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Nenhures

Nenhures

30
Set24

Ensaios da Fundação

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As redes sociais são uma coisa terrível, alienante. Bastou eu ontem ter louvado um espectáculo ocorrido na Fundação Gulbenkian e a esta ter, apenas en passant, equiparado a Francisco Manuel dos Santos, para me acontecer,

que no mesmo dia recebi um convite para jantar hoje. Durante o qual falámos da importância "diagnostical" dos "Ensaios da Fundação", uma já vasta série - e de eu me ter desdobrado em elogios ao "Terra Firme" do bom do José Navarro de Andrade, meu esporádico parceiro de bancada, e também ao "Culatra - Ilha com Gente Dentro", de Ana Cristina Leonardo, que li durante o acantonamento pandémico, já para não falar do obrigatório "Cidade Suspensa", o retrato de Lisboa nesse Covid feito pelo amigo Miguel Valle de Figueiredo. E então, antes do digestivo, o anfitrião meu consanguíneo ausentou-se, logo regressando com a oferta: a sua colecção dos tais "Ensaios da Fundação".

Evito a meia dúzia que já tenho e regresso a casa, notando ter agora a colecção completa dos primeiros 70 volumes. E onde colocá-los?, que já não há estantes disponíveis (nem paciência para os distribuir por ordem alfabética, escadote acima, escadote abaixo). Acoito-os, em verdadeiro registo "colecção", sob um Gemuce. Assim mais alienado (de espaço), a tal perfídia destas redes sociais...

29
Set24

A ler Stefan Zweig

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Dois pequenos livros, preciosos, de Stefan Zweig, um escritor que fora algo desvalorizado - cá em casa os meus pais haviam remetido vários dos seus livros para a arrecadação, onde se acumulavam pilhas dos menos apetecíveis e/ou mais esquecíveis. Abarcando-o nessa despromoção, porventura por questões de gosto ou de desatenção. Ou mesmo apenas por falta de espaço nas estantes... De qualquer forma, o interesse no escritor foi revitalizado - e algumas (re)edições surgiram -,  um pouco na sequência do filme que lhe foi dedicado, o "Adeus Europa".

Li agora "Uma História de Xadrez" (Relógio d'Água, 2017, 72 pp., tradução de Ana Falcão Bastos), uma publicação já póstuma (de 1943). É um dissecar das constituintes da mente, na sua diversidade e na diversidade das formas como é construída. Pois a trama é o combate entre um génio xadrezístico silvestre, um rural inculto predestinado, e um refinado vienense (daquela "Viena" que foi centro de civilização) que se fez xadrezista por sobrevivência. Mas o substrato é a ascensão do Anschluss, a adesão austríaca ao nazismo. Numa descrição que tem imorredoira actualidade, mesmo que o diga eu sem preocupações escatológicas: "Mas os nacionais-socialistas, muito antes de equiparem os seus exércitos contra o mundo, começaram a organizar em todos os países vizinhos, um outro exército igualmente perigoso e bem treinado, a legião dos desfavorecidos, dos humilhados, dos ofendidos. As suas chamadas "células" estavam instaladas em cada repartição e em cada empresa, e os seus informadores e espiões encontravam-se por toda a parte..." (p. 34). 

E também "Foi Ele?" (Assírio & Alvim, 2023, 64 pp, tradução e - incisivo - posfácio de Francisco de Nolasco Santos), escrito já no exílio e publicado em 1942. A trama, facial, é a de uma sobreprotecção amorosa a um cão, assim crescendo tornando-se mastim, energúmeno. É quase uma evidência encontrar no texto a metáfora, tão actual na era da escrita da obra, sobre a ascensão da besta nazi, acarinhada no seu germinar até se tornar incontrolável, assassina. Mas lendo-a nos tempos de agora ocorre-me uma leitura com menor pendor metonímico. Pois no texto encontrando como se um augúrio sobre os efeitos desta disseminada transferência afectiva para os "animais" (os de estimação, claro), esta "petização" que grassa. Uma verdadeira monomania, já com efeitos políticos. E, decerto, com implicações psicossociais.

14
Set24

Com despudor

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Há umas semanas o Pedro Correia foi aqui muito gentil comigo. Hoje sou de novo mimado, e pelo Afonso de Melo. Que deixa no "...Sol" está este afabilíssimo texto sobre o meu livro "Torna-Viagem" - esse que só se compra através desta ligação. Aqui o partilho na esperança de nisto despertar alguma curiosidade leitora. Ou mesmo solidariedade divulgadora.

(E, já agora, isto de uma edição de autor - desconhecido, e em formato de impressão por encomenda via plataforma editorial - chegar a um semanário nacional tem "o seu quê...". Sim, é muito "mafia olivalense". Mas mostrará a outros que é possível publicar para além do remoinho das "editoras").

Enfim, aos que se decidirem interessar: espero que apreciem este meu "Torna-Viagem". E, se puderem, que o divulguem.

06
Set24

Sobre livros

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Almocei ontem com amigo, homem de (imensas) letras e (muitos) livros. Previdente, está a acamar o rumo que eu percorri aos trambolhões, o do regresso à "pátria amada" (daqui a dois dias fará uma década que me rasguei todo a aportar aqui, ao deus-dará!, tanto que ainda em chagas não cicatrizadas sigo...). Ufano do amoroso conforto familiar que agora escora, convida-me para a sua nova casa, bonita, em belo recanto lisboeta, a mostrar-me (tardiamente, hélas...) como deveria ter eu seguido. Está ele lindo, aparado, olhar viçoso. Desapressado e... feliz, raios o partam...!
 
Almoçamos, nada frugais nem simplórios, uns bons bifinhos, as irresistíveis batatas fritas de pacote ("corte no sal", dir-me-ia o médico de família - que o tenho, privilegiado sigo - se me lesse), o ovo estrelado, as cervejas bem geladas, a decente garrafa do tintol ("Zé, não és alcóolico?", perguntava-me uma belíssima - que olhos!, que olhos! e que enleio os enlaça... - amiga, agora sediada lá para Santo André de Sines, "não", reforcei-me franco, "tenho o hábito, não o vício...").
 
Nisso alongamo-nos tarde afora, não lhe desamparo a casa, ele discorre sobre o Moçambique que - malgré tout, como dizem os letrados - se nos entranhou, amamos, cada um de nós à sua maneira, mais telúrica a minha, que sou (fui, fui, que a vida já se me passou) muito mais de diarreias de mato do que ele, artístico intelectual ainda que algo andarilho, justiça lhe seja feita. Sorrio diante de algumas querelas, filhasdeputice mesmo, que ele me narra, coisas de um pequeno mundo (tão pequeno, o laurentino, sem disso se aperceberem os por lá...) que tão bem recordo mas já estranho. Algumas novidades me dá, mais as literárias e académicas. Folheio, conspurcando as páginas com resquícios dos tais bifes alambazados, o poeta Taruma que ele tanto me recomenda ("o melhor que está a acontecer por lá...").
 
O álcool liberta, é consabido, e pela primeira vez expresso para além do espelho o meu lamento por ter perdido um amigo de lá, desagradado comigo ficou um tipo de que tanto gosto e tanto admiro ("Zé, tu fazes tanta cerimónia com o ....", dizia-me a Inês, arguta, e sorridente diante daquele meu tamanho afecto, quase paixão máscula). Pois perder mulheres faz parte mas perder homens?!!!, um gajo que é gajo não sabe viver com isto! O mais-velho à mesa sorri, pois é isso mesmo, mais-velho, quase sábio, e matiza a coisa, num "acontece...". Mas, e ainda assim, arrependo-me de ter aberto a mítica alma sobre este assunto, minha mágoa mesmo... "Corto, porque não és meu amigo?", direi depois dali sair, diante do primeiro bagaço na tasca da esquina...
 
Saí ajoujado com os livros que me ofertou, cinco dele recentes que eu ainda não tinha - e já tenho um alargado naco de prateleira a ele dedicado - ("caramba, como é consegues ler se tanto escreves?", pergunto-lhe, em vera franqueza, "leio menos do que devia", ri-se, sabendo que o sei leitor voraz...). Mais colectâneas e revistas que promove. Uma delas dedicada a narrativas de viagens, e ele, piedoso, em vero "coaching", deixa cair que "vou-te pedir um texto para um próximo número". Sorrio, sei que não pertenço ao clube literato, que nunca tal acontecerá. Mas à noite - depois dos inúmeros bagaços durante o jogo com os croácios - percorro a revista, pejada de tipos que viajam para falar dos livros de viagens que leram, raiosospartam. Nem memórias de uma gaja (ou, vá lá, que agora é assim, de um gajo...). Ou seja, teria eu de falar do Rimbaud, do Chatwin, do Naipaul mas não da Josefina, Ivette, Bárbara (que eu, isso dos gajos não é o meu campeonato, chamem-me reaccionário se quiserem)?
 
Mas volto à mão cheia de livros que ele me doou - "eh pá, não te trouxe um "Torna-Viagem" dos meus, pois não tenho sequer um exemplar", tão falido estou que nem o meu livro compro, e ele sorri, beneplácito e aliviado, pois assim não terá de folhear o meu atrevimento, ficando imune à minha jamais pergunta "o que achaste?". Mas pergunto-lhe das suas editoras, ele aflora a zarzuela que são... Nem sabe quanto vendem os seus livros, pouco ou nada ganha com eles. Um seu recente romance valeu-lhe... 200 euros!
 
Que os editores são uma cáfila asquerosa a gente já sabe mas ainda assim me espanto diante de tamanho desplante. Conto-lhe, até impante, que o meu livreco, edição de autor via plataforma digital multinacional, implica que todos os finais de mês a empresa me informe "vendeu x exemplares" "segue depósito de X euros". E neste Agosto deu-me para pagar a água - e como preciso eu de ajuda para pagar as despesas fixas... Espanta-se ele. Com este já inusitado modo de pagar a quem escreve. Antes perguntara-me ele (como tantos o fazem) "porque não escreves no ...?", e cada um diz o jornal da sua preferência (o "Record", o "Sol", o "Observador", há até gente que se atreve a chamar-me puta de esquina e diz "Público"). "Porque não pagam!", respondo sempre, "para isso prefiro blogar". Isto, claro, para além de ninguém me convidar...
 
Mas digo-lhe, e nisso sigo agora eu o sábio, "deixa lá essa escumalha das editoras". Avança para as plataformas, não têm o penacho dos pobres dos "lançamentos", a pantomina das "feiras dos livros", a miséria das "recensões" encomendadas nos jornais ilidos. Mas pagam-te, porra! 200 euros por um romance? De autor algo conhecido? Vão estes tugas para a ... que os pariu!
 
Avancei no dia. E constatei, de novo, que o Roberto Martinez está a mais. Viva o CR7! Leonardo Jardim ao poder, já!!!
 

01
Set24

Na esplanada dos Olivais, sobre publicar livros (e ecoando ecos...)

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31 de Agosto na esplanada dos Olivais, uns amigos a chegarem de férias, outros preparando a partida (quiçá também eu, pois até a mim acicatam a demandar o temível Algarve, num "anda lá!" camarada). Mas, e acima de tudo, a tarde escorre no frenesim do Sporting-Porto que aí vem, enquanto a imprensa regurgita o xenófobo despedimento do estrangeiro do Benfica ("CHEGA", clamam os benfiquistas enquistados!!), após a escandaleira da véspera em Moreira de Cónegos (vero "roubo de catedral", como décadas atrás era tão comum, e como há pouco Vieira recuperou como modus faciendi). Nesse entretanto, de múltiplas, até demasiadas, rodadas de "imperiais" feito, um amigo avisa-me, ladino sorridente, "já te vendi 4 livros", ali mesmo, agora mesmo, à mesa. De facto o Afonso é o meu agente dilecto, pois enquanto eu aos outros apenas tartamudeio a disponibilidade do meu sofrido (sofrível?) "Torna-Viagem" (só se compra através desta ligação), ele impinge-o sem rodeios aos mais hesitantes em comprar (livros) na internet. Num até arisco "ainda não tens o livro do Zezé?", "então dá cá o dinheiro que eu compro-to....", lesto, até ávido, no teclar do telemóvel. Implacável, talentoso. E os incautos olham-no irresistível. E pagam...

Eu sorrio, claro, pois assim sendo as vendas aproximam-se dos 200 exemplares. Explico-me: muitos anos a escrever em blog(s) e uma série de amigos a convocarem-me a publicar em livro. Tanto que fiz colecção para tal. E logo alguns desses amigos a fizeram chegar a editores. Até mesmo, os mais das letras, aos seus editores. Nenhuma resposta, como dizem ser hábito nessa gente - estou habituado, um tipo candidata-se a imensos empregos e não lhe respondem, é a cultura tuga, não é esta ignomínia um monopólio livreiro... Até que um desses editores - que publica um talentoso amigo meu - me respondeu, simpaticíssimo mas acima de tudo competente pois... respondendo. Dizendo-me, em suma, "gosto do que li mas venderá 200 exemplares em livraria e perderei dinheiro".

E assim, se conseguir vender essa quantidade nesta difícil modalidade de edição de autor, numa plataforma digital com impressão  por encomenda - os livros ficam mais caros, a compra é mais difícil, a visibilidade é nula - poderei pensar, até especulando sorridente "em livraria teria vendido... 400, não terias perdido  dinheiro!". Mas é certo, neste molde os livros ficam caros: amigo no Brasil  apenas praguejou, tanto que lhe enviei um exemplar (o meu único, diga-se), tão querido me é ele. Outros amigos de cá, tesos como eu, resmungam um "quatro euros!" ao custo do envio postal, e que lhes posso eu dizer?, é esta a forma que me foi possível publicar sem despesas para mim, as quais impossíveis me seriam, afianço. Pior ainda se "lá fora": de Macau um co-bloguista disse-me esta semana que a remessa lhe custaria 39 euros (!!!!) - "foda-se!", não  lhe respondi eu - e que assim o tinha encomendado para um endereço amigo na velha "metrópole". Diante disso, estupefacto, fiz uma agora uma (tardia) simulação de envio para Maputo: 23 euros custará, um disparate para um livro que custa 16 (380 páginas, ficou assim...). Enfim, ficou o livro proibitivo no alhures em que tenho gente conhecida.

Mas retomo o que ia dizendo, por cá, "pátria amada", avanço para as tais 200 cópias vendidas. Sem divulgação que não seja a minha, e o boca-a-orelha de alguns amigos/conhecidos. "Tens de continuar a divulgação por ti mesmo, insistir nisso" dizia-me há tempos, enquanto manducávamos, o confrade bloguista Pedro Correia, culpado ele próprio de um vasto punhado de livros e, como tal, sabedor da poda. O Pedro foi mesmo companheiro e deixou um grande elogio ao livro - tamanho que, por si só, justificou a trabalheira da empreitada. Pois a gente envelhece, e por  rústico que fique o ego amolece-se aos mimos alheios. E nisso promoveu mais uma dúzia de vendas... Após o qual  lhe  prometi, me prometi, que em chegando ao tal número redondo, as 200 vendas, farei um "prova cega" de chamuças, nisso também recordando o "lançamento" do livro, no Roda Viva, restaurante moçambicano em Alfama, uma bela festarola até à 1.30 h. matinal pela qual passaram cerca de 90 pessoas: "isto é que é um lançamento de um livro!", repetiram-me os convivas mais noctívagos, enfáticos... E no qual vendi... 3 livros! Pois quem lá foi já teria encomendado o livro. E não havia (não há) exemplares físicos para o, já "aquecido", "levo mais um!!!". Coisas do método de publicação...

Mas mais, se conseguir cruzar o tal agora mirífico ducentésimo "Torna-Viagem" atrever-me-ei a colocar no "éter" mais dois livros. Um de opiniões apostas ao longo destas décadas de blogs - não são "crónicas", mas textos de opinião. Não sobre "Sócrates" e quejandos, que tanto nos ocuparam o bloguismo, mas sobre o mundo. Pátrio. Levará o nome de "O Podcast Mudo", título que muito me agrada. E um outro, produto da minha tentativa de tese - "não vais agora entregar um doutoramento", disparava ontem, certeiro, um catedrático amicíssimo, "claro que não, mas boto em livro", "ok, ok, assim está bem", aplaudiu ele. Será o meu "Basta Viver", verdadeira filosofia de vida...

Enfim, tudo isto é um (longo) preâmbulo para o cerne do postal, que quero uma espécie de "dossier de (falsa) imprensa" sobre o meu Torna-Viagem. Livro do que sou, escrito com os colhões - "não uses palavrões", zangar-se-ão comigo, até irados, mas não há equivalente para o termo, tão de semântica própria, nem "testículos", nem "vísceras", muito menos "alma", ainda que eles vestidos, convenientemente tapados, e falando castos. Não têm essas historietas o "imaginário" dos locais percorridos - caramba, eu sou antropólogo, não vendo essas tralhas, digo-as até vergonhosas, papáveis por incultos, ingénuos militantes. São historietas só eu mesmo... Um longo "on the road". Valem o que valem, mas não mentem. Ao menos isso.

Quanto ao tal "dossier de (falsa) imprensa"  que aqui colijo - ou seja, uma súmula do que sobre o livro foi falado nas redes sociais: é certo que manda a decência (um mínimo dela, que seja...) que um tipo não ande por aí a repercutir elogios alheios que recebeu. Mas suspendo-a, à tal decência, no intuito de convencer mais alguém a ler (ou mesmo a comprar) o "Torna-Viagem". 

Aqui estão os textos que guardei: 

1. No Facebook do Luis Novaes Tito (21 de Março), veterano confrade bloguista, foi precioso pois a encorajar os renitentes a usar este método de compra de livros (impressão por encomenda digital): "Já recebi o meu Torna-viagem  (o jpt do ma-shamba). Vou, para já, deixar só três linhas sobre o método “impressão sobre demanda” que achei interessantíssimo pela forma ecológica que significa e, agora que o processo se concluiu com a recepção do papel, pela eficiência conseguida.

Entre a encomenda e a recepção passaram quatro dias e tudo se processou com limpeza assinalável, incluindo no “tracking”. A edição da Bookmundo.pt é aceitável/bom. O livro chegou de Espanha pela Mibestseller.Es (penso ser uma sucursal da MyBestSeller B.V. – Países Baixos http://mybestseller.com ). Vantagens do método: Satisfação - A "vanity press", na expressão do autor (JPT), que assim publica sem a necessária complacência do editor; Pelintragem – A ausência da necessidade de “pocket Money”, na expressão deste vosso amigo (LNT), para dar à estampa sem o “Money” no bolso; Preguiça – A desnecessidade de ter de apanhar o Metro para ir à livraria; Ecologia – A poupança de árvores abatidas e de pó, ou tintas, dado que a impressão do calhamaço só se faz a pedido. (não há sobras) Até para um não adepto do LIVRE ou do PAN a coisa seduz. (...).

2. Também confrade bloguista, e nisso sempre pensador arisco, desenfiado "aos do costume", deixou Henrique Pereira dos Santos (28 de Maio): "Se me obrigarem mesmo a dizer onde é a minha terra, provavelmente acabarei a dizer que é Moçambique. Não nasci lá (nasci em Angola) e saí de lá cedo, com 14 anos mas, ainda assim, tudo pesado e medido, acho que, a ter de escolher, diria que é essa a minha terra. (...) Sobre o (...) "Torna-viagem", (...) reitero que vale a leitura, é um testemunho que resulta da recolha e selecção de textos escritos ao longo de 25 anos, com variações de temas e até de estilo, com muita coisa interessante. (...) As possibilidades que hoje existem permitem que qualquer pessoa dê testemunho da sua vida, quando acha que interessa pelo menos aos amigos, fixando esses testemunhos em livros. Eu acho isso útil agora para quem escreve, para quem lê agora e para os que um dia venham a ler mais tarde, permite pontos de vista únicos sobre lugares e tempos que entretanto desaparecem. E, no fundo, um livro é tão barato.

O Pereira dos Santos diz, e muito bem, que este tipo de livros, memórias de gente comum, pelo menos pode interessar os amigos (ou conhecidos, adianto) dos escrevinhadores. Alguns desses meus companheiros deixaram notas, que me são verdadeiros galardões:

3. Uma muito querida amiga deixou no seu mural de Facebook um bonito texto, ecoando como ao ler o "Torna-Viagem" me reconhecia a contar histórias em pleno convívio. Infelizmente apagou-o, presumo que desagradada com este meu rumo de amar o (meu) passado e não o (meu) futuro. Reaccionário, dirão alguns incompreendendo do que  a vida é feita...

4. O meu amigo Paulo Dentinho botou (17 de Março): "Conheci o Zé em Maputo, no século passado, num tempo ainda de ilusões e optimismo. Ele já por lá andava, adido cultural da embaixada portuguesa, eu recém chegado à terra onde tinha nascido. O Zé dinamizou o centro cultural português. Exposições, concertos, lançamento de livros, houve tanto naquele tempo! Alertou-me para personalidades notáveis e do meu absoluto desconhecimento, como o Gemuce, o Sitoe, o Kheto e vários outros. Pude assim conhecê-los e dá-los a conhecer no então “Acontece”, programa cultural da RTP. Bebemos copos, conversámos, discutimos, discordámos, rimos. E fizemos também um projecto a dois, levando até à Ilha de Moçambique uma grupo de artistas plásticos portugueses. À cabeça, Júlio Resende. Mas o tempo trouxe amarguras, desilusão, desencanto. Eu fui corrido de Moçambique na sequência de uma campanha miserável após as eleições de 1999. O Zé foi corrido do instituto Camões naqueles jogos incompreensíveis da nossa política nacional. Curiosamente, acabou depois por ser convidado para o mesmo lugar no centro cultural francês na capital moçambicana. Tal como eu, aprendeu que isto de ser querer ser independente e apenas servir o país tem custos. Em Portugal, servir o país é servir quem ganha eleições. É ser boy ou girl e estar disponível para ser serventuário do poder. Mas o Zé tem um feitio muito só dele… Embora tendo passado pela proximidade da diplomacia, não resiste quando a mostarda lhe sobe ao nariz. Pois bem, o Zé tem uma série de crónicas de Moçambique, onde o antropólogo que é e o curioso que também é se juntam num olhar crítico. A elas juntou também uma ou outra sobre esta nossa realidade portuguesa. Com a acidez do desencanto, pois claro. Estou a falar de um amigo e do livro de um amigo, não o escondo."

5. O amigo companheiro João Almada, lá de  Maputo, botou (23 de Abril): "Hoje, 23 de Abril, é Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Quero, por isso, deixar aqui a minha sugestão de leitura. Proponho um livro sui generis em vários sentidos, tanto no formato, como no conteúdo: não tem uma editora tradicional, física, palpável. A entrega do exemplar é feita após encomenda – mas asseguro-vos que chega tudo direitinho; pode ser lido de trás para a frente, do meio para trás, do meio para frente – os capítulos não possuem qualquer ligação entre si. Quanto ao conteúdo, Moçambique – onde o autor viveu duas décadas – é cenário de mais de 80% da “acção”, mas também Portugal, mais concretamente Lisboa, a sua terra de origem. O autor, pela sua idiossincrasia e profissão – antropólogo – explora tão bem o mato de Cabo Delgado do início dos anos 90 – em muitas aldeias nunca tinham visto olhos verdes, eram “olhos de sapo” – como a vida urbana de Maputo, Beira ou o délabré encantatório da Ilha de Moçambique. (...) é dos maiores conhecedores de Moçambique. Da sua realidade, dos seus contrastes, das suas vivências, dos seus povos, das suas clivagens. Não exagero se disser que o seu conhecimento do país é tão largo como a distância que separa a Ponta do Ouro, no extremo sul, de Quionga, no extremo norte. Os amigos – Kok Nam, Ídasse Tembe, Machado da Graça, Fernando Veloso, Shikanhi, entre outros – e os lugares – são lembrados através de histórias entre o delicioso e o comovente. Há alma, e grande, nas suas histórias. Depois, em Setembro de 2014, vem o regresso à terra, Lisboa, e, mais concretamente, ao bairro natalício dos Olivais, continuando “agarrado” a Moçambique pela “lapa” da toponímia: Av. Cidade de Lourenço Marques, Av. Cidade da Beira, Av. Cidade de Quelimane… As metamorfoses ocorridas em Lisboa nos últimos 25 anos levam José Teixeira a intitular-se “Turista na própria terra”. Há um claro espanto no retorno que o leva a identificar lugares que trocaram de ramo e, obviamente, de nome. As mercearias, as pastelarias, os cafés, tudo tão diferente. E então os pensamentos fluem em direcção à infância e adolescência e para a perda de amigos vítimas dos flagelos da época. Em “Torna-Viagem”, nome do livro, parte-se de histórias para dar a conhecer a História. E regressa-se, torna(se)-viagem, mais well-rounded person."

6. O velho amigo olivalense, e antigo co-bloguista no Olivesaria, Joaquim Paulo Nogueira apoiou-me assim (15 de Março): "Há muito que lhe reclamávamos obra impressa. Agora, aos sessenta anos (...) lança "Torna-Viagem". Antropólogo com vasta experiência de campo em Moçambique ( foi adido cultural neste país, deu aulas na Universidade Eduardo Mondlanee e participou em várias missões internacionais de acompanhamento de processos eleitorais), blogueiro intenso (bloques "ma-schamba", "És a Nossa Fé", " Nenhures" e nos colectivos "Delito de Opinião" e "Olivesaria", onde também colaborei) reune neste livro de pendor autobiográfico uma centena de crónicas escritas durante as duas últimas décadas. As primeiras sessenta, agregadas na primeira parte do livro, à qual chamou "A Oeste do Canal", são dedicadas a Moçambique. Viagens, pequenas histórias e personalidades que conheceu passam pela sua prosa. "Ocaso Boreal", a segunda parte do livro reune as restantes três dezenas de crónicas na qual, como diz "se debate com a sua actual aventura de retornado pós-colonial defronte à "pátria amada"". A escrita do Zé Flávio, amigo de há mais de quarenta anos e com os quais tenho uma saudável divergência política (e uma quase doentia convergência bairrista) é sempre farta e prolixa, informada e culta, instigante, provocadora. por vezes ácida, tantas vezes lúcida."

7. Um conhecimento mais distante, a moçambicana Amélia Russo de Sá, deixou esta gentilíssima leitura (5 de Julho): "TORNA-VIAGEM, é organizado em duas partes e integra uma centena de textos, a maioria curtos e muito, muito bem escritos. O autor, que viveu 18 anos em Moçambique, integrou na 1a parte 60 textos escritos nas ultimas décadas em que conta encontros, viagens e impressões da sua vivência no país.

Acabei de ler esta parte há dois dias e começo por dizer que gostei muitíssimo do que li. Fica-se com vontade de relê-lo , pois ainda que os textos sejam curtos, são também densos de emoções, sentimentos e reflexões pessoais que merecem uma segunda "visita". No narrar das diferentes estórias do que mais gostei foi da capacidade de o autor se interrogar sobre ele próprio e sobre as suas escolhas, à medida que relata factos que viveu com ilustres e desconhecidos . Apreciei a forma como consegue passar ao leitor a emoção humana que sentiu no que viveu, o sentido que deu ao que viveu e as dúvidas que teve e que partilha connosco. Durante a leitura senti lágrimas nos olhos mais do que uma vez. Algumas dessas estórias impressionam pela capacidade do autor em descrever a cena e a sua emoção ao vivê-la , às vezes sem ser demasiado explícita mas tocando o leitor pela densidade emotiva e humana e pelas interrogações pessoais que explícita.

O autor consegue manter-se na pela narração de factos, pelo registo do que se passou e sem que sintamos que ele queira "mostrar-se" mostrar o seu protagonismo. Ele oferece-nos contados factos vividos, não para se enaltecer a si mesmo, mas para, através do que viveu, nos levar a reflectir sobre o humano e a sua fragilidade ; ele vê- se e descreve-se na cena e sai dela para nos passar a emoção humana, já mais reflectida .

As referências ao Niassa e as descrições deixaram-me emocionada. O meu irmão e eu ali nascemos (.nos anos 53 e 55 ) , passámos ali uma infância tranquila, feliz , cheia de emoções; sabemos, sentimos que fomos ali muito felizes, com os nossos pais que tinham por essa região de Moçambique um amor e carinho especiais, ainda que tenham conhecido outras regiões (...). Vale mesmo a pena ler este livro de memórias que o autor dedica à sua filha. E não é preciso terem vivido em Moçambique ou em Portugal para apreciarem plenamente este testemunho de vida."

8. O Pedro Mota, também veterano de Maputo, deixou, hiperbólico (7 de Abril): "Acabei de terminar a leitura do “Torna-Viagem” (...) que contém uma centena de crónicas divididas entre Moçambique e Lisboa. (...) Ao que importa: O José Teixeira é dos poucos escritores que li até hoje, que tem a capacidade, o engenho e o talento de reinventar o português à medida que escreve as suas crónicas. Estas três qualidades só estão ao alcance dos predestinados: Tentei ler uma das suas crónicas do final para o princípio, e, sem surpresa, verifiquei que a verbalização inovadora permite que a crónica possa ler lida “a recuar”. Ainda há poucos meses, estava a pasmar no “D. Quixote” do Cervantes, e cruzei-me como três das muitas crónicas que o meu amigo escreve no facebook. Uma delas, creio, era sobre um funeral nos Olivais. O “Quixote” saltou para a estante, li e reli as crónicas, e intimei o José Teixeira a escrever, desde o raiar do sol até ao anoitecer. Não sei se vai obedecer à intimação, mas gostava muito que o fizesse. O José Teixeira publicou um livro que é obrigatório ser lido, por quem “vê” a literatura e a escrita como um campo por desbravar para os eleitos. Se é quase certo que todas as histórias já foram contadas, a arte máxima é reescrevê-las de uma forma distinta e superior."

9. E a maravilhosa Cristina Filipe Nogueira deixou (20 de Março) "Comecei a ler o José Teixeira há mais de uma década, num blog de um grande amigo, onde ele, tal como eu, era um comentador "residente". A sua escrita cativou-me de imediato e, desde então não mais parei de o ler. (...) De amigo "virtual ", rapidamente passou para um querido e grande amigo que me acompanha há anos. O Zé Teixeira é uma das pessoas mais cultas que conheço. Com uma experiência de vida incrível e invejável, é antropólogo , foi adido cultural em Moçambique, professor universitário, participou em inúmeras missões internacionais de acompanhamento de processos eleitorais e escreve. Escreve por e com paixão ( e que bem escreve!). Finalmente, repito, finalmente, decidiu publicar um livro, com uma compilação de textos, crónicas suas, da sua passagem por África e do seu regresso a Portugal." 

Enfim, quero eu vender 200 livros do "Torna-Viagem"? Hum, verdade verdadinha eu quero é gingar com estes elogios. 

 

 

25
Ago24

Uma semana jubilosa

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Por mais rusticidade, até altaneira em modo desprendido, que vá eu encenando sigo vaidoso, como tantos outros, a maioria desses, diga-se... E, pior ainda, mimalho. Como tal foi-me jubilosa esta semana que agora termina. Num tão assim que rara, mesmo. Narro-a para que não me reduzam a resmungão, dado ao azedume, amargurado pela vida, desatento às benesses que me recobrem.
 
Começou-me no texto do amigo Pedro Correia, o maior elogio - se explícito, másculo e público, ressalvo - que alguma vez recebi, louvando o meu "Torna-Viagem" em tais moldes que, como lhe disse, até me causou um frémito de estar já com "os pés para ... o forno", dados os laivos de eulogia que ali... temi. Nisso empurrou o livro. Este quase invisível (edição de autor, desconhecido, numa plataforma digital em impressão por encomenda). O amigo Pedro Morais, homem da banda desenhada, avisara-me de início, "editado assim se venderes 50 é livro de platina!". Eu esperava impingir 100, a utopia era 150... Mas agora, com este elogio chegou às 175 vendas! Digo-me, a mim-mesmo pois, se chegar às 200 encomendarei chamuças de diferentes origens para uma "prova cega".
 
Mas mais mimos me chegaram. A minha querida Ana, de que tanto gosto e me faz falta quando se ausenta, minha mana - "com a idade tornaste-te sentimental", há dias protestava outra amiga, telefonando de longe a combinar comigo os moldes de festa que aí vem, "sempre fui, agora não tenho é pejo de o mostrar", defendi-me -, a Ana, dizia, voltou após meses de Moçambique. Trazendo na carga - "só carreguei porque é para ti..." - uma bela oferta da também tão amiga Fátima: um grande frasco de achar de limão, confeccionado com os seculares saberes de Inhambane. Que mais pode querer um homem? "Mal arranje um portador envio-te um de achar de manga...", responde-me ela ao meu agradecimento! Matabicho de hoje? Malga de café, torrada barrada de achar...
 
Tudo isto orlo com um pouco de cultura, inesperado auto-mimo. Ando a ler os Voltaire - a reler, como se diz dos clássicos, avisou Calvino. E descubro, caído na estante atrás da fileira vigente, este "A Princesa da Babilónia", colecção de seis contos, que - a este sim - nunca lera. Comprado há vinte anos, diz lá. Muito melhor do que um livro novo é mesmo encontrar um esquecido.... E também recuperar um antigo, e nisso leio este "Vélazquez" (sic) com oito reproduções fac-simile em cores, editado em tempos bem recuados por Pierre Lafitte e Cie. Pois preparo-me, dado que ando há meses para ir à Gulbenkian ver o retrato do nosso rei Filipe III e não passa desta semana... "Não tens livros novos, aqueles da Taschen, e isso?, sobre o Velásquez?", mais as "Histórias de Arte" canónicas, carregados de ilustrações e de ensaios actuais?. Tenho, mas assim irei com o meu avô Flávio, que a este mono cá de casa, que resdescubro, comprou em 1911. Razão suficiente para me preparar deste modo, mimando-me com a ancestralidade.
 
Nisto cruzei o Tejo, rumo a almoço às portas de Almada, casa amiga sempre de boa mesa. Não sou grande admirador do comestível coelho, mas não me nego. Mas ontem, e já nestes meus 60 anos, deparo-me com o melhor coelho da minha vida - à mesa o autor reclama que o molho não ficou o espesso suficiente, adiantando razões que nem compreendo tamanha a voracidade com que mastigo. "Como se chama a receita?", pergunto, enquanto me sirvo de segunda pratada, "Coelho à sem nome", diz-me, ríspido, o talentoso artífice, que estou ali a conhecer...
 
Mas o maior dos mimos foi outro. "Pai, podes-me rever a tese?", pergunta a Carolina, e nisso estive eu, nestes dias, a reduzir-lhe as palavras - ajudando a adequá-la aos limites impostos -, a garimpar-lhe a (extensíssima) bibliografia, a comprovar-lhe a justeza sintáctica. Entregou-a na sexta-feira. Numa mescla metodológica difícil, associando Ciência Política com Economia (quantitativa, não a sociologia dita Economia Social). Debatendo as articulações entre investimento em energias renováveis, dívida externa e condicionamento político. Como estudo de caso esmiuçando o exemplo moçambicano. 22 anos, culminando o seu segundo mestrado, antes um na Nova, este agora na LSE. Deparo-me, sem espanto mas ainda assim com alguma surpresa, com um trabalho de grande robustez. E atrevendo-se a correr riscos intelectuais. Com competência e denodo. Pujança. Fica assim um pai babado, muito mimado. E como sempre a frisar: "quem sai aos seus não degenera". Pois a jovem puxou mesmo à Senhora sua mãe. Grande profissional, arguta intelectual.
 
E para esta semana já chega. Tanta coisa boa foi que vou celebrar, uma estroinice: almoçarei um crepe no chinês dos Olivais. Se alguém quiser passar por lá...

05
Ago24

Livros na mesa de cabeceira

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(Postal para uma série no Delito de Opinião)

Já o dissera na primeira série de "livros de cabeceira": este é-me "sítio de cabecear, assim de nunca trabalho. E quanto menos ando a ler mais os livros aqui apostos, alguns trazidos por mero fastio e depois aboletando-se, outros para rever só umas poucas páginas e depois esquecidos, mais aqueles vários que percorro em simultâneo, e uma ou outra escassa novidade". Ou seja, nenhum deles tem lugar cativo, alguns nem serão lidos, vieram para mera companhia, aguardando o regresso à prateleira devida.

É-me agora uma cabeceira solteira. Neste rumo, e com o passar do tempo, primeiro os livros ganharam o direito a pernoitar no leito, até dengosos a meu lado, plácidos pois nada ciumentos face às leituras alternadas (e distraídas, tantas vezes desamorosas) que lhes faço a desoras. E depois, um ou outro deles, tornados mais íntimos, arrogam-se mesmo a ali ficarem para matabicho e até "brunch", pois na manhãs de Verão nem os incomodo em arrumações, basta-me esticar lençóis e edredom. E se viesse a haver visita, companheira - sorri o mariola que em mim ainda habita, embora fenecido -, decerto seria bibliófila, não se atrapalharia.

Dorme comigo agora o "Faca...", a memória do atentado que Rushdie sofreu em Chautauqua, oferta do meu amigo Pedro. E me lembra quando evoquei os nossos que "compreendem" os terroristas islamistas, assim seguindo avessos à liberdade de expressão ao exigirem cerimónia - de "contextualização" e "multiculturalismo" feita -, que nada seja "ofensiva" das "crenças" alheias. Rushdie lembra alguns deles, os "democratas" - políticos, académicos, mas também escritores - que contra ele se indignaram, e que depois também desconsideraram os ataques aos caricaturistas franceses (e antes aos dinamarqueses, acrescento). Tal como se insurge contra os "correctistas" que querem a falsa pureza da "língua resgatada". Diz com alguma auto-ironia, diante do mais solidário ambiente que agora o acolheu após a convalescença: "Se a fortuna me tornou uma espécie de virtuosa Barbie, amante da liberdade, o Rushdie Liberdade de Expressão, abraçarei esse destino". E, denunciando a hipocrisia culturalista, culmina em grande "O respeito pela religião" tornou-se uma frase codificada que significa "medo da religião"." As religiões, tal como todas as outras ideias, merecem crítica, sátira e, sim, o nosso intimorato desrespeito". Mas o livro tem outros rumos, mostra o homem Rushdie, nas suas ambivalências, limites e vaidades. Ri-me quando - após criticar o fim da "privacidade" devido à mania das "redes sociais", - lembra ter colocado na véspera do atentado uma fotografia ("selfie"?)... na Instagram. E mais sorri, lá mais para a frente, com a nota da sua investida no Twitter. Afinal? E desilude-me quando simula um diálogo com o "A(sno)" que o atacou, páginas pouco vibrantes e demasiado autojustificativas, além das derivas "ensaísticas" sobre a religião, carregadas de um pobre evolucionismo oitocentista.

No monte, à espera, vem o "O Outro Nome", o I-II da septologia de Jon Fosse. A Ingrid, minha tão querida que eu não via há... 28 anos, ofereceu-mo durante o delicioso dia em que estivemos em Lisboa (e, tal como ela, quantos de nós - em tempos idos - não oferecemos Saramago a estrangeiros?, ufanos do nosso Nobel?). Já o provei, notei que é registo denso, monopolizador, incompatível com outras leituras simultâneas. Será em Agosto?, ou no mais soturno Inverno? Também aguarda, mas a fazer-me ansioso, o "No Cavalo de Pau com Sancho Pança", ensaio de Aquilino Ribeiro sobre Cervantes, que me foi dado pela Marta, oriundo da biblioteca do seu pai, o meu tão saudoso amigo Aventino Teixeira. Estou a acabar o "Histoire de la Province de Santa Cruz que nous nommons le Brésil", de Pero de Gândavo, autor louvado por Camões, o nosso primeiro livro sobre o Brasil (1576 - aqui em tradução francesa oitocentista), uma verdadeira pepita que nunca lera, uma atenta prenda da minha amiga Graça. E que decerto em breve será ululado pelos "reparadores da história", pois - enquanto descreve a magnífica natureza e as gentes lá alojadas - de modo bem despreocupado apresenta a boa vida dos colonos se dotados de mera meia-dúzia de escravos, quanto mais quando tendo centenas... Também por oferta, mas como se "institucional", chegou-me o "Monitoria de Políticas Públicas e Direitos Humanos em Países de Língua Oficial Portuguesa: uma Análise Comparada", que ainda aguarda o meu... sorriso descrente. E, ao invés, diante do meu sorriso crente na pilha mora o "A Trombeta do Anjo Vingador", um dos de Dalton Trevisan que comprei na última Feira do Livro. Tal como, e há pouco chegado, o "Derradeiro Suspiro Real", do nosso José Navarro de Andrade, um romance contrafactual (a República não foi...) que só descobri depois de há pouco lhe ter lido o "Terra Firme", do qual muito gostei.

Sou fraco leitor de revistas, é um suporte que nunca me agradou. Mas gosto de revistas antigas, legado dos meus pais... As literárias são uma verdadeira delícia - o tempo passado demonstra a recorrência das hipérboles, as loas aos livros "imperdíveis" já esquecidos, às grandes "revelações" entretando desvanecidas. Mas também trazem pérolas do passado, iluminações, reminiscências. Ali, já na outra mesa (como se com carimbo "visto"), de partida segue um suplemento da "Le Magazine Littéraire", o especial "Les années Apostrophes par Bernard Pivot", de 2015, simpática homenagem a Pivot que recuperei quando este morreu.

Em monólogo resmungão ressurgiu-me o tão sábio senhor Pangloss. E lembrei-me de há muito não (re)ler o "Cândido", de Voltaire. Preguiçoso estou, fui buscá-lo na versão portuguesa. E pude reviver esse precursor dos actuais turistas, algo intrigado com os nossos costumes locais: "Após o tremor de terra que destruíra três quartos de Lisboa, os sábios do país cogitaram em que o meio mais eficaz para prevenir a ruína total da cidade consistia em dar ao povo um rico auto-de-fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espectáculo de várias pessoas queimadas a fogo lento, com grande cerimonial, era um seguro infalível para impedir a terra de tremer". E bem me rio com as suas espadeiradas, ainda que "cândidas", aos inquisidores e aos jesuítas, enquanto louva (sim!) o amor interracial - além de nos lembrar como se produzia a cana-de-açúcar que tanto adoça a vida. Pois, de facto, naquela sua correria (des)venturosa não fica pedra sobre pedra: "P: Mas então  com que  fim foi o mundo criado? R: Para nos enfurecer."

Uma (pequena) crónica por dia, ou um pouco mais, é como leio "A Bagagem do Viajante", antigos "dizeres de um fala-só" de José Saramago (o livro é de 1973), uns mais datados, outros bem menos: "não há dúvida que Portugal envelhece", concluiu ele há cinquenta anos após relatar o que o circunda, também já desagradado com os "flácidos" monumentos municipais, e notava seguirem já vetustas algumas expressões correntes, de tão pejorativas que soam. O naipe, mesmo se aqui e ali deixa perceber o que aí lhe vinha (como em "História do rei que fazia desertos"), muito mostra como se lhe transformou a escrita nas últimas décadas de vida.

Irritado (irritadíssimo, mesmo!) com umas disparatadas declarações sobre o passado português (publicitadas no "Público", claro, e que encontrei via Henrique Pereira dos Santos), retirei da estante e para aqui trouxe o belo "A Rota dos Escravos: Angola e a Rede do Comércio Negreiro", cujo texto fundamental é de Isabel Castro Henriques, o qual tem imensas (e apelativas) ilustrações. Entretanto ainda cá está o "Comme les Amours" de Javier Marías, mas engasguei-me na sua leitura, é provável que não a acabe. E, marinando na mesa, ali aportado em dia de maior negrume, a colecção "Ficções do Interlúdio" de Fernando Pessoa. Vou (re)lendo, mas com muito cuidado. Pois não me convém exagerar nisso do "O porto que sonho é sombrio e pálido..." Pois para pior já (me) basta assim.

17
Jul24

No "Gambrinus" Conversando Sobre Livros

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O dia fora péssimo, acometera-me uma irritação gigantesca - desnecessária de injusta que tanto a senti -, nisso um gigantesco pico de tensão, tamanho que  me ocorrera, ainda que militante anti-hipocondríaco seja, um "será isto um enfarte?". Mas bom amigo havia-me desafiado para ir petiscar jantar e não me neguei, num "navegar é preciso...", urge viver a vida, parca que esta seja, e sempre na crença de que o bom convívio é bálsamo.  E assim acorri ao "Gambrinus", o balcão lendário, no qual não aportava desde o covid, malvado.

Está o estabelecimento como sempre esteve, excelente! E nisso o que este - cada vez mais  frugal - cliente realça é a qualidade do serviço, a elegância sem mesuras, a atenção acolhedora, a boa educação para isso sumarizar. Cada vez mais rara na cidade, massificada e gentrificada, assim boçalizada. Fomos ambos parcimoniosos, ele bebendo cerveja de pressão mesclada, ali dita "mestiça" - "já não se pode dizer mulata, pá!", esclareceu-me, sábio [Adenda: de imediato recebo nota de um amigo, verdadeiro veterano e sábio: e diz-me ele, "não era nem mulata nem mestiça, era um "gambrinus"!!" Obrigado, Nuno, temos de lá ir "antes que a gente morra"]. E eu fiquei-me na clássica "loura", a qual também mudou de epíteto, é agora remediada como "branca", derivas até paradoxais da actual higiene semântica. Entretanto, ocorreram-nos umas importantes torradinhas debruadas a fino presunto, que por si só justificariam a visita. E cada um de nós enfrentou um trio de croquetes, esses ex-líbris da casa, deliciosos como sempre o foram, satisfazendo o agora também ao convocarem laivos de memórias de incursões no antanho, naqueles apetites juniores ali mesmo recompensados. Este decorrer exagerou-nos a gula, e por isso coroámos o repasto com um prego per capita, "meio-termo" como o deve ser, cuja definição apropriada me exigiria o socorro de um qualquer dicionário de adjectivos, dada a extrema compostura do que me foi apresentado.

Neste entretanto foi diversificada a nossa conversa, flanámos as questões do mundo e da pátria. E depois disso nos apartámos, mergulhando em coisas de livros, lidos e feitos, conversa que se impunha, pois é ele já responsável por um punhado destes  - um dia até se deu ao trabalho, gentilíssimo, de peneirar uma Antologia do Delito de Opinião, blog onde ombreamos, e no qual ele vigora como coordenador -, e acabara de apresentar o seu último "Tudo é Tabu",

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cujo tom freudiano é apenas fonético, uma boa e até urgente "denúncia" do denuncionismo vigente, essa mania dos gringos para cá já importada, e com vigor. Obra que lhe invejo, pois bem ufano ficaria eu se a tivesse feito (e ao trocadilho do título também...).

E nesse entretanto digo-lhe que estou a ler um livro de nosso confrade bloguista e camarada de bancada (mais dele do que de mim, que sigo demasiado relapso ao José de Alvalade), o "Terra Firme", uma incursão pela produção alimentar no Alentejo, do qual muito estou a gostar, pela escrita, nada torneada à máquina sim bem moldada, e nisso macerada de devaneios. 

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Mas mais ainda, até nisso  surpreendido, dada a pertinência analítica e opinativa do José Navarro de Andrade - o qual arranca amiúde certeiros diagnósticos como este, logo à ombreira deste seu alentejanar: "Mas o que é tangencial para os idosos, para os novos é o epítome do inferno. Na desimpedida paisagem do norte alentejano, capaz de encantar os sentimentos telúricos dos forasteiros, os jovens defrontam uma wasteland sem trabalho para eles; e qualquer  esboço de ambição que acalentem de uma existência além de sofrível não cabe ali. Entre velhos e novos, todos os outros ficaram por lá ficar, nem sempre pelas más razões; uma vida ao arrepio de sobressaltos não é um bem negligenciável para quem tende a observar os sinais de progresso pelo óculo do atavismo. Vai-se a ver o  Portugal contemporâneo, no estado em que se pôs, e poder-se-á reflectir se afinal este cepticismo não terá sido avisado" (11). Ele ri-se quando partilho a minha surpresa face ao Navarro armado de escalpelo assim tão aguçado, e nisso obrigo-me a explicar, não fosse deixar medrar engulhos futuros, até melindres, desse que nunca se sabe...: o Navarro é companheiro e bem simpatizo com ele, mas deve ser o único sportinguista que detesta, e nisso é bem veemente, não só o Bruno Fernandes como também o Pedro Gonçalves, o que me deixou dúvidas sobre as suas análises para além-da-bola. Desfeitas agora...

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E continuando neste rumo de leituras amiguistas - mas para me encenar como leitor ávido, que o homem é mesmo voraz nisso -, referi ter acabado este curioso "A Sorte que Tivemos! Um Espectáculo Sobre Abril", um quinteto de textos, um do bom do António Cabrita, ainda lá por Maputo, e que eu vira (com o Navarro, pois eles são amigos) há poucos dias, dois de Rui Cardoso Martins, o qual sempre lembro com um dos raros bons cronistas na "imprensa de referência", nas belas peças nas quais nos trazia a vida dos tribunais, e nisto decerto o apouco, pois dizem-mo bom romancista, e outro de Jacinto Lucas Pires, de quem eu nada lia desde há já décadas.

O Pedro entretanto aflorara já alguns dos seus  projectos de escrita - pois o homem não abranda -, e convocou-me a que me explanasse eu sobre o tão íntimo assunto, inquirindo se estou a seguir os seus bons conselhos. Eu ri-me, pois desde há muito que me exige ele avançar eu numa colecção (re)escrevendo textos (de blog) em que articulo com o meu pai, o "Camarada Pimentel" - "para quê, não terei editora para isso", sempre tartamudeio, "pouco importa isso, avança", responde conduz, a distribuir alento. Mas agora ri-me, e por causa outra: pois neste "A Sorte Que Tivemos!" há um outro texto, "O Cavalheiro de Abril", dedicado ao  tal camarada Pimentel. Uma verdadeira delícia - pelo menos para mim, filho do descrito homenageado -, a deixar-me - mas isso não disse ao Pedro, pois não são coisas confessáveis - choramingando, mesmo chorando, também decerto por estar aqui no escritório dele, diante da sua secretária, na sua poltrona, entre as suas estantes e tantos dos seus livros. Belíssima peça esta vinda da Patrícia Portela, neta amada do meu pai, assim minha sobrinha, e mais do que tudo filha da minha mana tão querida.

"Não seja por  isso", sorriu o Pedro, "avante nisso, e agora ainda mais!". "E também nessas outras tuas ideias", que já me havia eu gabado de uma colecta de resmungos, já reescrita e de título armado, para além de uma espécie de catarpácio de antropologia, minha tapeçaria de Penélope.

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"Mas para quê?", insisti eu - e nisto já estávamos, a meu pedido, num breve Famous Grouse, vitualha mais adequada a resmungos. Pois se um tipo pouco vende, assim quase nada será lido, de que vale tamanha azáfama? E repeti-lhe, o meu "Torna-Viagem", que me deu uma enorme trabalheira, vendeu 160 exemplares. "Isso é muito bom!", "e ainda por cima nesse sistema de venda por encomenda na internet", disse-me, de novo ensaiando o alentar-me (um "coaching", diz-se no português actual).

Eu gargalho - nada como o tal uísque na mão, não há dúvida - e conto-lhe que aquando das 150 vendas fiz uma informação geral para os meus amigos e conhecidos, anunciando o facto. Descurando aquilo que dissera há meses a um velho amigo - romancista, e bem credor de melhor do que o silêncio leitor que recolhe. O qual é desde sempre, da nossa adolescência, dono de uma consagrada rispidez mas que me acolheu certa vez com surpreendente benevolência, elogiosa até, tanta que temi aparentar eu estar com aspecto deveras moribundo. Mas depois percebi-nos, ele decerto me andaria a ler in-blogs, e tive de o avisar - nisso libertando-o, para que voltasse ao registo agreste que é o dele, é ele, e é assim que deve ser - "éh pá!, atenção pois a autoderisão sarcástica não é lamúria!", ao que ele, lépido, ripostou "mas tens de meter um emoji, que agora já ninguém percebe as ironias"...

Mas, dizia eu, às 150 vendas fiz uma "circular" anunciando o facto. Era o número da minha anunciada utopia comercial! Mas a mensagem era também um sarcasmo, autofágico, e escrevo-o aqui como se fosse o tal emoji. E logo várias pessoas saudaram o sucesso, três académicos publicados dizendo-o com evidente sinceridade, dois outros autores também, sem pingos de ironia, sem odores de "coaching" - coisas que se detectam nas sintaxes, nos léxicos, nas entoações.. Ao que o Pedro, veterano da escrita publicada, resume: "mas são mesmo bons números, há muitos livros mas vendem pouco", haverá leitores e leituras, mas debruçados sobre temas e tons muito diversificados.

E "o  que é necessário", aconselha mesmo, "é que sejamos nós mesmos a fazer a divulgação". Pois não serão as redes sociais - e até porque já desfeita a confraria do bloguismo -, e menos ainda a imprensa. "Já o fiz", defendo-me. "Insiste", diz, autocrata, "repete!". "Impinjo?", aflijo-me, escorropichando o uísque. "Pois!", diz o mais-velho.

E assim saí, saímos, do belíssimo e tão recomendável "Gambrinus". Eu com esta missão auto-atribuída. A de não ser blasé, o que me será fácil pois abomino o blaseísmo. E isto de não ser blasé convoca-me agora a impingir o meu "Torna-Viagem" (que só se compra nesta ligação aposta no título). Mas também, já agora, e não porque qualquer noblesse oblige, estes livros d'amigos.

É Verão, verão que se podem ler. Todos estes que aqui referi têm as ligações apostas nos títulos. Basta comprar, um, vários, todos. E procurar um bom balcão - do "Gambrinus" em dia de festa, um qualquer mais modesto para o dia-a-dia. E ler.

15
Jul24

Moçambique

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Grosso modo vivi em Moçambique duas décadas. Saí há uma década. Vou acompanhando - não é o meu país, não sou nem nunca quis ser "dono da terra". Apenas gosto. Acompanho, repito, desde 92, quando encetei o mestrado. Mais desde 94, quando fui trabalhar "lááá" entre Montepuez e Balama. Ainda mais desde aquele 97 que para lá me levou com contentor e esperanças (aquelas, cândidas, de contribuir para que "isto", lá e cá, se percebesse melhor).
 
Agora, hoje em dia - como há já tanto tempo - uma das coisas que mais me interessa no país é a gigantesca produção do silêncio. Sobre a actualidade e sobre o passado nacional. O qual é, afianço como estrangeiro empático mas antipático, um gigantesco obstáculo ao desenvolvimento.
 
Ou seja, e porque para bom entendedor meia capa de livro serve, vão lá ler isto. E matizem os elogios, póstumos ou outros, iconográficos, moralistas ou intelectuais. Olhem o que foi. E o coro de agora de elogios à Justiça samorista, brotado nestes dias, em miseráveis eulogias, é, pura e simplesmente, repugnante.

03
Jul24

O primeiro dia sexagenário

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Pois lá me tornei sexagenário. Antes de tudo, na possibilidade de a todos agradecer, repito, qual sublinhado, na possibilidade de a todos agradecer - o que eu me rio com os taralhoucos que vão para o Facebook dizer "na impossibilidade de agradecer a todos os parabéns que me endereçaram", como se fossem a Tylor Swift, com milhões de "fans". Um tipo pode não ter vagar ou paciência para responder a toda a gente, mas clamar "impossibilidade" disso é pateticamente ridículo. E o sentido do ridículo não é congénito, é apre(e)ndido. O problema é que ninguém avisa os pobres mortais que estão a ser ridículos, acham antipática essa generosidade até pedagógica ... - Enfim, dizia eu, na possibilidade de a todos agradecer os bons votos que me enviaram (FB ou telefone) assim o fiz - e noto, encantado, que ninguém me "parabenizou", parece-me que essa praga de cretinismo lexical se desvaneceu, qual covid... -, e fi-lo porque muito me acalentaram as mensagens, simpáticas, recebidas. Porventura sinal de degenerescência proto-senil, um tipo a sensibilizar-se em demasia, assim já de pingo no nariz, até lacrimejando, a anca a dar de si, varizes entumescidas, e todos os outros itens do vasto rol que aí virá...

E para quem tenha curiosidade aqui discorro sobre o tal primeiro dia sexagenário. Uma querida amiga mimou-me, nisso providenciando-me o primeiro café. Após o qual assomei a esplanada vizinha onde camarada amigo me proporcionou parelha de "bicas", e partilhámos um queque como matabicho - sim, eu sei que assim dito parece um bocado gay, dois maduros a dividirem o bolito matinal, mas é no bairro, conhecem-nos, só dirão que são aqueles dois simpáticos sexagenários (pois, a partir de agora será assim...), meio desasados... Depois cruzei o dia em casa, fingindo escrever ("acaba lá isso tudo, a ver se se publica um livro", desafiou-me uma bela amiga, intelectual) enquanto ia atendendo o frenético telefone, um rosário de solidários amigos no "vais ver que não custa nada", clamando que se é jovem aos 60 e até aos 70 (é o que eu digo no primeiro parágrafo, as pessoas não têm a a noção do ridículo, e ninguém as ensina...). Consegui escapar-me a vários desafios para almoço, jantar ou convívios - tenho lá eu dinheiro para festas de aniversário ou meras rodadas que sejam...

Ao fim da tarde fui até ao Saldanha, à livraria Almedina, para o lançamento deste livro do amigo Pedro Correia, o comandante do blog Delito de Opinião, o "Tudo é Tabu", editado pela Guerra e Paz, no qual ele vergasta estes esquerdalhos identitários, também ditos "wokistas". O livro é recomendável... Lá assomei, pude conhecer um co-bloguista (emérito) no Delito De Opinião, e reencontrar um antigo co-bloguista do sportinguista És a Nossa Fé. Mas a sala estava composta, e constatei o que esperava, isso de não haver chamuças (ou croquetes, como no Rock in Rio) ou algumas bebidas espirituosas. Mas os comparecidos, de aparência elegante, não estavam com isso nada esmorecidos, e compravam o livro com afinco. Assim, percebendo-me ali inútil e até porque descobrira ter uma notória nódoa nas calças (será do óleo Fula, que agora me substitui o azeite e que tanto espirra?), abraço autoral já recebido, fugi dali, escapando-me às doutas palavras que iriam ser proferidas - privilégio dos sexagenários, isto de fugirem às "doutas palavras", não porque delas desnecessitem mas porque já não as retêm.

Lá regressei na "linha vermelha", bebi uma imperial em esplanada olivalense, no remanso da companhia de um livro do Javier Marias. E depois fui até à Casa de Frangos de Moscavide, ali ao Largo do Ferrador. E seguiu-se jantar com a minha filha e seu gentleman, o dito frango, batatas fritas, um naco de azeitonas temperadas, um vinho tinto barato e uma cerveja de litro. Eles seguiram e eu voltei à minha rotina, em espiral repetitiva disto: 

A vida continua, more news from ... Nenhures.

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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