Há coincidências, e abundam nisto das leituras. Há dias um amigo que fora ver - e gostara - a antestreia do "O Pior Homem de Londres", filme de Rodrigo Areias, actualmente nos cinemas, resumia-me o argumento. E isso fez-me sorrrir, pois acabara de ler um texto sobre a personagem protagonista do filme, o pelos vistos nada recomendável luso-britânico (?) Charles Augustus Howell, objecto que fora de uma já antiga alusão (1992) em "Esboço de um Valdevinos" que integra este interessante colectânea "O Eixo da Bússola", de Mário Cláudio, publicado pela peculiar (e falida, ao que me constou) editora Quasi em 2007.
O livro, que vou lendo pausadamente (cada vez leio menos ficção e mais crónicas, ensaios ou opiniões, coisa da idade, dizia o meu pai), agrega textos publicados na imprensa pelo autor desde finais da década de 80. Estava na estante, esquecido, e ainda bem que o resgatei à ileitura, ainda que alguns sejam agora algo crípticos. Mas é interessante seguir ao ritmo da prosa de Mário Claúdio, diferente daquela que foi instituída na sua geração autoral, num cuidado estilo - ainda que por vezes exagerado, como ao referir-se ao grande Aquilino Ribeiro num "Um dos ângulos mais interessantes do território aquiliano, entendido este como expressão de uma personalidade perpetradora do texto, e como obra extravasante de quem a segrega, resulta da coincidência de um irresistível apego à domesticidade e um forte pendor para as amplitudes do Planeta" (167) - sequência que me convoca um "raisparta, homem, facilita...!".
Mas é mesmo recompensador percorrer os textos - como quando lhe encontro um breve "Um Mau Escritor" sobre o espanhol Blasco Ibañez (há 100 anos um best-seller, como tantos de agora que tão elogiados são), de quem tenho os avoengos livros, já puídos, à espera de serem lidos, e que agora decerto não o serão...
Enfim, fica a recomendação, quem apanhe este volume nuns quaisquer salvados fique com ele. Vale bem lê-lo.