontamento, 1999);
8. Adelino Gomes, José Pedro Castanheira, Os Dias Loucos do PREC (Público/Expresso, 2006).

04
Mai24

Jubilação

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Um dos sinais da tão crescente idade é assistir-se à jubilação dos professores que nos fizeram. É bom sabê-los ainda intelectualmente viçosos e embrenhados em pesquisas e na escrita. E que estes términos apenas advêm dos ditames administrativos, isso da classe etária dos "mais-velhos" ser arredada da docência. Ainda assim estas "jubilações" não me trazem "júbilo".
 
Há meses retirou-se (nestes moldes, repito para sublinhar que ele continua activíssimo) João Leal, o professor que mais me marcou na vida, intelectual e pragmaticamente. Pois quando eu leccionava quantas vezes, e durante tantos anos, me interrogava eu "como é que o João Leal abordaria isto?", os conteúdos que me cabiam (re)transmitir...
 
E agora, nesta próxima semana, jubila-se João Pina-Cabral, o antropólogo português que mais li - ele é (e continuará a ser) prolífico, e nisso substantivo, conjugação que nem sempre acontece a outros. Também ele foi meu professor naqueles jovens anos da antropologia lisboeta nos 1980s, depois dele fui colega na UEM noutros jovens anos da antropologia, os do início de XXI em Moçambique.
 
E, a latere, o "Pina" (como a "velha guarda" se lhe refere) publicou o ano passado um livro de reflexões ancoradas em Moçambique, o "Transcolonial", que muito debate intelectual poderia ter alimentado, não fosse o ambiente intelectual nacional estar condenado a mimetizar as nada patuscas páginas do "Público".
 
Enfim, dia 9, quinta-feira, às 17 horas, os que estão em Lisboa poderão ir assistir à sua "última aula". Nós-outros, os do além-Trancão, poderemos assistir no computador.

17
Mai23

"Antes que a gente morra" do Nuno Quadros

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Venho lembrar os que estão em Lisboa, e nas suas cercanias, que amanhã (18 de Maio, fim da tarde) o Nuno Quadros apresenta no Príncipe Real (na "Cabana", no Espaço Embaixada), o seu livro, a que tão apropriadamente chamou "Antes que a gente morra".  

O livro é muito de saudar, pois o Nuno “chegou-se à frente”, numa prosa desinibida de suave sorriso trazendo-nos as suas memórias dos agitados mundos em que tem vivido: do tardio Lourenço Marques até ao Maputo de hoje, cruzando os outros continentes pelos quais tem passado o seu agitado percurso, e nisso também evocando com extremo carinho gente de quem se gosta. E - também muito a saudar - sem com isso nos chatear com manifestos, diagnósticos, proselitismos ou sentenças… o livro é para ler, mesmo. 

E amanhã é aconselhável aparecer no "lançamento" - decerto que haverá as obrigatórias "breves palavras". Mas também um ponderado copo de vinho e alguma música para dinamizar o tão necessário Convívio... "antes que a gente morra". 

Por mim, caso a malvada IBERIA me consiga levar a Lisboa a tempo disto, lá estarei. Até porque acalento a utopia de lá também encontrar alguma chamuça, para apicantar o tal... convívio.

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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