Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nenhures

Roman Sanguszko, príncipe.

"This looks like mere fanaticism. But fanaticism is human. Man has adored ferocious divinities. There is ferocity in every passion, even in love itself. The religion of undying hope resembles the mad cult of despair, of death, of annihilation. The difference lies in the moral motive springing from the secret needs and the unexpressed aspiration of the believers. It is only to vain men that all is vanity; and all is deception only to those who have never been sincere with themselves".

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, 218)

(antes deixado aqui)

rushdie.jpg

(Fotografia de Richard Burbridge)

Na The New Yorker um grande artigo - "The Defiance of Salman Rushdie", escrito por David Remnick - sobre o regresso de Rushdie, debilitado mas recuperado do fanático atentado que sofreu há meses.... Encontro-o na página da revista no Twitter, na qual a este propósito abundam os comentários pejados da sanha assassina dos fascistas idólatras da superstição, uma coisa pavorosa.
 
(Uma viscosa aberração que é também "muito cá de casa". Pois não propôs há tão pouco tempo o PS de Costa um candidato ao Tribunal Constitucional, antigo governante de Guterres, íntimo correligionário de Sócrates, que como deputado dizia no parlamento serem os terroristas islamitas iguais aos artistas ditos iconoclastas - e isso diante do silêncio geringôncico, que para esse indivíduo não houve escrutínio"woke" nem "causas" libertárias?).

"...patriotism - a somewhat discredited sentiment, because the delicacy of our humanitarians regards it as a relic of barbarism ... It requires a certain greatness of soul to interpret patriotism worthily - or else a sincerity of feeling denied to the vulgar refinement of modern thought which cannot understand the august simplicity of a sentiment proceeding from the very nature of things and men". 

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, p. 206).

 

 

Neste Fevereiro cumpre-se um ano de guerra na Europa. A qual vem implicando um enorme esforço assente no "patriotismo", o ucraniano. E é interessante ver como na Europa, e por cá, a extrema-direita "soberanista" logo se tombou por simpatias pela força imperial agressora contra o que sempre diz defender, as tais nações, nisso confluindo com a esquerda comunista, esta que sempre se reclama de avessa aos "impérios". Sendo os democratas, mais ou menos confederativos, os grandes apoiantes desse esforço patriótico. De como a realidade bem mostra a falácia das demagogias.

joseph_conrad_part.jpg

"It was the dead of winter. The great lawn in front was as pure and smooth as an Alpine snowfield, a white and feathery level sparkling under the sun as if sprinkled with diamond-dust, declining gently to the lake - a long, sinuous piece of frozen water looking bluish and more solid than the earth. A cold brilliant sun glided low above and undulating horizon of great folds of snow in which the villages of Ukrainian peasants remained out of sight, like clusters of boats hidden in the hollows of a running sea."

(Joseph Conrad, Prince Roman, Selected Short Stories, Wordsworth, 1997, pp. 207-208)

- Sobre o britânico Joseph Conrad e polaco Józef Korzeniowski, e nisso também sobre suas ideias relativamente à Rússia, ver este interessante artigo, muito recorrendo à sua correspondência: "Conrad and European Politics", de Sylvère Monod

(Deixara esta citação há muitos anos no ma-schamba)

convite colibri.png

Em Maputo, hoje às 17.30 no Instituto Guimarães Rosa, será apresentado o n.º 1 da revista literária Colibri Noir. Trata-se de um ambicioso projecto da industriosa parelha (que é também casal) Teresa Noronha & António Cabrita. Os quais logo anunciam ao que vêm com esta realização, no propósito de afirmarem que "só o invisível (o que ainda não foi designado) traz qualidades ao sensível, é a sua anti-matéria, só a consciência do que está longe dá valor ao que nos é próximo e ainda não atingiu o seu realce. (...) estes cadernos mostrarão o que compõe morfologicamente o “corpo subtil” (outros lhe chamarão espírito) e lhes alimenta leituras e descobertas, as gratificações que lhes nutrem o afecto ou as consternações.". Para isso contam com os textos daqueles "Que gostam de andar ao relento e de sondar com a sua língua bifurcada ventos e poros alheios. A língua bifurcada de quem sonda outros níveis de realidade, o inaparente sob as aparências, o que possa desvelar o cerne."
 
Com esse desígnio o plantel deste primeiro cometimento é heterogéneo. Vem encimado por capa e algumas ilustrações de Idasse - e nisso invocará a memória, 4 décadas passadas, da lendária revista "Charrua", fulcral entroncamento no país literário. Mostra-se aberta a pequenos ensaios (Saer sobre Emily Dickinson), apresenta alguns "novos" poetas moçambicanos - novos porque nunca os li, entenda-se - David Bene, Mélio Tinga, Venâncio Calisto, e escritores estrangeiros, alguns nas palavras originais, pois portugueses ou brasileiros, outros traduzidos. Entre eles com as coincidências da presença do agora falecido Christian Bobin e da recém-Nobel Ernaux. Enfim, esta Colibri Noir é uma pérola, excêntrica no agreste terreno de publicações literárias nacionais. Mas sê-lo-ia, pérola, noutro sítio qualquer.
 
Por isto tudo, e muito para além da mera simpatia para com o "projecto" - para com a realização, melhor dizendo - será de lá ir, hoje, às tais 17.30. E comprar um ou mais exemplares, para ler, oferecer, emprestar. E, mais do que tudo, viabilizar - economica e afectivamente.
 
Olho para o convite que recebi e não deixo de sorrir. Pois só poetas militantes organizariam tal apresentação coincidindo com o Portugal-Gana e o Brasil-Camarões do Mundial de Futebol... Pois quantos de nós, leitores amadores e até mesmo alguns dos literatos candidatos, hesitaremos nisso do "que fazer?"... Eu, pragmático nunca-poeta, espero que o (para mim sempre) CEB por lá tenha um ecrã grande para se ir deitando o canto do olho aos jogos - e lembro, com tanto carinho, lá ter visto, entre casa cheia de gente esfuziante, a épica final do 1998, com a Inês, então minha mulher, e o tão saudoso Álvaro Neves da Silva.
 
Enfim, já divago... Do que se trata é da possibilidade de ir ver a apresentação do Colibri Noir. E de o comprar. E de o patrocinar. Que, pela amostra dada, mais do que justifica. Avante!

Gerente

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub