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Nenhures

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12
Mar25

CPLP?

jpt

Massinga-Beach-016-oceanfront-deluxe-room.jpg

(Massinga, Inhambane, Moçambique)

1. A CPLP é um eixo fundamental da política externa portuguesa - ou, pelo menos, assim é referida.

2. Moçambique é o terceiro país mais populoso da CPLP.

3. Moçambique está numa situação política complexa, após (mais) umas eleições que colheram a suspeição quanto à sua fiabilidade. As quais conduziram a um novo presidente e um novo governo. Que continuam a ser contestados pela oposição real.

4. Em Moçambique o actual governo/poder expurgou-se de ligações com o anterior governo, por alguns considerado criticável. Afiançou-o no seu programa televisivo, saudando um "novo ciclo", o administrador de empresa Paulo Portas - antigo jornalista, antigo político, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros.

5. Há poucos dias em Maputo uma manifestação pacífica (e festiva) do real líder da oposição Venâncio Mondlane foi violentamente reprimida pela polícia. Houve mortos e feridos, inclusive de uma pessoa que ia na viatura desse candidato, e algumas crianças. As imagens foram transmitidas em directo, não deixando dúvidas sobre o acontecido. Nem sobre a intenção assassina que suportava a acção policial.

6. Neste fim-de-semana Daniel Guambe e Rafael Sitoe, dois reconhecidos militantes do movimento oposicionista foram assassinados em Massinga, na província de Inhambane. Tinham 28 e 21 anos, respectivamente.

7. Ontem, domingo, no programa televisivo semanal do antigo político, antigo jornalista, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e actual administrador de empresa, Paulo Portas, não houve qualquer referência a Moçambique, o tal segundo país mais populoso da CPLP.

8. Antes da intervenção televisiva do administrador de empresa Paulo Portas, incluída no telejornal da TVI, foram emitidas declarações de Voltaren, Continente, McDonalds, Intermarché, Worten, Volkswagen, Easy Jet, Vodafone, Audi, Mercedes, Cetelem, Pizza Hut, Multiopticas, Bleu de Chanel, Sensodyne, Rhinomer, Hyunday, Mickey 17, Pantene, Nissan, Wells, KitKat, Nivea, Securitas, Pingo Doce, Renault, Parodontax, The Fork, Burger King, Radio Popular, Colgate, Lilly, Corega. Decerto que solidárias com o conteúdo do transmitido.

25
Fev25

"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..." (2): um novo ciclo

jpt

magma2009.jpg

(A fotografia retrata uma exposição da Magma Fotografia, na estação dos CFM de Maputo, em 2009. A fotografia exposta será de Solange dos Santos ou de Dominique Andereggen, não tenho a referência completa)

"Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. - escrevia eu há um mês. Agora perguntam-me menos, as notícias por cá escasseiam e outras questões prementes convocam o interesse: as nossas inúmeras trapalhadas do CHEGA, às quais se seguiram as previsíveis de Montenegro. Lá fora mantém-se a desgraça de Gaza, acoplada ao patético/pateta anseio de uma Riviera ali medrada. E, agora mesmo, a ascensão final da Criatura TrumPutinEsta tanto animando essa execrável mescla, vigente desde a invasão da Ucrânia, fez ontem três anos (!), dos nossos comunistas - das versões III e IV Internacionais - e fascistas - entre estes em especial os que estiveram estas décadas travestidos de "sociais-democratas" pêessedistas ou "demo-cristãos". Os quais andam agora, eufóricos pois "saídos do armário", quais "bichas loucas" em histriónica "parata fascista".

Enfim, olhando a História, percebemos que a revivemos. Pois a oriente temos hordas de guerreiros norte-coreanos rumo a Viena, os boiardos russos vão sendo defenestrados em massa, o pretendente Navalny foi morto há um ano (cumpriu-se há pouco). Entretanto, a oeste Drake vagueia pelas nossas costas, reforçado por frota de mercenários vikings, convertidos ao calvinismo africano. E há dias, arrogante, mandou-nos como emissário um puritano de Salem, para exigir "tributo". E esta nossa gentalha rejubila. Porquê? Por não gostar que "Roma" imponha alguns limites às superstições locais... São uns labregos, já o referi.

Neste ambiente como atentar nas coisas de Moçambique? Mesmo assim ainda há quem me pergunte novidades sobre o país. Faço então um curto resumo, para não cansar os (um pouco) interessados. O candidato presidencial Venâncio Mondlane, autoproclamado "presidente do povo", continua as suas sortidas, colhendo impressionantes e espontâneos banhos de multidão: agora em Vilanculos, há dias em zonas populares de Maputo e em localidades da sulista província de Gaza (a Gaza moçambicana, não a mediterrânica, como julgou o ex-viking Musk). Alguns dos seus seguidores mais próximos continuam a sofrer tentativas de assassinato, ditos como praticadas pelos consabidos "esquadrões da morte". A isso reage a população, destruindo algumas instalações estatais e do partido do poder, fenómenos mais correntes no Sul do país, algo relevante pois em zonas de tradicional adesão maioritária ao Frelimo. E continuam a grassar bloqueios rodoviários e em torno de zonas comerciais, sinalizando a imprevisibilidade do rumo nacional e a atrapalhação da "ordem pública". Como detalhe, verdadeira minudência, lembro que algumas rádios de Nampula viram-se impedidas de transmitir, tendo regressado algum tempo depois, decerto que tendo tomado em conta o "aviso à navegação" recebido. Bastante preocupantes são as notícias da disseminação de grupos amotinados (agora ditos "namparamas", num uso inovador do termo, que vem substituir as anteriores denominações "bandidos armados" ou "insurgentes"), os quais alastram, principalmente nos distritos da Zambézia. E diante dessa epidemia de "jacqueries" temo que se venha a tornar em pandemia.

Entretanto há dias houve a ansiada reunião do Comité Central do Frelimo, sobre a qual muitos diziam ser o momento da passagem do testemunho, efectivando uma maior autonomia política do actual presidente Chapo, abrindo assim o "novo ciclo" de poder - este por cá já há tempos "anunciado na tv" pelos comentadores lóbistas Paulo Portas e Miguel Relvas -, e concomitantes novas práticas de exercício governativo. 

E alguns dias após essa reunião magna houve pronunciamentos dos próceres moçambicanos, delineando o conteúdo desse "novo ciclo". O antigo presidente Guebuza deu uma conferência na semana passada, explicitando que "o colono trouxe a ideia que o africano é corrupto". Entenda-se, que a premente acusação de corrupção generalizada do regime se deve ... à maldade exploratória dos colonialistas. Para os alheados das questões moçambicanas (e africanas) esta formulação tem de ser esmiuçada, pois não é apenas uma diatribe. As elites políticas que ascenderam ao poder após as independências sempre se legitimaram pelo seu papel anticolonial. E o Frelimo sempre insistiu nesse tópico. Agora, 50 anos depois da independência, com o país naquele estado, face a uma população cuja esmagadora maioria tem menos de 35 anos - netos e bisnetos dos colonizados -, tentar insistir neste tópico (certeiro ou errado, pouco importa) é evidência de que a elite política (na qual Guebuza é importantíssimo) não compreende o real, não reflecte sobre ele. E assim nunca assumirá um qualquer "novo ciclo" (apesar do que por cá dizem os comentadores televisivos Miguel Relvas e Paulo Portas...).

Logo de seguida o novo presidente Chapo foi mais longe no sistematizar do conteúdo desse "novo ciclo": primeiro que a luta contra as "manifestações é a continuidade da guerra dos 16 anos". A expressão é um programa político: por um lado, o epíteto "guerra dos 16 anos" é um lema dos frelimistas (ladeado por outro "título", o de "conflito armado"), que nega a referência a uma "guerra civil", forma de então - e ainda agora - negar a realidade social da Renamo, reduzindo-a a marioneta de agressão estrangeira. E, por arrasto, afixando essa "inexistência" ao que se passa agora. Por outro lado, Chapo - mais novo que Guebuza - ao afirmar isto não só procura reduzir os manifestantes a agressores (externos) como busca a legitimação do poder na invocação da pacificação de uma guerra terminada há... 30 anos. E um discurso autolegitimador que, como o anterior, não colhe diante desta pirâmide etária. Ou seja, tanto pela negação sociológica como pela retórica autolegitimadora, a via do actual presidente sublinha que a elite política - e nesta caso a das fracções vigentes - não compreende o real, não reflecte sobre ele. E assim, repito, nunca assumirá um qualquer "novo ciclo"...

Depois, e para que não restem dúvidas sobre as suas intenções e as do poder instituído, foi a Pemba discursar e anunciou ontem que "Vamos derramar sangue para combater as manifestações", enfatizando ainda que "vamos fazer jorrar sangue"...

Enfim, "Zé/Zezé, então e como está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me os amigos, diante da imperial do fim da tarde. "Não sei", respondo, entristecido. E aduzo, "tens de ir ouvir o Miguel Relvas. Ou o Paulo Portas. Ou o "senhor embaixador" Martins da Cruz"... ". Os amigos riem-se, solidários, juntam-lhe "Devias-te ter safo na vida, Zezé!!". E juntam, "vamos lá jantar ao Cabeça do Toiro" ou "à Flor do Minho". E come-se uma "crise", batatas fritas com ovo estrelado, ou, vá lá, uma meia dose de febras grelhadas.... Manjares de... não-lóbistas.

09
Fev25

Os comentadores e Moçambique (2)

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vmxx.jpg

Location of Xai Xai -  Capital of Gaza Province

Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Xai-Xai, capital da província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Xai-Xai não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Xai-Xai existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane - o "populista" "imprevisível" para o "Público", o mero "bolsonarista" para os acomodados cleptófilos - está a fazer à cidade. Um incrível, gigantesco, banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais e painéis deste fim-de-semana... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá... E até mesmo que algum "jornal de referência" possa atentar nisto.
 
E até poderá ser que alguns dos nossos actuais ministros "abram a pestana". Trata-se de insistir, apesar da pouca esperança a ter com esta gente.

07
Fev25

Os comentadores televisivos e Moçambique

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Chibuto_District_map.svg.png

Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Chibuto, na província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Chibuto não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Chibuto existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane está a fazer à pequena cidade. Um incrível banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá...

03
Fev25

Cena nada bíblica na Zambézia

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Judith_Beheading_Holofernes-Caravaggio_(c.1598-9).

Caravaggio pintou assim a bíblica decapitação de Holofernes, um fundamentalista religioso (diríamo-lo assim, hoje), um brutal iconoclasta ou idólatra, consoante os pontos de tomada de vista.
 
Após um belo fim-de-semana - que aqui narrei com detalhe -, leio a habitual enxurrada de mensagens vindas de Moçambique. Entre as quais continuo a receber filmes da recente visita do novo Presidente Chapo à Zambézia. São denotativas. Pois o partido Frelimo, para além do seu próprio aparelho, sempre usou o administração pública para mobilizar a população no acolhimento às autoridades nacionais - feriados, convocatórias aos funcionários, distribuição de benesses (roupa, comida...). Ainda assim agora - e na recepção a um novo presidente!!! - ninguém aparece. As imagens são explícitas: planos fechados, centrados em Chapo e em pequeníssimos grupos folclóricos arregimentados, grupos de militantes que não ultrapassam a dúzia de membros. É absolutamente inédito. E, simultaneamente, continuam a circular vários filmes com os monstruosos banhos de multidão que Mondlane obteve na digressão da semana passada. Tudo isto cria a sensação de uma irrealidade, quase como se peça dramatúrgica debruçada sobre uma medieval dissolução do poder, obrigatoriamente terminada em tragédia.
 
Mas não há qualquer irrealidade. Há uma real aproximação ao abismo. Isso é não só ilustrado como também gritado por uma série de filmes que recebo, mostrando detalhadamente um episódio deste último sábado. Em Morrumbala (capital distrital na Zambézia que Chapo visitou), em plena vila, a população decapitou um polícia ou miliciano, dito como autor de vários assassinatos políticos. O corpo jaz no meio da rua, a cabeça foi levado para um entroncamento central para que todos vejam. Consta que a polícia debandou.
 
As imagens mostram uma violência extrema. "Bíblica", se se quiser invocar o Antigo Testamento. Mas "contemporânea" se se quiser olhar para o mundo circundante. E será importante que estes novos políticos, que tanto parecem rezar, percebam que as rezas em excesso e a razão em falta tem sempre o mesmo resultado.

31
Jan25

"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..."

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tete.jpg

(Venâncio Mondlane em Tete, julgo que anteontem)

"Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. Substituídas por questões prementes, como a do deputado ladrão de malas - repararam como o Ventura, após o seu estupor inicial, agora aparece a reclamar-se "primeiro denunciante"?; as inanerráveis malfeitorias laborais dos bloquistas - face às quais o prévio vereador Robles surge como um simpático agente prenhe de empreendedorismo; a relativa inflexão de PNS sobre imigrantes - que põe os seus camaradas a clamar contra qualquer esforço alheio de adaptação às mundividências nacionais (a "cultura portuguesa", para se falar de modo simples) e o colunista-Expresso Raposo dispara(ta)ndo um lusotropicalismo actualizado: "para semos um V Império, que é um império-cais, onde o mundo pode atracar...", sim o homem escreveu isto; mais as demissões no núcleo governamental devido a trapalhadas privadas, recentes e actuais - mas quem escolhe estes tipos?; e, acima de tudo, o drama da "linguagem de rua" do treinador Lage. Já para não falar das minudências que ocupam os espaços mortos dos telejornais e comentários, o frenesim trumpiano, aquela maçada de Gaza, e a cansativa exigência de Putin em defender o "espaço vital" da sua Mãe Rússia, para se falar como a intelectual Mortágua...

Enfim, com tudo isto a gente distraiu-se de Moçambique. Eles também já estavam a abusar da nossa paciência, é certo... Por isso as perguntas dos meus amigos, essa repetida "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", até porque interrompi a saraivada de postais sobre o assunto (os quais sublinho pela sua divulgação telefónica, para aborrecimento de alguns deles, presumo). Costumo responder que talvez seja melhor ouvirem o que dizem sobre o assunto os nossos antigos ministros, reciclados em facilitadores de negócios e até administradores das grandes empresas - "não lhes escrevas os nomes", "não te metas com esses gajos", "não ganhas nada com isso", avisam-me amigos, não tão juniores assim...

Então, e para responder a esses amigos que se foram interessando pelos destinos daquela minha Não-Pátria, resumo o que sei: o candidato Venâncio Mondlane regressou ao país e anunciou três meses sem manifestações  (deu os consuetudinários "100 dias de estado de graça" ao novo governo). O partido Frelimo nomeou um novo executivo, com tantos membros oriundos do anterior poder que aparenta ser de continuidade ("uma evolução na continuidade", como diria Marcello, o original). A mortandade entre os militantes oposicionistas nas localidades - incluindo jornalistas - terá amansado, mas não abundam as investigações sobre a responsabilidade dos desmandos sanguinários dos últimos meses. Ainda assim, de quando em vez a polícia usa de violência seguindo-se represálias populares, algo significativo em especial aquando no Sul de país, antiga zona monopólio de implantação frelimista.

Entretanto, a predisposição para entabular conversações com o oposicionista Mondlane, que fora enunciada pelo novo presidente, ainda não se concretizou, e segue o poder Frelimo na sua muito habitual postura esfíngica - "índica", como muitos referem, em particular os dirigentes socialistas portugueses quando em "visitas de Estado" e que agora se arrepiam ao ouvir falar de algumas características comuns às mundividências e práticas portuguesas (mais depressa se apanha um mariola do que um paraplégico, como é consabido...). Os velhos partidos oposicionistas, Renamo e MDM, que se haviam recusado a integrar o novo parlamento estão já a arranjar as micas, dossiers e as pastas de executivo para assumirem lugares.

Nisto Venâncio Mondlane, que se autoproclamara "presidente do povo", encetou uma digressão, uma ronda de "presidências abertas", por assim dizer... Recebo imagens de uma curta visita ao Hospital Central de Maputo, causando um enorme júbilo entre os ali situados. E de gigantescos banhos de multidão em Bobole - perto de Maputo - e em Tete, a Norte. Situações que muito denotam com quem está o povo, a quem o povo apoia. Por mais que custe aos "empreendedores" lusos. E a alguns outros.

Adenda: no sábado (dia 1 de Fevereiro, às 16 horas) estarei na biblioteca municipal de Setúbal, instituição que teve a gentileza de me convidar para falar sobre o meu livro "Torna-Viagem". E, quem sabe, pois dependendo do interesse dos que comparecerem, depois de tentar impingir a colecção de crónicas (2/3 das quais decorrem naquele país) poder-se-á falar um pouco sobre "como está aquilo em Moçambique". Se algum dos leitores do Delito de Opinião estiver nas cercanias será um prazer vê-lo por lá.

20
Jan25

Portas e Moçambique

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paulopportas.jpg

Desde há já bastante tempo que vou vendo, não sempre mas habitualmente, a coluna dominical de Paulo Portas no telejornal da TVI. Portas fala bem, prepara-se, e está informado sobre as coisas do mundo - sai do rame-rame da politicazinha portuguesa, das cercanias dos "Passos Perdidos", e aborda com consistência (apesar da brevidade do programa) temas excêntricos às ladainhas dominantes no abundante "clube de comentadores". Para além de que pessoa que me é muito querida ter sido recentemente sua aluna e me ter confidenciado que o homem é um excelente professor, o que me reforçou a atenção. Ainda para mais porque este ofício de "comentador generalista" é a actual sequela, por paupérrima que seja, da velha figura do "intelectual público", pelo que convém ir sabendo o que os seus oficiais - os poucos melhores e os muitos piores - impingem aos incautos... Enfim, adiante,
 
ontem vi a sua apresentação. E desatei-me a rir, sozinho, ao ouvi-lo falar de Moçambique, país que o ex-ministro bem conhece. Pois na sua apologia ao poder agora empossado, Portas anunciou-nos que o novo governo nada tem a ver com o poder anterior... Eu não sou politólogo, daqueles que têm conhecimentos "etnográficos" sobre os "campos políticos" locais, sabedores enciclopédicos do "quem é quem", verdadeiros "coleccionadores de borboletas" e especialistas em previsões de teias urdidas e rompidas. Sou apenas um tipo que usa a rede "Whatsapp", que tem o telefone carregado de mensagens a darem conta das imensas continuidades, pessoais e colectivas, políticas entenda-se, normais que sejam, entre o governo moçambicano anterior e o actual.
 
E interrogo-me, mero telefone na mão, sobre a razão que leva Portas a fazer tal apologia. Tal como a faz Miguel Relvas. Ou Martins da Cruz (outro comentador, ao qual os locutores não tratam pelo primeiro nome - como agora é hábito pateta - mas sempre com as mesuras sacralizadoras do "Senhor Embaixador"...). Porque farão estes tipos, e alguns outros, tais apologias ao status quo de Moçambique. É que muitos resmungam diante da cumplicidade (arteriosclerosada) do PCP e do silêncio camarada do PS (no qual ainda há quem pense enviar António Vitorino para Belém..). E há até quem proteste com a atrapalhação de Rangel ou a diletante pressa de Montenegro diante de Moçambique. Mas ninguém se pergunta da razão que leva estes "intelectuais públicos" de "direita" a opinar deste modo sobre o país nosso aliado...
 
Faço uma proposta àqueles que são sensíveis às argumentações destes ex-ministros sobre Moçambique - até por sua simpatia para com discursos oriundos deste sector direitista da opinião política. Jaime Nogueira Pinto é uma homem da "direita profunda". E é, nas suas características próprias e respectiva mundividência, um verdadeiro "intelectual público". E conhece muito bem - muitíssimo, diria eu - Moçambique e os seus intervenientes políticos. E acaba de publicar sobre aquele país este artigo: "Moçambique: no limite do desespero".
 
Ou seja, bem desejo que os meus compatriotas que se querem informar sobre Moçambique, e que tendem para o lado destro, leiam este Nogueira Pinto. E mudem de canal televisivo quando os outros começarem a perorar, seguindo eles razões que a (boa) razão desconhece...

17
Jan25

A "Sábado" e Moçambique

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A LUSA envia para Portugal um resumo do discurso de Mondlane. As últimas comunicações do candidato moçambicano são interessantes: Mondlane indica aos seus apoiantes que dá os consagrados "100 dias de estado de graça" ao novo governo (que hoje já foi preenchido). E como tal suspende durante os próximos três meses as manifestações - ainda que ameace retomá-las antes se o governo não cumprir o seu rol de exigências. Ou seja, VM diz ao povo que governará através de interposto ... governo (sim, é um rumo mirabolante, uma retórica incredível). De qualquer forma suspende por ora as manifestações e nisso os contextos para conflitos, quantas vezes mortais.
 
É de lembrar que em Maputo continua a morrer gente, mesmo após a investidura do novo presidente. E convém frisar que longe de Maputo - e do eixo Polana/Bairro Central, onde está a imprensa portuguesa muito afadigada - continuam a ser assassinados líderes locais oposicionistas. E que no Malawi, como relata a imprensa estrangeira, já são largos milhares os refugiados, que fugiram às razias governamentais, que o camponês é sempre quem mais sofre...
 
O que é que Mondlane propôs hoje? Uma aventura que me arrepia. Que a partir de agora - após a suspensão das manifestações, potencialmente conflituais - os seus apoiantes apliquem a Lei de Talião, que vinguem mortalmente cada um dos seus que seja assassinado pela polícia. E é isso que narra a LUSA.
 
O que é que esta "Sábado" ("imprensa de referência" nesta desgraçada terra) anuncia? Que Mondlane mandou vingar os mortos pretéritos segundo esse "dente por dente...", que o apelo aos seus apoiantes tem dimensão retrospectiva. Se o ditame do líder moçambicano é patético - porque o é -, incendiário, a torpe manipulação da "Sábado" é execrável. E bastou, para este nojo, trocar um "que morrer" por um "que morreu".... Lá está, o tonitruante cabeçalho: "Venâncio Mondlane quer um polícia morto por cada manifestante que morreu".
 
(E, nada a latere, a rapaziada do PSD - alguma dela embrenhadíssima em negócios austrais - rejubila, com este falsário pretexto para invectivar os partidos que se demonstraram avessos ao rumo do nosso governo sobre esta matéria moçambicana. Nisso, claro, felizes para tirarem a caspa dos ombros dos Rangel - esse mouco que não ouve os tiros disparados nas suas imediações - e Relvas desta terra. Solidariedades partidárias. E ... logísticas).

17
Jan25

João Cabrita sobre Moçambique

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cabrita.jpg

Em Portugal o "Público" é o jornal ideologicamente mais próximo do Frelimo (do Frelimo pré-Chapo - e sobre esta distinção talvez seja ainda cedo para falar, mas há já indícios para perseguir). É por isso muito significativo - "sinal dos tempos" - que agora traga uma entrevista com o historiador João Cabrita, insuspeitíssimo de tal viés.

E é muito interessante o que Cabrita diz. Eu não perfilho a sua "etnicização" das discordâncias internas a que alude naquele partido - ainda que noutros contextos ela possa existir. Pois muito mais me parece que intelectuais (por ele referidos) de gabarito como são Severiano Ngoenha ou Tomás Vieira Mário vieram criticando o modus operandi do poder instituído, não se movimentando por qualquer reacção identitária ou regional.

Mas, e para além desta minha resssalva, aqui partilho as declarações de Cabrita, muito avisadas e pertinentes, muitíssimo mesmo.

15
Jan25

Na Tomada de Posse de Chapo

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1. Quando vivia em Moçambique escrevia no blog ma-schamba. Ali não falávamos de política nacional - era um colectivo de estrangeiros. Mas às vezes resmungava com os dislates da imprensa portuguesa sobre o país. Voltando a Portugal, de vez em quando vou escrevendo sobre o país e seus rumos - principalmente no mais lido Delito De Opinião. Porque gosto de Moçambique; porque julgo que pouco dele se fala na imprensa (e na academia); porque muito me irritam alguns disparates que, ainda assim, vão saindo sobre o passado e o presente (sim, estou a pensar no "Público" mas não só. Por exemplo, agora será um "caso de estudo" o que se passa - e porquê - na SIC Notícias). Decerto que por isso neste - tardio - acordar da imprensa sobre a situação (estrutural) de Moçambique, dois ou três jornalistas amigos "sopraram" o meu nome às redacções para que apareça eu a "comentar". E lá fui eu, algumas vezes. Ora se o escrever me é normal, já o "aparecer" é coisa excêntrica. Face a isto os amigos próximos riem-se, com algum piedoso carinho: pois me sabem mais dado ao culto da rusticidade, e este meu rumo de mimalho narcísico desilude-os um pouco. Por isso sinto necessidade de me justificar diante deles, lembrando-lhes a minha condição de já sexagenário. Assim alquebrado.
 
2. Nesse rumo fui gentilmente convidado para hoje comentar na RTP3 o discurso de empossamento de Daniel Chapo. Logo após recebi uma simpática mensagem de uma amiga distante de Maputo - a qual, pelo que dela conheço, presumo não seja uma venancista. Enviou-me a foto com uma legenda, a qual sumarizo nos meus mais deselegantes termos por um "não borregaste". O que me alivia pois não quero ali tomar "partidos" - mas sim partido, por um melhor país!
 
O que disse é simples de resumir: há hipóteses de diálogo, e Chapo vem dando indícios de ter essa capaz disponibilidade. E que o discurso foi bom, apaziguador, e apresentando um ror de intuitos desenvolvimentistas (ainda que nós saibamos que "de boas intenções estão os Panteões Nacionais cheios").
 
Logo vários amigos me "mensajaram" a sua descrença na hipótese de diálogo Chapo/Frelimo-Mondlane. Então explico-me: para além da obrigatoriedade pragmática desse apaziguamento dialogante há outros dois factores. Por um lado, o discurso de Chapo (que ainda não li apesar de o ter recebido no momento exacto do seu término) tem grande similitude com o programa de Mondlane. Ou seja, coincidem no diagnóstico da situação do país ("dialogam" sobre isso, se assim se quiser). Poderão discordar das formas executivas tendentes às reformas, mas isso é a jusante.
 
Por outro lado, há algo que só depois vi. Quando Mondlane se rebelou contra (mais) esta fraude eleitoral, vários intelectuais alcochoados com a cleptocracia vigente se insurgiram contra o evangelismo público (e propagandeado) do candidato. Ora acabo de ver um filme oficial da candidatura de Chapo, no qual surge ele imediatamente antes do empossamento, ajoelhado em profunda oração, acompanhado da sua mulher, e invocando a iluminação divina para os seus actos. Ou seja, os dois políticos partilham este cristianismo político, um liame dialogante com toda a certeza, mesmo que pertençam a congregações evangélicas diferentes.
 
E isto, a ascensão de um presidente do Frelimo que explicita a sua devoção pela iluminação do deus cristão, significará algo muito relevante. A velha Frelimo, o partido vanguarda Frelimo, de inspiração m-l e com laivos maoístas - que ainda habita nas saudosas memórias da "velha guarda" marxista e de alguns desses intelectuais - já desapareceu há muito, é consabido. E talvez surja agora como uma "democracia-cristã", ecuménica no seu trans-catolicismo e abertura coabitante ao islamismo. Acompanhando dinâmicas no continente. E por mais que isso me seja distante, ateu e adepto da laicidade (algo que muito ultrapassa a mera religião), também o prefiro aos guevarismos folclóricos e aos tétricos brejnevismos.
 
3. A população, em particular a apoiante de Mondlane, exige melhores condições de vida, menos corrupção, mais desenvolvimento e maior democratização. Esta última implica que os políticos - os que estão no poder e os que a isso aspiram - são não só criticáveis como são (devem ser) criticados. Mondlane ontem atacou o MNE português de forma desabrida. Causou a Rangel um enorme rombo no seu capital político pessoal - ele terá de deitar borda fora todo o seu lastro para se manter à tona de água. Pois deixou que a relação com um importante interveniente de um aliado fundamental chegasse a um ponto destes, descurou-se.
 
Mas Mondlane esteve péssimo. Rangel não fez campanha em Moçambique, não urdia conspirações contra a oposição, não financiou o partido oponente, não fez qualquer ingerência. Terá tido ritmos e tons menos felizes sobre a situação moçambicana. Mas se Mondlane disso discorda então contesta o governo português, critica-o, em público se considerar necessário. Mas se tem apenas problemas com o nosso ministro, fala com o nosso embaixador, pede para que ele transmita o seu desconforto, desagrado, ao ministro em causa, ao seu PM, até mesmo ao PR. Agora um ataque pessoal, uma critica ao seu desempenho político, em tom desabrido, em público? Foi completamente descalibrado. Foi uma agressão ao governo português, até mesmo a este Estado aliado. Mondlane quer ser estadista? Seja-o, já. E nunca assim.
 
Muitos não concordarão comigo. Considerando "Venâncio" intocável. Apodando-me de "xicolono". Mas é mesmo isto o que eu penso: Rangel esteve muito mal neste processo, o seu SENEC é inexistente, o que é péssimo. Mas isso são problemas nossos, portugueses. E Mondlane esteve muito pior. Mas isso é um problema deles, moçambicanos.
 
4. Enfim, presumo que terminada a minha tournée televisiva pois quero crer / desejo que amainada esteja a situação moçambicana, lembro os amigos que hoje irei - já não em registo narcísico mas apenas conversacional - à Radio Observador, ao programa Convidado Extra. Irei falar do meu livro "Torna-Viagem", e andanças concomitantes. Com o explícito objectivo de seduzir algum(ns) hipotético(s) leitor(es). Aduzo que amigos (e não só) compraram o livro, alguns até o leram. E entre estes houve quem tivesse gostado...
 
A entrevista radiofónica é transmitida às 20 horas mas ficará aqui disponível na página do programa . E o livro "Torna-Viagem" - o tal carregado de crónicas em Moçambique - só se compra encomendando-o na página da plataforma digital: https://publishpt.bookmundo.com/books/366121

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