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Nenhures

Nenhures

22
Mar25

Dinamarca-Portugal

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fernando gomes.jpeg

Ontem ao fim da tarde fui ao "Cabeça de Touro" ouvir o que têm para dizer os membros de uma lista que se candidatará à Junta de Freguesia dos Olivais. Gostei - aqui a IL já está a reflectir, nisso a trabalhar, saúdo isso.
 
Depois segui ao vizinho "Flor do Minho", partilhei uma boa dobrada com amigo "dos tempos". A menina-minha-mais-que-querida foi mais frugal. Ao sentarmo-nos, eu a escolher ficar de costas para a televisão, perguntou-me ela - e também ele - "não queres ver o jogo?". "Não me interessa", ripostei, abancando sem cerimónias. "É a selecção...!", resmunguei, já com a manápula nas azeitonas.
 
Fernando Gomes era braço direito de Pinto da Costa. Depois foi delegado para a FPF. Ali escolheu Fernando Santos para seleccionador. Este teve o bambúrrio de ganhar um Europeu com uma equipa que não jogava nada. Depois, aquando da primeira Liga das Nações fez aquilo para o qual esta fora criada: jogar com os putos e os secundários. Ganhou!
 
Entretanto a FPF de Fernando Gomes fez com Santos um contrato para "dar a volta" ao fisco. E arrastou-o anos a fio como seleccionador, de desilusões e mau futebol feitos. Os ministros das finanças, o primeiro-ministro e o presidente? Adoravam-no, ao Gomes.
 
Depois, quando "aquilo" ficou insustentável, Gomes - presidente da federação de futebol num país onde há uma extraordinária "escola" de treinadores (4 na 1ª Liga inglesa, vários triunfantes no Brasil, outros nos luxos árabes, imensos mundo afora) - contratou um estrangeiro mediano, tornou-o - se calhar já sem contratos mariolas - um dos seleccionadores mais bem pagos do mundo. E o septuagenário Santos lá foi, mundo afora, amealhar porventura para pagar as inesperadas coimas.
 
Gomes foi condecorado (aquilo do contrato não o maculou). E foi para presidente do Comité Olímpico (aquilo do contrato não o maculou). E deixou-nos amarrados ao tal seleccionador. E a selecção nacional não joga nada, está até pior do que no tempo de Santos.
 
"Não queres ver o jogo?", surpreende-se a menina-minha-mais-que-querida, "Então, pá?", surpreende-se o meu-padrinho. Sorvo o gole da imperial, com as costas da mão limpo a espuma alojada na bigodaça. E ouço o Comendador Teixeira a perguntar: "como é que se condecora um gajo destes?", "isso é que eu queria ver, o marcelo a responder a isso".
 
Ainda a lambuzar-me com a dobrada (aviso, é boa a do "Flor do Minho") dizem-me que o jogo acabou. Perderam? Claro, "não jogam nada...." E não adjectivo nem aduzo interjeições. Pois está ali a menina-minha-mais-que-querida. Apenas reduzo tudo ao óbvio "não é a minha selecção".

01
Jan25

A discriminação efectuada pela PSP

jpt

olivais.jpeg

Foi ontem notícia comentada aqui nas esplanadas dos Olivais, no frenesim que antecipava o "reveillon". Aproveitando a quadra festiva, e concomitante relativa desmobilização das associações comunitárias locais e a dos órgãos eleitos (estes em extensa licença laboral decidida pelo "carinho" da sua presidência), a  PSP promoveu uma rusga no nosso bairro, tendo detido alguns dos fregueses - e, ao que ilustra o jornal "Público", em plenas imediações do centro da benfazeja sociabilidade vizinha.

É evidente o carácter discriminatório da polícia, que muito ofende o bom nome e a pacatez cidadã da esmagadora maioria dos nossos habitantes. E exactamente no momento ritual festivo anual. Imagine-se o estado de espírito com que nós, aqui residentes, atravessámos para 2025! Sabendo, de modo assim reforçado, que a qualquer momento poderíamos - e poderemos - ser interpelados por uma força policial. Apenas por sermos olivalenses. "Originários" ou, mesmo até, meros "vientes", advindos.

Como alguns clamavam ontem, esta PSP não tem estas investidas nas cercanias da São Domingos à Lapa. Em redor do Largo do Rato. No Restelo junto a Belém. Nas Telheiras e nos Chiados da nossa cidade. Apenas a nós, comunidades "bairrizadas", aponta. É tempo de travar esta injustiça, estas más práticas policiais.

23
Dez24

A Pedir Boas Festas

jpt

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Este é o "cabaz de Natal" que a Junta de Freguesia dos Olivais - essa agremiação do PS, que tanto brado vem dando devido às suas propaladas más práticas - doa a alguns dos fregueses. Desconheço os critérios de selecção, mas presumo que sejam etários - e serão independentes de hipotética escassez de recursos económicos dos ofertados, a ajuizar pela contemplada que me fez chegar esta imagem.

Simpatias partidárias à parte, isto de andar a dar bodo aos... velhinhos é uma peculiar (para não dizer pior) concepção do exercício do poder autárquico. Enfim, é a Lisboa que temos, as gentes que escolhemos...

E, já agora, aproveito o tópico e a benevolente fotografia para a todos vós pedir Boas Festas!.

06
Dez24

O Jardim "Zé Pedro" nos Olivais

jpt

zepedro.jpg

Os Xutos fizeram os hinos da nossa geração, "Remar, Remar", "1º de Agosto", "O Homem do Leme", mais um punhado. Tiveram a postura da rebeldia da juventude, o enfrentar daqueles rústicos aldeões dos anos 70s portugueses, os mais-velhos de então, tão convictos de si-mesmos estavam, e eles a cantarem a recusa dos que "tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...". Depois, sucesso afora e vida percorrida, da postura fizerem pose, coisa mais do que legítima, artistas que são. Ou seja, o "X" não, o "X" que-se-lixe, o quase "no future" do punk, amansou, tornado mero requebro de fim-de-semana, intervalando a nossa vida de pais-de-família. Qual o problema disso? Até porque - justiça seja feita aos Xutos - nunca se armaram em paladinos de "anti-sistema", foram muito mais, estavam fora disso, assistémicos, se se quiser, nisto da clarividência máxima, do "a vida é sempre a perder"...
 
Um dia com eles pasmei. Num "assim tanto também não!", até irado, praguejando. Foi ao sabê-los ali em Chelas, onde foi o Cambodja, a partilharem o palco com um trio de presidentes (Marcelo, Ferro, Medina), estes a fazerem o "X". Percebi-os, os compromissos da velhice, mas virei costas. Sim, quando o Zé Pedro morreu ainda saí de casa e fui ali ao cemitério dos Olivais acenar uma vénia, de "X" armado diante do seu féretro. Teve de ser... Mas mais nada, desde aquele dia, servil, a banda é-me apenas uma cada vez mais vaga memória.
 
Agora soube que aqui nos Olivais, ali às Finanças - onde ele viveu em miúdo - se apresentou a estátua do Zé Pedro no jardim que passa a levar o seu nome, coisa de que se ouve falar há anos. Aqui nos Olivais, 32 000 eleitores no centro de Lisboa, onde a biblioteca está encerrada há cerca de quatro anos - sem justificação que não seja a incúria. Onde as gerações de gente algo pública ou menos conhecida, já partida, são deslembradas, sem "arte" ou "engenho" para animar uma "memória" social, nisso animar as vidas.. Onde a indução cultural se pensa como "animações gastronómicas" e festividades de Setembro... E onde a Junta é o que é, e desde há tanto tempo que o é, uma vergonha caciquista.
 
E olho este friso de "X". E Moedas, assim, a sufragar isto. "E uma vontade de rir nasce do fundo do ser..."
 
***
 
Adenda: junto o que respondi a um comentário no meu mural de Facebook sobre a publicação deste texto:
 
Não me choca, até simpatizo com "Jardim Zé Pedro". E não o entendo como uma qualquer "violação" de um qualquer "espírito" dos Xutos. Mas levanta algumas questões:
 
1) há uma decisão camarária, emanada devido a uma petição pública que propunha esta homenagem, e que foi adjudicada à Junta de Freguesia . Foi estipulada uma tarefa de reformulação de um jardim. A obra não está pronta. Mas já foi inaugurada, em estratégia propagandística aqui na freguesia. (Abaixo deixo reprodução da deliberação camarária e planta do jardim a reformular, que me foi enviada por um leitor do blog).
 
2) sei que os proponentes da iniciativa, cidadãos desprovidos de quaisquer ambições de visibilidade, apenas olivalenses (e não só) "fans" dos Xutos, foram esparvoadamente destratados pelas gentes da Junta, estas sequiosas da tal "visibilidade";
 
3) esta Junta, PS desde 1980, é um exemplo patético de caciquismo ignorante. E de práticas de um nepotismo tão rasteiro, miserabililista já descritas pela imprensa (isto chega ao ponto das sopas escolares servirem para alimentar pelo menos a familia de uma das integrantes das eleitas da Junta). Situação que desaconselharia qualquer associação do presidente Moedas com esta gente (ainda por cima nem são do mesmo partido, mas mesmo que fossem...);
 
4) e mais importante: os Olivais, um enorme bairro construído nos anos 60s, compôs-se de imensa gente que teve alguma visibilidade pública, da geração fundadora e dos seus descendentes, para além dos que terão vindo depois. Ou seja, há um vasto manancial de "Zés Pedros", de várias áreas de actividade. Já que estamos nos 50 Anos de Abril dou este exemplo: só no mesmo "quarteirão" (para facilitar), perto de minha casa, viveram até às respectivas mortes Aventino Teixeira, Álvaro Cunhal e Soares Carneiro. O "sector cultural" da Junta aproveitou isso para qualquer animação social, cultural ou mesmo política? O que se passa neste bairro, em termos actividades sobre as "memórias" a "não esquecer" é paupérrimo, tal como o é em termos de construção de novas "memórias" e isto aqui tornou-se, agora sim, um dormitório.
 
5) há uma biblioteca, a antiga BDteca, sob responsabilidade da Junta que está fechada há cerca de 4 anos. Sem obras estruturais, nem isso. Apenas incúria. E espetam uma estátua de um músico (Zé Pedro que seja) e acorre a imprensa a louvar isto?
 

jardim.jpg

face à Deliberação nº 143/CM/2024 a obra não estará concluída, dado que o Jardim agora construído não se resume aquele espaço mas sim a toda a zona ajardinada até á Escola Primária.

25
Out24

Canções românticas

jpt

Então agora gostas do Marco Paulo?, perguntam-me por mensagem os (quase)censores Não tanto das suas canções. Mas gosto da sua figura, por ser popular e pelos enxovalhos que recebeu ao longo da carreira. Que - e com teor bem pior - perduraram para além daqueles 70s e inícios de 80s quando todos os músicos portugueses (os do rock, acima de tudo) eram destratados em público - à excepção, claro, dos "de intervenção" - coisa que minguou com o êxito do Rui Veloso.
 
A evolução do tratamento dado a Marco Paulo, paulatinamente tornado mais "respeitável", denota não só a real evolução cultural do país mas mais mostra como esta evolução veio do "povo" (sempre dito ignorante) e não da pequenota-burguesia, feroz de preconceitos e de arrogância censória, que julga "pedagógica".
 
Se gosto de cantores românticos? Sim, claro, amo Sinatra. E ouvi dezenas de vezes esta cançoneta romântica, verdadeira súmula da coisa: imaginando-me o velhote atrevido (jamais sugar-daddy, atenção...), o velhote atrevido, dizia, enleado com a bela jovem desvanecida? Antes e hoje, ainda mais no agora mesmo!? Não confesso tal coisa, apenas deixo a dúvida...
 
E avanço até que esta versão tem uma dimensão sociológica. Esmiucei-a tanto que até escrevi sobre o assunto: muitos saberão que sou dos Olivais, e sobre isso me repito. "O que é isso dos Olivais?", perguntarão. A resposta está aqui, nesta canção romântica: "Olivais" é o meneio e a onomatopeia que o velhote xunga ("pimba" também se disse) dedica aos exactos 2'35'' à tão bela jovem encantada.
 
Aqui entre nós, rapaziada, quem não gostará de canções românticas? Se estas assim, vividas assim...?
 
Viva Marco Paulo. E os seus colegas...

14
Set24

Com despudor

jpt

Sol Torna-Viagem.jpg

Há umas semanas o Pedro Correia foi aqui muito gentil comigo. Hoje sou de novo mimado, e pelo Afonso de Melo. Que deixa no "...Sol" está este afabilíssimo texto sobre o meu livro "Torna-Viagem" - esse que só se compra através desta ligação. Aqui o partilho na esperança de nisto despertar alguma curiosidade leitora. Ou mesmo solidariedade divulgadora.

(E, já agora, isto de uma edição de autor - desconhecido, e em formato de impressão por encomenda via plataforma editorial - chegar a um semanário nacional tem "o seu quê...". Sim, é muito "mafia olivalense". Mas mostrará a outros que é possível publicar para além do remoinho das "editoras").

Enfim, aos que se decidirem interessar: espero que apreciem este meu "Torna-Viagem". E, se puderem, que o divulguem.

19
Ago24

O Barbeiro do Alain Delon

jpt

delon.jpg

In illo tempore fugi de Direito, primeiro, e de Sociologia, depois, e fui estudar Antropologia. Um erro, crasso (desaconselho-o às novas gerações - não por causa dos saberes disciplinares acumulados, esses louváveis...). Tal se deveu à complacência dos meus pais, crentes de que eu, de facto então petiz, mesmo se barbado, saberia do melhor para o meu destino.
 
No final da licenciatura (que cumpri de modo trôpego, arrastado e sofrido) tinha de concluir uma disciplina, mal leccionada - sei do que falo, pois vim a leccionar tal coisa, anos depois e alhures, fazendo-o de modo muito melhor e ainda assim mal. Para esse êxito era necessário escrever um trabalho e apresentá-lo oralmente. Era uma "história de vida", coisa então muito em voga, fruto do sucesso de "Os filhos de Sanchez" do célebre O. Lewis e, menos, do anterior "Juan Perez Jolote, biografia de um tzotzil", do mexicano Arciniega. A ideia, nada má de per se, era que da "história de vida" (que não da biografia) de alguém se induziam os feixes constitutivos / constrangedores de determinado contexto histórico.
 
A colegada, impregnada de "sensibilidade etnográfica" - ainda que à bolina naquele Portugal "europeu" que tornou a velha etnografia em meros "salvados", sem que nenhum dos funcionários públicos doutorais a avisasse disso - correu a buscar um qualquer vizinho vulto típico, pitoresco, que lhes contasse a sua "história". Já não me lembro, mas presumo que tenham saído do armazém a velha criada, o pescador curtido pelo Sol, um oleiro ou amolador, etc.. Eu, "do grupo dos Olivais" - como ainda hoje me apresentam - disse uns palavrões, peludos e líquidos, sobre isso de andar a estudar durante os melhores anos da vida para depois ir à procura do "típico". Em monólogo mudo insultei colegas e professores. E fui entrevistar o meu querido barbeiro.
 
Esse era um excepcional "cabeleireiro" (como exigia ser chamado, dado que tinha formação profissional, e disso era ufano) de homens. Aos seus clientes regulares oferecia dois cortes: o da tropa - e quando segui para Mafra fez-me um pente zero à mão (!!!!), tão rapado que o mancebo alferes me veio a dizer que não era preciso tanto... uma obra de ofício mesmo espantosa; e o de casamento, coisa que algo depois fui cobrar, chegado de Maputo na antevéspera do meu feliz enlace.
 
O seu salão olivalense, de labor imparável, era também um refúgio. Ali se acoitavam os jovens depressivos do bairro, "drunfados" claro, os outros "drunfados" oficiosos, pois voluntários, alguns ex-junkies mais mansos, enfim, o colectivo dos desamparados sem mais. E mesmo amigos e vizinhos que ainda seguiam inteiros, ou isso julgavam. Crente Ba'hai, e algo prosélito, mas sem excessos, a todos acolhia e, com imensa generosidade, aconselhava. Num saber que os pobres doutos diriam de "senso comum" mas que a todos acalentava - e por isso sempre regressavam os seus ouvintes. Verdadeiras terapias de grupo...
 
Enquanto nos aparava - com a sua, de facto, magnífica técnica - perorava, incansável. Não só sobre os rumos que cada um presente naquela plateia, real congregação, deveria seguir. Mas também, e essa era tema constante, sobre a sua experiência de vida. Pois ele era um magnífico, grandiloquente, mitógrafo de si mesmo. E o que mais me fascinava era o facto daquela sucessão de mirabolantes episódios ser contada e recontada sem falhas, sem aquelas alterações que desvendam a ficção e, muito mais, a autoficção. De facto, ele era um talentoso mitógrafo, pois crente irredutível do mito que construía, ele-mesmo...
 
E basto credível nisso  - ainda hoje os que o frequentaram afiançam da veracidade dos detalhes então narrados: a participação na resistência armada antifascista, o mergulho na clandestinidade, a partida "a salto" para o estrangeiro, as desavenças com o (micro)movimento em que militava. E o ressurgir da "normalidade", fazendo-se cabeleireiro no Sul de França, estudando isso e estabelecendo o salão em Marselha. Tendo-se seguido a fuga daquele país, para Norte, para mais um mergulho na clandestinidade da resistência armada antifascista. Depois viera o 25 de Abril, a liberdade e o seu regresso ao país. E só então o remanso - laborioso, é certo - da vida familiar, vivida naquela religiosidade bonacheirona, até anafada, de uma imensa generosidade, esse a que nós assistíamos, acompanhávamos. Que tanto me encantava. E a tantos dos meus vizinhos, seus fiéis clientes.
 
Nesse rodopio que lhe fora o vivido narrado havia um episódio que me era mais sonante, a causa da sua fuga de Marselha, norte afora e regresso à luta antifascista clandestina. Pois o seu salão marselhês havia tido um rápido sucesso, a clientela crescera desmesuradamente. Alain Delon cedo se tornara cliente habitual. Mas esse tinha um defeito: julgava que o seu estrelato lhe concedia estatuto privilegiado. Um dia, farto das irrupções de Delon no seu salão, o cabeleireiro disse-lhe, sem rodeios: "Ó Alain, tens de ir para fila como os outros, espera a tua vez...". Claro, o actor, despeitado, mandou os seus capangas violentá-lo, tendo ele fugido, felizmente antes de ser seviciado. E nunca a história faltava, e nunca tinha versões adulteradas...
 
E talvez a lembrança dessa prazerosa, mas convicta, encarnação do Delon de Borsalino seja exemplo maior de como através do cinema a ficção se pode tornar real - verdadeiramente real. Sendo assim uma grande homenagem ao actor que agora morreu. E que fez das suas personagens parte da nossa vida, de forma tão... viva.
 
(Claro, escolhi como meu objecto de "história de vida" o maior mitógrafo que conhecia, o menos típico "informante" que tinha à mão. Porque acreditava, e ainda acredito, que era o mais significante para ser ouvido... Apresentei o trabalho final na minha última aula de licenciatura, dia grande... A assistente do regente, jovem ainda, quando expliquei as causas daquela minha opção, respondeu-me, crítica, lá do meio da sala: "isso é o contrário do que qualquer manual de investigação recomenda!"... Eu, também jovem, ripostei, até sem querer: "se eu estivesse preocupado com manuais tinha ido estudar Gestão" - coisa que, de facto, deveria ter feito, estaria agora numa prateleira algo remunerada, em teletrabalho pré-reforma. 
 
Dispensava-se de exame final se obtida uma nota de frequência bastante acessível, até medíocre. Mas tive de o ir fazer, foram implacáveis... Mesmo assim ainda hoje penso que "O Barbeiro do Alain Delon" foi o melhor texto que já escrevi.)
 
 

01
Ago24

Cultura em Maputo, Política aqui

jpt

ccpmaputo330d.jpg

1. Um amigo, camarada de anos a fio em Moçambique, e que comunga o meu interesse pelo país e pelo que faz o nosso Estado nas relações bilaterais, e em particular nas questões culturais, avisa-me desta notícia: a nomeação de um novo adido cultural para a embaixada de Maputo, José Amaral Lopes, antigo secretário de Estado da Cultura e antigo presidente do Conselho de Administração do D. Maria II, deputado, entre várias outras posições de destaque. Dado o seu perfil "alto" é surpreendente a sua indicação para este posto, até modesto. Mas para todos que se interessam por estas matérias - a mescla entre "acção cultural externa" e "cooperação" - uma nomeação de alguém com este peso biográfico tem um significado: denota um grande e assisado interesse governamental no desenvolvimento destas relações culturais, decerto articulado com alguma capacidade para reforçar os  meios, materiais e humanos, dedicados a essas interacções. Fica-se assim - e mesmo que sem "pedir a Lua" - na expectativa de um período de grande desenvolvimento nas conjugações culturais entre ambos os países. Possamos nós fruir disso!

 

2. Paralelamente - mas sendo, de facto, uma irrelevância - a notícia desta nomeação tem um factor denotativo da mesquinhez intelectual dos mecanismos partidários, em particular os do PS. Amaral Lopes exerce actualmente as funções de presidente de junta de freguesia, eleito pelo PSD. Abandonará o posto para assumir estas novas funções.

O dirigente lisboeta do PS, David Amado, critica-o por ter abandonado a freguesia, dela fugido. Deixando assim até implícito um elogio ao actual presidente, dado que considera gravosa a sua substituição. Mas é a demonstração da total impudicícia desse dirigente socialista. Pois há poucos meses, nesta mesma sua concelhia partidária, um também presidente de junta de freguesia, o socialista Costa, abdicou das suas funções, indo (sem currículo que o justificasse) liderar um mecanismo televisivo de produção de opinião pública. Amado então nada contestou. Entretanto, aqui nos Olivais a socialista presidente de Junta, Rute Lima, aquando reeleita logo se foi a trabalhar para a nova Câmara PS de Loures, e vem por cá "exercendo" funções em regime "parcial". E Amado ficou mudo.

E já agora, até porque o postal é sobre "cultura"  e nisso "bibliotecas" - a do Camões em Maputo é muito relevante na cidade - convém relembrar que a biblioteca da Junta de Freguesia dos Olivais, a antiga Bedeteca, sita no Palácio do Contador-Mor (sempre associado aos Olivaes dos Maias) está fechada há mais de três anos. Devido a umas obras não estruturais, que se diz terem sido cabimentadas 2 vezes (!!!), e que se vieram arrastando por incúria da junta socialista - estando agora culminadas sem que a biblioteca reabra. Diz-se no bairro, e quem sabe, que estaria prevista a reabertura para o início deste Verão, depois para Outubro. Mas que deverá acontecer apenas cerca do Ano Novo - para agitar as águas em ano de eleições autárquicas. Sobre tudo isto - e tanto mais - não fala o tal David Amado. Nem as hostes socialistas.

17
Jul24

Qual homem do leme

jpt

(Um homem na cidade, Carlos do Carmo)
 
Ontem escrevi memórias sobre a velha "cidade do Lobito", e alguns "dos tempos" me dizem "estiveste bem, Zezé!", num até imaginado "era assim mesmo". E também por isso hoje deslizo até à seguinte "de Benguela", em busca dos resquícios daquele tempo. Ali abanco, deparando-me com inesperado festival festivo, e nisso usurpando a energia de gente que não é já a minha, de quase jovens que ainda vêm, que ainda se imaginam... Irrito-me, na consciência desse meu hiato, e nisso bebo com vertigem, naquela sede como se o Miguel, o "ilustre causídico", estivesse ali, como se o João, o meu amado "Prudêncio" - e que falta me fazes, João -, me esperasse ("borrego, já abusaste....", diria), como se o "Barão" me beijasse como homem e me levasse num "Bonanza, hoje estás...", como se outro Miguel afilhado gargalhasse comigo, como só ele gargalha, como se outros, e tantos foram, estivessem ainda ali para me dar a mão... e a alma.
 
No entretanto uma amiga invectiva-me, longamente, por não ser amoroso - incompreendendo, como todos e, mais do que esses todos, eu mesmo, ter eu sido eu, ser eu, um homem de um único amor, destruído na vida. E na mesa acotovelam-se, imagine-se, espantoso nesta era, casais de noivos, projectando casórios, e nisso se calhar também, meio mudo, sorridente, o meu mais novo amigo, sexagenário afinal também ele apaixonado. E, ainda por cima, no meio de tudo aquilo, um jovem casal desavindo, em histriónico recomeço.
 
NIsso refugio-me, encosto-me ao balcão, toca na rádio a minha "Homem do Leme" dos Xutos - que eu, quando quis fazer uma tese de doutoramento coloquei na introdução, para convocar aos doutos um "o que é isto?" que me desse espaço para responder eu um altaneiro "sou eu, foda-se", intelectuais de merda... À "Homem do Leme" eu ali ao balcão acendo um cigarro, o dono deixa-me num "que se lixe, já fechou!" e percebo, recordo, que não há maior prazer no mundo do que fumar um cigarro num balcão enquanto se bebe.
 
Nisso transito para o uísque, o Famous, "a sério?" perguntam-me, conhecedores dos meus cuidados actuais, isto de querer eu protelar o descalabro. "Venha", afianço, para acompanhar os Xutos da minha vida... E eu, o meu homem do leme, resmungo-me "puta de vida que nunca mais acaba!", cristão ateu que sou e assim, por isso mesmo, obrigação, a aguentarei até ao fim, caralho. Ali ao balcão escrevo, mais uma destas merdas que quase ninguém compra. "Não vais publicar isto!, foda-se, é demais!", diz-me, até preocupado, o Zezé, também ele já no Famous. "Claro que publico", respondo-lhe, indignado, pois eu sou um patriota, lembro-me, "o homem que transporta / A maré povo em sobressalto". Serei pífio nisso. Mas sou-o, que se foda. Nisso beijo, nas faces, uma das noivas, linda, invectivando-a "trata bem o puto, que é uma delicia", que o é, o cinquentinha...
 
A noite acaba, a casa fecha, regresso a casa ombreando com o Zezé, preocupado comigo, com isto da "merda de vida que nunca mais acaba". E por isso lhe sirvo um magníico rum da Guatemala, que meu "irmão" querido acabou de me oferecer. E assim rimo-nos, pois comungamos o "amar a liberdade", e nisso vamos "pela estrada deslumbrada". Patriotas que somos. E por isso, por tanto isso, aguentaremos, eu e o tal Zezé, tudo isto. Quais homens do leme! Não, como verdadeiros homens do leme.

09
Jun24

Já votei

jpt

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Fui votar de manhã (e votei bem). Como desta vez se pode fazê-lo em qualquer lugar, em vez de ir até às traseiras de casa, como sempre, fui até ali à frente, à Biblioteca dos Olivais. Foi forma de matar saudades pois a Biblioteca está fechada há mais de três anos (há quem afiance que há já 4...), devido a umas obras superficiais que a Junta de Freguesia tem descurado de modo escandaloso (dizem-me que até foram financiadas duas vezes mas não posso afiançar). O que é engraçado é que indo à página da Junta vê-se como Rute Lima (a presidente em part-time) e seus correligionários PS anunciam os trabalhos sobre um novo jardim que vão instalar em homenagem ao Zé Pedro. Mas nada sobre a reabertura da biblioteca. O que muito me faz lembrar aquilo dos "coronéis" brasileiros do Jorge Amado, que se limitavam a ajardinar para legitimar as malandrices.... 

Enfim, é o PS nos Olivais, em Lisboa. E Portugal. A "esquerda", dizem, avessa ao "obscurantismo", gabavam-se. E nós, que não gostamos de duplos financiamentos para obras públicas e até vamos às bibliotecas, somos ... "neoliberais", "reaccionários". De "direita"....

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

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