Sem título e... com que texto? Posso compreender os eleitores norte-americanos, decidiram em função das suas considerações sobre o seu país. Mas que posso eu dizer sobre os doutores portugueses que ronronam com isto, que dão largas a interpretações refinadas - transaccionalismo e coisas quejandas - sobre isto? A minha querida irmã ausentou-se por uns dias. Mas deixou instruções explícitas à minha querida filha - que dentro de dias se ausentará - para que ela mantenha a guarda durante a sua ausência: "não deixes o teu pai escarrapachar nos blogs o que pensa desses doutores trumpófilos. Por mais razão que ele tenha! Mesmo nesses palavrões que só ele conhece...".
Atrasei-me a cozinhar o almoço (o esparregado, verídico claro, e com malagueta, requebro da minha lavra, estava bom) e por isso manducando vi na tv em directo o discurso do vice-presidente americano Vance em Munique numa (parecia que não) conferência sobre segurança.
Fiquei estupefacto, tanto que o pitéu que preparara (não almoçava sozinho) não me escorria. Lembrei-me durante aquela estuporada arenga do "O Americano Tranquilo" de Greene, como tantas vezes me ocorre - já o escrevi em blog várias vezes, é o livro da minha vida, li-o pela primeira vez na adolescência, nessa mesma o reli e mais três vezes ao longo da vida. E logo nessa juventude, da primeira vez, me deparei com aquilo de Fowler, o protagonista, não ser apenas o meu alter ego. Mas sim de o perceber o meu ego, uma condenação a uma relativa mas brutal infelicidade e a uma essencial impotência. Ainda assim não bebi ao almoço. Claro que quem nunca leu o livro não perceberá a minha alusão...
Vance elaborou, estupidamente, sobre as rezas e a (sua) moral. Chegado ao fim do dia beberiquei. É dia dos namorados e, como tal, tive um jantar romântico. Em "bromance", como agora se diz. O que um tipo como Vance aceitará, homens como deve "de ser" que se gostam e comem juntos, falam da vida que escorre (finda até, já...) e de mulheres (escasseiam, claro, que a gente fenece e desperdiçámos as mais valiosas). E de outras coisas, também.
Regresso a casa, não a desoras. E antes de ir ao Filmin, ver um qualquer clássico, passo pelo FB. E vejo uns coirões a louvar o discurso do Vance. "Labregos", escrevi-os há dias em postal de blog. Como é possível louvar uma coisa daquelas? A Carolina - minha filha, jovem que hoje soube que seguirá para belíssimo lugar e posto -, a Teolinda - minha irmã, não tão jovem que sempre está em belíssimo lugar e posto -, proíbem-me de usar o léxico abrangente português. Mas em assim sendo como posso eu (greeniano Fowler) dizer estes imbecis?
São uns morcões! Alguns são mesmo uns doutores morcões! E - que não restem dúvidas - é evidente que falo (também) de si, seu caralho!
Quando Musk levantou o braço na festa da investidura de Trump, resmunguei que aquilo era mesmo um eco nazi. Muitos disseram que não (que seria apenas uma excitação, talvez fruto de um tal de "autismo" de que padece). Até um director de jornal veio opinar nesse sentido. Pois, a mim, com diferente biografia das desses cosmopolitas, pareceu-me que esse cinquentão emigrante africânder regurgitou ali - talvez inconscientemente - a influência do ideário do velho Terre'Blanche, esse símbolo de alguma África do Sul afrikaans, viçoso na juventude do agora multibilionário...
(Elon Musk's Full Speech At Trump's Presidential Parade)
No passado 26 de Abril fui à Gulbenkian ver a Eroica, a 3a de Beethoven, executada pela orquestra local - um amigo oferecera-me o seu par de bilhetes, indisponível que estava para assistir. A sessão foi iniciada pela estreia de "Restart", peça do compositor português Nuno da Rocha. Terminada esta o autor foi chamado ao palco, para recolher os (mansos) aplausos. Lá chegou, cravo vermelho ao peito - a efeméride a isso convidava -, e para nos agradecer levantou o punho direito, na saudação comunista. Logo interrompi os meus (mansos, repito) aplausos, abandonando-me num ror de inaudíveis impropérios (assim poupando a senhora que me acompanhava), invectivando o autor devido aos seus vícios anais, a sofreguidão bocal, a ninfomania da esposa, a materna comercialização sexual e quejandas características que decerto são essências ao mariola. Seguiu-se uma breve peça de outrem e um intervalo. Neste reuni-me a roda de amigos, em torno de uma garrafa de aprazível vinho branco, logo tendo recebido a canónica "gostaste?". A qual me serviu para extroverter a minha ira - em léxico mais curial -, até para espanto dos meus convivas, quedos num condescendente "o homem tem direito às suas ideias...". Ao que eu, quase desvairado, ripostei "com toda a certeza que o tem. Mas não de vender um produto e depois, "à traição", e com todo o despropósito, convocar os clientes para a sua vil ideologia". Ao que aquiesceram os meus amigos, um tendo tentado acalmar-me num "pede o livro de reclamações, era bem gizado..", algo a que me neguei, pois não era assunto da responsabilidade da instituição, mas sim de malandragem do contratado.
Ontem foi a tomada de posse do presidente Trump, assunto mais relevante para a actualidade do que a enésima Eroica ou uma esquecível peça musical contemporânea. Trump vem com medidas que são lá para eles, umas risíveis, quais chamar Praça Sá Carneiro ao Areeiro ou Aeroporto Humberto Delgado ao da Portela. Outras mesmo internas, como refrear a imigração ou estancar as práticas comerciais ditas de "género" da biomedicina capitalista. E outras bem mais gerais, globais diz-se, como "perfurar como uns loucos" e abandonar os (já de si pífios) tratados ambientais. Tendo ainda dito que foi Deus Nosso Senhor que lhe poupou a vida para que ele conduza estas políticas todas, argumento que presumo não seja muito palpável para os católicos contemporâneos (mas isto nunca se sabe, que "ele há cada um"...).
Há por cá - só o deus protector dos imbecis saberá porquê - gente muito empenhada, partidária até, nas eleições americanas, como se aquilo fosse coisa nossa. Alguns adoram Trump, outros apenas muito o apreciam, e sobre isso peroram, tal como aqueles que são "democratas desde pequeninos". Ontem fui almoçar em trio, o amigo que me levou ao destino é uma jóia de um homem, admirável, e um reaccionário daqueles "à direita do CHEGA" - como ele próprio diz. Na estrada, já a sul do Tejo, fui-lhe pedindo para não levantar o assunto trumpiano ao almoço, pois mesmo sendo nós - os outros dois - conhecidos como "de direita" não temos paciência para aquela tralha. Lá se almoçou, no bom ambiente de amigos íntimos. Atafulhavam-se eles com grandes postas de bacalhau à minhota e eu, já comida a minha sopinha (ando muito frugal pois a saúde está, finalmente, a dar de si...), fui lá fora esfumaçar ao frio. Quando voltei à mesa percebi que o sacaninha do mais-velho já tinha conseguido estabelecer a deriva trumpiana. Sentei-me e interrompi num cavo "foda-se, caralho...", perfeitamente curial entre homens que são amigos íntimos. Assim inflectindo o rumo da conversa.
Hoje vejo que ontem no comício celebratório da nova presidência o Citizen Musk fez a saudação nazi. Há, cá no burgo, muitos adeptos desta gente - desses que abominam a "europa", que vêm como sinónimo de "burocracia" totalitária e de indeterminação das pilinhas e dos pipis - que repetem ter Trump o hábito de dizer coisas em que não pensa, nem fará, assim insignificantes. Via na qual acolherão este facto, di-la-ão mera e insignificante excitação muskiana.
E eu lembro-me disto: da extraordinária, pois fundamental, resposta do então primeiro-ministro britânico, o liberal Nick Clegg, a um energúmeno muçulmano, que a este propósito num programa radiofónico lhe dizia "sou contra os assassinatos mas a revista ofendia...". E Clegg disse-lhe, repito, o fundamental: "numa democracia não temos o direito a não ser ofendidos".
E lembro-me ainda de dois episódios lusos relacionados, de políticos portugueses indiferentes face ao fascismo islâmico. Pouco tempo depois, tantos de "Je Suis Charlie" empunhado, fui a uma sessão no Museu Bordalo Pinheiro. Cheia de público, debatendo a liberdade artística dos caricaturistas. No final - repito-me, pouco tempo depois do atentado - o moderador, o socialista Oliveira Martins concluiu (e ao lado de António e de Bandeira, que vergonhosamente se calaram...) que a caricatura tem como limites " a lei e o bom gosto". Há dias fui a um concerto na Gulbenkian, lá estava o socialista agora administrador da casa, acompanhado da "sua senhora". E do público tantos em mesuras para com ele. As pessoas são mesmo desprezíveis...
E lembro também o socialista socratista Vitalino Canas. Esse que antes, a propósito de outros caricaturistas, os dinamarqueses, os equivalera aos terroristas fascistas islâmicos. Dizendo-o em discurso em plena Assembleia da República. Quando o PS o propôs para o Tribunal Constitucional eu lembrei isso, a sua "compreensão" para com o fascismo assassino e a sua aversão à liberdade artística - já que ninguém por cá o fazia, pois as cartilhas dos "indignistas" esquerdalhos sobre o TC se restringiam a outras questões (contra um tipo que em 1984 escrevera um obscuro artigo académico contra a IVG ou outro que em 2011 resmungara numa aula contra o lóbi homossexual). Este meteu-me em tribunal, por causa disso...
Na semana passada aconteceu um desgraçado ataque em Southport, tendo como corolário o assassinato de três meninas e ferimentos em mais algumas. De imediato explodiu o boato que teria sido um imigrante ilegal (um dos boat people que continuadamente atravessam o Canal da Mancha) muçulmano, recém-chegado ao país. Parece que não, o miserável assassino será um filho de imigrantes ruandeses (país maioritariamente cristão), nado e criado na Grã-Bretanha. Mas pouco interessa a verdade, o boato espalhou-se, fundamentalmente através da rede Telegram (a recomendada pelo ditador Maduro, esse tão do apreço de parlamentares portugueses). Impulsionadas por essa incessante "partilha" mentirosa, turbas de milhares de britânicos têm-se manifestado, violentamente, em várias cidades - e não são apenas os degenerados tatuados, típicos do velho holiganismo futebolístico e que tão emulados vêm sendo pela ralé ocidental, pois as imagens mostram gentes com, pelo menos, aparência de serem "peles limpas".
Opõem-se à imigração, perseguem imigrantes, atacam seus locais ou de requerentes de asilo, templos e albergues, preferencialmente se muçulmanos. E empresas ou escritórios associáveis a trabalhos com a imigração. A polícia britânica afadiga-se, há milhares de detenções, já condenações a pesadas penas de prisão para alguns dos vândalos. Musk, o histriónico Citizen Kane actual (e apoiante de Donald Trump, o golpista tão do apreço de parlamentares portugueses) apoia o disseminar dos boatos e a continuidade das "jacqueries" na Grã-Bretanha, anunciando uma "guerra civil".
No centro de Londres instituições universitárias alertam os seus alunos para particulares cautelas nos próximos dias. Para restringirem a sua mobilidade. Especialmente se forem muçulmanos. Ou mesmo apenas "não-brancos". Peço, com veemência, à minha filha para se deixar ficar em casa, mesmo que ela possa perfeitamente passar por inglesa.
Não fosse ela cruzar-se com a escumalha imunda que, entre desmandos violentos, urra "CHEGA! CHEGA!". Siamesa, mas mais rija, da corja que para aqui anda a excitar-se. Mais mansa, por enquanto.
(Bogotá, frente ao consulado da Venezuela, 2.8.2024. Fotografias de Pedro Sá da Bandeira)
O regime de Chavez e seu avatar Maduro prolonga o estertor, na fraude eleitoral, sequestro de opositores, repressão generalizada. Governos de diferentes tendências na sua região repudiam os acontecimentos, da Argentina ao Chile, entre Uruguai, Costa Rica ou Peru. Aflitos com a degenerescência do gigantesco vizinho, exaustos com os contínuos fluxos de refugiados venezuelanos, outros governos à esquerda da região tergiversam, empurram a situação para "negociações". Fá-lo o México, sempre no sonho de grande potência regional para sul, também a Colômbia, onde um frágil e fragilizadíssimo presidente Petro se mascara em laivos de vínculos ideológicos, fá-lo até o Brasil, onde o tão típico Silva se aprestou a sufragar a fraude maduriana, para logo matizar, prestando-se à rábula "negociadora". Por cá na Europa há ainda quem defenda Maduro - às escâncaras o nosso PCP brejnevista, os "Podemos" vizinhos, e mais alguns proto-brigadistas Europa afora, para além do húngaro Orban, que alguns intelectuais fascistas tanto vão louvando.
Hoje sairá o povo à rua na Venezuela - se as "revolucionárias" forças de segurança deixarem. E alhures também. Deixo aqui eco de pequena manifestação já ontem ocorrida em Bogotá, congregando venezuelanos ali refugiados. Hoje, sábado, muitos mais sairão, em associação com as manifestações no seu país. E serão acompanhados pelos colombianos, pois a oposição não só os apoia, repudiando o "silêncio" inactivo de Petro, como cavalgará a situação para contestar o actual poder.
As fotografias são do meu querido amigo Pedro Sá da Bandeira - veterano fotorepórter do "Record" e da "Lusa", entre outros, trota-mundos, e que agora vive em Bogotá, calcorreando aquela região. Sempre de máquina em punho.
Não acompanhei o festival de abertura dos Jogos Olímpicos, dei-lhe alguns soslaios durante o fim de tarde no café. Notei que chovia imenso, o grande Zidane e o grande Nadal, e nem etc. e tal. Alguém me disse, meio surpreso meio escandalizado, que o músico Snoop Doog carregara a tocha olímpica - na senda de Olivia Newton-John que também o fizera inillo tempore, tal como mais alguns outros músicos esquecíveis e esquecidos. Surpreendi-me mesmo, pois nunca ouvira falar desse artista.
Depois li que a organização se desculpou, devido aos imensos protestos com um trecho, aquilo de terem posto uns mariolas transformados em mulheres histriónicas a glosarem os apóstolos da "A Última Ceia". O encenador Jolly, atrapalhado, veio afiançar que não se tratava disso, remetendo a influência para um qualquer "olimpismo", clássico. Está-se mesmo a ver que não foi o caso, é evidente que Jolly e sua equipa se grisaram imenso a meter @s drago@s ao barulho naqueles preparos.
Um tipo pode lembrar que os JO são (isso sim, desde os tais clássicos) um período de suspensão, tréguas. E que assim Jolly e Cia podiam ter dado tréguas aos católicos. Como deram aos judeus - dos quais há tanta tradição em França que até os vêm perseguindo, não só em célebre "affaire" como até também ajudando os primos alemães a levá-los para leste do Hexágono (assunto que não foi abordado no festival, ao que me parece, que foi mais atento aos nobres guilhotinados). E como deram aos islâmicos, que também os há em França, ao que consta.
Mas estas indignações por cardápio também têm muito que se lhes diga. Os tipos da "Charlie Hebdo" foram massacrados por este tipo de "ofensas", implacáveis que eram (e são). E muita gente se esquece que em democracia não há o direito de não se ser ofendido. Pode-se é dizer, como o Diácono Remédios dirá, "não havia necessidade...".
O Partido Comunista Português é agora um pequeno partido português, decadente. Tem quatro deputados eleitos: Paulo Raimundo (o seu secretário-geral), Paula Santos, Alfredo Maia. E António Filipe - esse que chegou a ser presidente da AR, patética iniciativa simbólica no primeiro dia desta legislatura, dado ser o decano do parlamento vigente. Personalidade política execrável, como patenteou no seu apoio constante, sarcástico, inumano até, à invasão russa da Ucrânia. E que tão louvado foi quando nas penúltimas legislativas até surpreendentemente não foi reeleito, coisa dos ademanes da corporação vigente no "campo político". Estes quatro indivíduos (Raimundo, Santos, Maia e Filipe) acabam de produzir este texto sobre as eleições deste fim-de-semana na Venezuela, absolutamente laudatório do regime de Maduro.
A propósito da actual situação eleitoral troquei ontem mensagens com amigos residentes nos países vizinhos. Digo-lhes sobre este texto. Do Brasil, saído de um encontro com estudantes de ciências sociais venezuelanos ali refugiados (que não constituem um núcleo da "extrema-direita", com toda a certeza), um amigo e colega espanta-se com o rumo das gentes da Soeiro Pereira Gomes. E logo me envia um texto com a posição dos comunistas venezuelanos, linearmente avessa à manipulação do regime de Caracas.
Entretanto a missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) repudia o processo eleitoral. Na vizinhança os países reagem, de forma matizada, o que é normal face à complexidade da situação e às articulações internacionais. Os governos ditos de "esquerda" também têm posições diversas: no Brasil Lula da Silva é Lula da Silva, e já sufraga a situação; mas o Chile de Boric refuta o processo, originando conflito diplomático, e convulsões políticas no seu próprio governo (Boric tem um governo de coligação no qual está o PC chileno); enquanto em Bogotá Petro mantém o silêncio. No país há contestação popular, violentamente reprimida, e Maduro afirma os manifestantes como "drogados e mercenários". As forças armadas do país suportam o regime e denunciam o "golpe de Estado mediático". E, sempre sinal bem denotativo, não há manifestações de júbilo pela vitória.
Nada disso - a realidade, as características do regime de Maduro, a fraude em curso, a sua via repressiva e âmago cleptocrático, as próprias declarações dos seus congéneres e camaradas venezuelanos - conta para os 4 deputados do PCP, Raimundo, Santos, Maia e Filipe. Não seguem qualquer "coerência" ideológica. Nem têm - como pequeno partido de outro continente - quaisquer preocupações geoestratégicas. São apenas o que são, boçais.
Na sexta-feira a crudelíssima capa da "The Economist" (o "idadismo" é a única das "discriminações" que o folclore identitarista esquerdista ainda aceita). No sábado a outra fotografia.
"Trump já ganhou", noite afora whatsappei a um amigo. "Disparado", respondeu, fulgurante.
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