10
Out20
Prémio Nobel
jpt
Alguns amigos muito queridos dizem-me que tenho (que tenho, não que estou com ...) mau feitio. Por exemplo, porque não gosto de tascas excessivamente ordinárias. Ou porque reajo a "bocas" excessivamente imbecis. Eles concordam com estas avaliações, mas consideram que devemos ir calmos, conviver com isso. Enfim,
esta é a semana dos prémios Nobel. Todos os anos esta é a semana dos grunhos, letrados e iletrados, opinarem. Como se o Nobel fosse o verdadeiro Campeonato do Mundo (e assim todos devessemos votar, como nas eleições americanas ...), e tudo começa logo por essa patetice.
Sempre que chegada esta época nobelística imensos vêm (mal) opinar nas redes sociais sobre os premiados na Literatura e na Paz. Este ano é vê-los, até amigos, mandar "bocas" aos que dizem conhecer a premiada - não li ninguém a fazê-lo, poetisa não traduzida e nem mesmo os amigos/conhecidos escritores/jornalistas aparentam conhecê-la. Mesmo assim? Tem que haver gente a protestar com os inexistentes que dizem conhecê-la. O que está no fundo desta constante atitude? A raiva morcã contra os comuns que vão lendo algo, e que vão conhecendo, melhor ou pior, alguns escritores. E que disso falam. Há poses literatas? Há, claro. Não é tudo isto uma pose? Mas se um tipo fala de leituras que teve ou tem logo vêm os patetas gritar "falso" ...
Dias depois saiu o prémio da Paz. Neste ano logo surgiram dois tipos de morcões: o prémio foi para o Programa Alimentar Mundial? Devia era acabar-se com a fome, gritam alguns estupores. E, em particular aqui em Portugal, saem os morcões a gozarem com "a Greta" porque não foi premiada, uma javardeira imunda - ilustres professores universitários, comentadores "anunciados na tv", quadros da função pública, tardo-cinquentenários e sexagenários, a fazerem trocadilhos com "greta"? - malditas disfunções fálicas ... Que não haja qualquer dúvida, os imbecis encartados ao centro e à direita pululam, em frenesim, tanto como lá nos identitaristas "gauchistes".
Mas sobre os outros prémios Nobel nada se fala, que ninguém percebe nem quer parecer que percebe. E esses prémos não lhes servem, aos deste comboio descendente, para "rirem à gargalhada" dos dislates que trocam. Convictos que pensam política ...
O prémio de Medicina 2020 foi para este trio de investigadores, Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice. Por um trabalho fundamental relativo à Hepatite C. Muito o saúdo, mesmo que totalmente ignorante nesta matéria. Também porque essa é doença que a minha geração conhece, e muito pela sua proclamada associação a algumas opções existenciais. Fez-me perder alguns belíssimos amigos. E vários conhecidos. Que me fazem falta.
Então é noite de sexta-feira. Bebo um copo de tinto (de Lisboa, decente, baratíssima promoção do Pingo Doce) à saúde destes premiados. Agradecido. E outro à memória dos meus amigos.
E isto também porque eu, de facto, tenho um bom feitio. Amigo dos meus amigos (e deles tão saudoso), sem paciência para os imbecis. Há melhor?