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Nenhures

Nenhures

09
Fev23

Cristina Ferreira e as redes sociais

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A popular apresentadora de televisão foi acolhida na Assembleia da República, na qual defendeu a regulação dos conteúdos das "redes sociais". Presumo que a verdadeira "namorada de Portugal" esteja ainda desiludida com a revogação dos preceitos mais "controleiros" da lei - dita "Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital" - que o (ex-)deputado socialista Magalhães havia tentado estipular - e que haviam desagradado aos malvados adoradores do Algoritmo, ao próprio Presidente da República, reconhecido instangrameiro, e, presumia-se, aos tuíteristas do Tribunal Constitucional. Ciosa defensora da pluralidade informativa e da ética republicana na comunicação social, Ferreira, ela própria com responsabilidades directivas televisivas, estará preocupada com os processos monopolistas decorrendo nesses meios, sempre em prol de uma efectiva liberdade de informação promovida por uma comunicação social livre de pressões políticas, ameaçada que tal liberdade está pelo verdadeiro vazio legislativo existente.

Entretanto, Ferreira, que em tempos idos deixara no ar a hipótese de se candidatar a Belém, vai já pavimentando esse caminho. Presumo que para esse desiderato contará com o apoio do ilustre Senador, antigo cabeça de lista nacional escolhido pelo então primeiro-ministro José Sócrates, cônjuge de membro dos governos por aquele capitaneados e actual colega europarlamentar de Silva Pereira - entre outros -, e que do alto da sua (senatorial) experiência política nos alerta para o processo em curso, que será alimentado pelas tais "redes sociais" e pela imprensa "monopolizada". Processo no qual "o Ministério Público, entretido que está na sua guerrilha diária contra o Governo e os políticos, por via do seu órgão oficioso, o Correio da Manhã," minam a democracia, tal como ela deve ser. Esperemos então pelo pacote legislativo que nos defenderá da perfídia ôntica da ralé das "redes" e dos ilegítimos anseios dos capitalistas da comunicação social.

(Postal para o Delito de Opinião)

14
Ago22

A Propósito do Ataque a Salman Rushdie

jpt

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O atentado sofrido por Salman Rushdie, 33 anos depois da sua condenação à morte pelo ditador Khomeini - em cujo país a imprensa já louvou esta acçãoconvoca a que se reflicta sobre como se concebe esta teofilia constituída como fascismo islâmico, que se vem alastrando nas últimas décadas. Pois na Europa há uma tendência "compreensiva" do fenómeno, de facto desresponsabilizadora dos seus agentes. Esse rumo tem dois grandes dínamos: 1) o viés autopunitivo da civilização ocidental, dominante nas correntes "identitaristas" tendentes a interpretações "multiculturalistas" deste fenómeno político, nas quais se enfatiza a relevância das suas raízes "culturais" - como se estas assim fossem legítimas, qual uma segunda natureza. No fundo, esta é a actualização da "obsessão antiamericana", oriunda do conservadorismo oitocentista europeu, neste ambiente impulsionada pela sua refracção em Foucault - ele próprio arauto da teocracia iraniana -, um grande inspirador desta deriva "identitarista"; 2) o reforço do pensamento antiliberal, um estatismo sempre tendente a impor limites à liberdade de expressão e de consciência, demonstrado em particular no anseio de reverter o direito à blasfémia e da aceitação - em primeiro lugar para as minorias residentes - da censura à liberdade de apostasia.

No caso de Salman Rushdie foi notório que muitas reacções após a sua condenação, provocada pelo "Versículos Satânicos", denotaram a subalternização da adesão aos direitos de consciência, tanto na sociedade britânica e suas congéneres como até em agentes políticos. Pois, mesmo que tenha vigorado o espanto, até repugnado, diante da proclamação de Khomeini, esse foi acompanhado de críticas ao escritor: este, avesso ao governo britânico de então e à política externa americana - e que havia defendido a revolução teocrática iraniana -, foi ridicularizado por aceitar a protecção policial que o Estado lhe proporcionou, como se isso fosse paradoxal. E, ainda mais significante, foi evocada a sua ascendência islâmica como factor que algo lhe deslegitimava a liberdade criativa, evidente refracção da aversão à apostasia (individual ou colectiva). Mas para além desses dichotes na vox populi, britânica e não só, e cujo valor foi apenas denotativo, o certo é que na sociedade britânica e em algumas congéneres, os cleros, e seus próximos, se mobilizaram, não só na crítica ao escritor como - e nisso foi relevante o então arcebispo de Canterbury - reclamando a extensão e (re)activação das leis contra a blasfémia e concomitantes acções censórias.

Para muitos, crentes ou descrentes, a blasfémia pode surgir como antipática ou mesmo anacrónica. E alguns consideram os seus defensores - numa evidente manipulação retórica - de "fundamentalistas seculares", até como incapazes de perceberem a "complexidade" socio-religiosa contemporânea. Naquilo que é um paupérrimo pensamento, pois deixa entender uma "simplicidade" pretérita das conflitualidades político-religiosas - ainda por cima num continente com séculos de guerras religiosas internas à cristandade, e de difíceis coabitações com minorias judaicas e islâmicas. Mas o certo é que a possibilidade blasfema é (tal como o é a apostasia) uma componente fundamental da liberdade de consciência e de expressão, e foi uma verdadeira conquista histórica.

De facto, as reacções que apelam a uma restrição à iconoclastia dedicada ao Islão contêm um ignorante "culturalismo", que implica uma generalização empobrecedora do complexo islâmico e uma vitimização - infantilizadora - daqueles crentes, como se esses sejam incapazes de ultrapassarem traumas advindos dessa iconoclastia. Mas contêm também o propósito de se aproveitar a imposição desses limites face ao Islão para os estender à totalidade do âmbito da religião - bem como a outras áreas da vida social.

Ou seja, essa deriva censória não se restringe ao Islão. No âmbito da cristandade contemporânea é ainda célebre a violenta reacção da igreja anglicana e de outras congregações face ao filme "Life of Brian" dos Monty Python. E mesmo que hoje em dia essa posição pareça absolutamente patética - de um ridículo que foi imensamente glosado, tão patente no sempre recordado debate entre John Cleese e Michael Palin com o bispo de Southwark Mervyn Stockwood - em pleno final da década de 1970 essa acção eclesiástica teve efeitos censórios, e não só na Grã-Bretanha. E convém recordar a violenta reacção do Estado russo e da sua Igreja Ortodoxa no caso do grupo Pussy Riot, condenado (também) por sacrilégio. E em Portugal, neste nosso registo manso dos "brandos costumes", ficou célebre - e muito ridicularizada - a exaltada passeata capitaneada pelo então presidente da Câmara de Lisboa, Krus Abecassis, aquando da apresentação do "Je Vous Salue, Marie" de Godard. Tal como a patética investida do clero católico - nisso então apoiado pelo actual presidente da República, Rebelo de Sousa - contra a singela "Última Ceia" de Herman José, já em 1996.

Como tal, esta vertigem censória é ainda uma questão interna à sociedade portuguesa, bem como em muitas das suas aliadas europeias e americanas. E é notório que muitos países, incluindo europeus, mantêm leis contra a blasfémia e há ainda dezenas que as têm contra a apostasia. E - associável a essa situação - continua a existir uma globalizada discriminação, ainda que com plurais conteúdos, dos ateus - sem que nenhuma dessas situações (consagração do direito à blasfémia e à apostasia, eliminação de entraves sociais, políticos e jurídicos à consciência ateia) surja com veemência nas agendas internacionais, seja nas articulações multilaterais seja no âmbito das relações bilaterais. 

Esta refutação do direito à blasfémia, imensamente cruzado com a "vitimização" de um aparente universo islâmico - evidente eco destes discursos "identitaristas" que tendem a encontrar "comunidades" "racializadas" (esse sonho agit-prop de marxismo de bolso, que quer transformar a "raça-em-si" em "raça-para-si") -, aliada à vontade de (re)instaurar mecanismos censórios e de induzir os autocensórios, foi patente após o sanguinário atentado à "Charlie Hebdo".

Em Portugal lembro o aplauso (as "partilhas") entre a intelectualidade de esquerda de um texto do célebre padre Leonardo Boff, apelando à instauração da censura - e explicitamente agregando a temática "islão" à cobertura noticiosa das eleições brasileiras, num atrapalhado texto que bem demonstrava o anseio de vetusto teólogo, e de todos os que o ecoaram, essa amplitude das dimensões que esta temática implica: a instauração de uma censura e de uma autocensura que sejam "protectoras" de determinados grupos sociais (e políticos)...

E notória foi também a reacção de Ana Gomes, encerrando-se em críticas às vítimas, numa evidente "justificação" do(s) ataque(s), devido(s) às ofensas sofridas, mesmo atribuindo-os à... austeridade. E o que é relevante é que esse somatório de dislates que Gomes veio proferindo - incapaz de entender as dimensões políticas e ideológicas da situação, a particular e sua envolvente -, demonstrando o seu alheamento ao valor da liberdade de expressão, não lhe causaram qualquer ónus social ou político. Pois acabou por se afirmar como candidata a presidente da república, numa candidatura emanada de um partido cujo fundador se afirmara um dia "republicano, laico e socialista" - sublinhe-se "laico", e perceba-se que "laicidade" (pessoal e estatal) é algo que Gomes, e tantos outros, incompreendem.

Esta relativização do terrorismo islamita, o reenvio das suas causas para os contextos europeus, deste modo a estes querendo moldar em função das acções assassinas da teofilia fascista, surge também na igreja católica. Disso exemplo são as declarações de Manuel Linda, o bispo do Porto, em 2020 aquando de um atentado islamista em França: "O atentado de ontem na catedral de Nice não é luta do Islão contra o Cristianismo: é o resultado dos preconceitos daqueles europeus que não só não fomentam o diálogo intercultural e inter-religioso como até estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões." 

Mas o conúbio dos agentes políticos portugueses com esta deriva censória é um traço continuado. Em 2005 a revista dinamarquesa Jyllands-Posten publicou caricaturas centradas em Maomé, as quais viriam a ser republicadas em vários jornais mundiais. (Em Moçambique foram reproduzidas no "Savana", o que originou manifestações de muçulmanos que recordei neste "Kok Nam no Dia das Caricaturas"). As reacções internacionais foram violentas, tendo até a Liga Árabe e a Organização da Conferência Islâmica exigido que a União Europeia introduzisse leis contra a blasfémia. E a posição do governo português foi esclarecedora: em texto do  ministro dos Negócios Estrangeiros, o antigo democrata-cristão Freitas do Amaral, condenou a revista, remetendo-a para uma "licenciosidade" e convocando "limites" para a expressão pública. 

Esta secundarização da liberdade de expressão na sociedade portuguesa, consumada na repulsa pela blasfémia, esta permissividade face aos desejos censórios (e, insisto, autocensórios), é evidente. E é-o também na actual hierarquia das problemáticas levantadas, nos debates que emergem. E exemplifico tal situação recorrendo ao cerne do sistema jurídico português, o Tribunal Constitucional: o ano passado houve uma polémica sobre o novo presidente desse Tribunal, João Caupers, que muitos clamaram ser desadequado para as funções. O sobressalto, público e partidário, fora causado pela recuperação de um texto seu em jornal universitário, com mais de uma década, avesso ao casamento homossexual. Este ano foi também polémica a indicação de um novo membro desse Tribunal, Almeida Costa, num outro sobressalto colectivo, agora originado pelas suas posições antiaborto, expressas há mais de três décadas.

Ou seja, há - e ainda bem que o há - na sociedade e no espectro partidário uma vontade de escrutinar as opiniões tidas, mesmo que já muito recuadas, daqueles que concorrem ou ascendem a esse importante órgão de soberania. Mas recordo que há dois anos houve outro candidato a esse Tribunal, Vitalino Canas, um antigo governante socialista. Este, em 2006 aquando da discussão parlamentar de um voto sobre os acontecimentos internacionais provocados pela publicação das caricaturas dinamarquesas, considerou: "estão bem uns para os outros, os caricaturistas irresponsáveis e os fundamentalistas violentos". E uma proclamação destas, feita na Assembleia da República na condição de deputado eleito - e não em mero textos de opinião como nos exemplos congéneres que acima refiro - passou completamente ao lado de qualquer escrutínio às suas opiniões enquanto candidato ao Tribunal Constitucional.

E este é um exemplo sumamente demonstrativo das hierarquias políticas vigentes no país. No qual um esconso ditirambo contra o propalado "lóbi gay" faz levantar hostes, um vetusto e particular dislate sobre o aborto faz tremer de ira. E uma proclamação destas, um tamanho distanciamento à liberdade de expressão, proferida em pleno parlamento, é acolhida e "amnésiada" como irrelevante. E isto diz imenso sobre o ambiente político, e não só  partidário, que o país vive.

Ontem, ao ver a fotografia de Rushdie - que me eximo de aqui reproduzir -, deitado no palco após o ataque sofrido, rodeado por aqueles que acorreram a acudir-lhe, comovi-me e de tudo isto me lembrei. Porque, contrariamente ao antigo deputado socialista, continuo a acreditar que o escritor Salman Rushdie e o criminoso Hadi Matar não "estão bem um para o outro".

E continuo a concordar, porque democrata, com o anterior vice-primeiro-ministro britânico Nick Clegg, que após o ataque à "Charlie Hebdo", veemente, lucida e enfaticamente clamou que "we have no right not to be offended" (e bem que se justifica ouvir estes dois minutos, aos quais aqui deixo ligação...). E isso é a democracia - a qual vale bem mais do que um qualquer incómodo sofrido. E são estes defensores da censura os seus inimigos internos.

23
Jul22

Cancro da Mama

jpt

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Chamam-me a a atenção para um texto no Expresso e vou ler o jornal, o que me é raro. E noto outra notícia... Estamos em 2022 mas ainda assim apenas 19% das mulheres fazem o rastreio do cancro da mama.
 
Eu não sou de intimismos aqui (ou alhures). Mas faço um agora, troco-o pela esperança de que pelo menos um(a) leitor(a) se sinta com isto: bem amei (ou, melhor dizendo, amo, pois o amor não morre com o fim dos namoros, ao contrário do que reza a vigente concepção patrimonial dos afectos) uma belíssima mulher que fora abalroada por tamanho cancro. Está aí, bela e viçosa..., felizmente.
 
Não é uma exclusividade feminina: o melhor homem que conheci, o intelecto mais seguro, a elegância mais sincera, a pertinência mais sopesada, um "príncipe da República", morreu, tão novo, disto. Mas é-nos, aos homens, muito mais raro.
 
Não sei como é connosco, nisto da prevenção. Mas com as senhoras? Se está(s) a ler isto, a ver este jpt a entreabrir o âmago, seus amores, respeitos e saudades? Vá(ai) fazer o rastreio. E leve/a as amigas.
 
(E connosco, como é?)

23
Jul22

Ventura Strikes Again

jpt

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(Fotografia de António Cotrim, Lusa)

O deputado Ventura clamou contra a chegada de estrangeiros - que não turistas, entenda-se - a Portugal. Entende-a como uma ameaça grave e um disparatado desperdício de recursos públicos. Para além de questões de princípios e do ordenamento jurídico internacional, será de olhar para os argumentos que costumam alimentar esta recusa dos estrangeiros (repito, que não dos turistas).  

Portugal tem apenas 5,4% de imigrantes. É um dos países da União Europeia que menos concede direitos de nacionalidade a estrangeiros. É, notoriamente, um dos países da União Europeia com menor fluxo de imigrantes (e a UE não é um dos maiores destinos de imigração - surge em 12º lugar neste documento, mas é uma posição algo artificial, mas é uma indicação que serve para matizar a ideia feita de ser o alvo primordial da mobilidade). É um dos países europeus com menor número de refugiados e de pedidos de asilo. Os estrangeiros residentes não têm elevada criminalidade. E a taxa de desemprego não está muito elevada.*

Já agora, e como quem não quer a coisa..., Portugal tem, pelo menos desde XIX, uma longa experiência de emigração (Brasil, América do Norte, Europa Ocidental, África, sucessivamente). E continua a tê-la - ainda que os propagandistas avençados pelo PS e os agitadores profissionais do BE continuem a reduzir a emigração em XXI a efeitos do satanismo liberal de Passos Coelho. Disso resulta termos centenas de milhares (pelo menos) de cidadãos emigrados e milhões de seus descendentes no estrangeiro - com direito a requerer a nacionalidade, se o entenderem. E é neste país, com este historial e este presente, que se botam estas tralhas.

Ou seja, o paleio de Ventura nada mais é do que um animar das suas hostes (morcãs). É um aldrabismo, boçal. Um vácuo tonitruar de quem pouco ou nada tem para adiantar sobre a situação nacional e sobre o que é necessário avançar. Isto é uma bosta intelectual e um escarro moral. Aliás, é André Ventura.

 

*As estatísticas vão variando de ano para ano, e de fonte para fonte. Deixo estas ligações, encontradas em rápida pesquisa no Google. Se o meu objectivo fosse fazer um ensaio, a selecção de fontes estatísticas teria de ser mais cuidada, fundamentalmente em termos da sua coerência. Mas isto é um postal de blog, assim sendo mais do que suficiente a opção por fontes avulsas, desde que credíveis.

23
Jul22

General Nuno Lemos Pires sobre Moçambique

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Uma entrevista à Televisão de Moçambique (Junho de 2022) do General Nuno Lemos Pires, chefe da missão militar da União Europeia em Moçambique, ali deslocada devido aos conflitos no Cabo Delgado.
 
Excelente! Totalmente demonstrativa de que o obrigatório cuidado diplomático em alguém com tão delicada missão é conjugável com a pertinência analítica e discursiva. O nosso General discorre com elegância, clareza e sentimento sobre as causas daquela guerra, a situação actual, a função das missões militares estrangeiras - e a da UE em particular -, o papel desejável das forças armadas moçambicanas. E fá-lo com empenho esclarecido e esclarecedor, um até afecto nada desbragado.
 
Excelente, repito, e exemplar. Para quem se interesse pelo país é mesmo de ver.

12
Jul22

A Instagram

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(Postal para o meu mural no Facebook)

Não é por falta de vontade mas não consigo atinar com a Instagram, dita mais “jovem” e, por isso, mais “fina” - pois, como é sabido, "nós" envelhecemos menos que o povoléu. Fui lá há pouco, até para me libertar dos dizeres que aqui abundam, que isto está cheio de gente opinativa… Enfim, nas 30 primeiras publicações a que acedi havia 16 colocações pessoais (duas excelentes fotos gastronómicas, várias más fotos de paisagens veraneantes, ecos de festas com gente que desconheço). E 14 anúncios!!!

Não percebo a atracção daquilo, mesmo...

04
Jul22

O impacto dos Destaques da SAPO

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Neste postal regresso ao metabloguismo, esse desvendar que esteve em voga na era blogal, quando se procurava entender as características vigentes neste meio. Durante o último mês a equipa da SAPO - tanto na sua página central como na sua secção de "destaques" - teve a gentileza de realçar alguns postais meus, colocados aqui e/ou no colectivo Delito de Opinião. Tive curiosidade em perceber qual a influência disso na divulgação dos textos. O que é fácil, pois basta utilizar a ferramenta "(20) páginas mais visitadas" do sistema do blog. Cruzei os dados dos dois blogs, colocando aqui a verde os postais cujo destaque remeteu para a sua publicação no Delito de Opinião.

Este cruzamento não inclui os dados das visitas feitas nesse Delito de Opinião a alguns destes postais que lá também coloquei, pois não constam dos mais 20 ali mais visitados do mês no blog (o 20º teve 463 visualizações directas). Mas isso nada importa pois não altera a conclusão, tamanha é a disparidade das visualizações de cada postal. Ou seja, mesmo com as outras formas de divulgação - a actualização de publicações da própria SAPO, a publicação através das redes sociais (que eu faço no twitter e no facebook, no meu mural e no grupo Nenhures) - nesta era blogal, até porque muito reduzida a interacção entre blogs e menos os leitores avulsos, são os "Destaques" da plataforma que induzem as leituras. Aqui deixo a ilustração disso, um rol encabeçado pelos 4 postais que foram destacados nos últimos tempos:

Páginas mais visitadas (visualizações nos últimos 30 dias)

  1. Anitta no Rock in Rio                               - 6285
  2. A situação presidencial                            - 5373 (4.891 + 482 no DO) 
  3. Aterrar na Portela                               - 782   (719 + 63 no Nenhures)
  4. Portugal                                                    - 738   (710 + 28 no Nenhures)
  5. O Airbus de Marcelo Rebelo de Sousa  - 228
  6. 40 anos de vida adulta                             - 202
  7. O auto-golo à Zelensky                            - 126
  8. Latrinas Universitárias                            - 117
  9. Rebelo de Sousa                                        - 115
  10. Sita                                                               - 114
  11. A actualidade de José Craveirinha        - 104
  12. Arroz de Bacalhau                                     - 63
  13. Temido                                                         - 46
  14. Marcelo e a Incompetência                      - 45
  15. Uma Açorda de Bacalhau (e um bónus)- 44
  16. Linchamento                                               - 43
  17. O futuro                                                        - 40
  18. Da vida na província                                  - 32
  19. McCartney octogenário                             - 29

07
Mar22

E o governo?

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(Postal para o Delito de Opinião)

Anteontem, dia 5, cumpriram-se dois anos exactos sobre a última vez que eu toquei na minha mãe - a qual veio a morrer no final do ano. Pois apesar do Estado, através da directora-geral da Saúde Graça Freitas, continuar a apelar a que se visitassem os lares de idosos - e isso nesse mesmo dia em que Espanha os vedava a visitantes -, decidimos em família não mais arriscar o perigo de contagiar a nossa tão querida matriarca. Uma semana depois, e ainda que o governo português continuasse na sua senda de apelar à despreocupação - na qual ficou memorável a crítica dessa directora-geral à escola das suas netas que encerrara devido à situação -, e após a minha filha ter vindo do Reino Unido onde estuda, confinámo-nos em porto recôndito e seguro. Só vários dias depois, a 18 de Março,  o governo restringiu a ideia da "falsa segurança" ao uso de máscaras e de testes ao Covid, e concedeu na necessidade de uma clausura generalizada. [Para quem tenha interesse deixei este "O capitão MacWhirr e o Covid-19", um texto algo detalhado sobre o início da pandemia em Portugal]. E seguiu-se o longo período, estes dois anos que agora se cumprem, cujo percurso todos recordamos, com mais ou menos detalhes.

Se é certo que o final da pandemia fora já por vezes aventado, o sucesso da vacinação e a eclosão de variantes virais sucessivamente menos letais permitiu, no último terço de 2021, compreender que o espectro "Covid-19" se desvanecia. Tratar-se-ia agora, passados estes dois longos anos, de recuperar dos pesadíssimos efeitos económicos que este causou - bem como de sarar os défices sanitários que lhe foram adjacentes, e de recuperar um "ânimo" social, o qual também tem efeitos económicos. Nisso "agilizar" recursos que foram concedidos ao país - planificar e executar a célebre "bazuka". Mas também de induzir e possibilitar reinserções na economia global, talvez algo alterada pelo embate pandémico, até pela própria consciencialização que este causou da necessidade de introduzir alterações nas interdependências produtivas e comerciais. E a isto se juntaria o desafio das medidas estruturais de absorção do efeito do choque (tectónico?) das alterações no mercado energético, um necessário processo global em curso. 

Estes eram desafios - até gigantescos - antevistos para esta transição 2021-22. Tudo isto é agora sumamente complexificado pela eclosão da guerra russo-ucraniana. Um facto imprevisível à governação, mesmo que a esta se possa exigir a constante preparação para a previsível imprevisibilidade, na consciência da relativa imponderabilidade do real. Estamos assim diante de enormes desafios para a governação do país, um escaldante palacete de São Bento.

Ora um dia, mais tarde, muitos farão a história deste período. E constatarão que Portugal enfrentou este final da crise pandémica mundial e o ressurgimento da guerra na Europa numa peculiar - e talvez até absurda, dado o contexto - governação. Pois o actual presidente da República decidiu, motu proprio, dissolver um parlamento funcional e promover eleições legislativas. E que estas, apesar de decorrerem após meio século de democracia parlamentar, ocorreram sob uma incúria legislativa e executiva tal que obrigou o Tribunal Constitucional - apesar do próprio Presidente, já em funções há 6 anos, ser um renomado constitucionalista - a prolongar a sua realização. 

Devido a este abstruso processo Portugal enfrenta o final da crise Covid-19, o impacto do recrudescer do choque energético e a inesperada guerra na Europa, com um governo de gestão em funções durante 5 meses. Ao qual se seguirá, como a imprensa anuncia, um governo com várias alterações no seu organograma, implicando reformulações legislativas e reconfigurações na administração - sempre indutoras de delongas nos serviços. 

Se tudo isto é insignificante, então algo tem de ser constatado sobre a real importância do exercício governativo. Mas se não é insignificante - como julgo não o ser - então algo terá que constatado, e decerto que o será pelos futuros historiadores, sobre a competência do garante da ordem política, o actual presidente da República. O qual não só promoveu esta situação como permitiu que decorresse desta forma, decerto que por superficial desatenção e deficiente análise. E a futura avaliação deste mandato terá que ser imensamente negativa, até surpreendida num "como foi aquilo possível?". Mas aqui no presente o que pode espantar, ainda que percebendo que tal é um sintoma do estado deste regime, é o facto de que nem espanto nem ira vêm acolhendo este exercício presidencial. E os seus efeitos, desequilibradores. E prejudiciais aos extremos desafios que o país enfrenta neste contexto mundial.

 

25
Fev22

Os pró-russos

jpt

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Enquanto a tropa russa alastra na Ucrânia as nossas reacções avulsas de populares opinativos serão pouco relevantes. Mas ainda assim elaboro sobre parte do que ontem vi nas  minhas contas nas redes sociais (FB, twitter):
 
1 - vigora o argumento de que a responsabilidade (dolosa) é dos norte-americanos, dado o seu desígnio de alargar a NATO, com conúbio da União Europeia. Vi isto, viçoso, por cá e entre moçambicanos.
 
Entre estes últimos reconheço os locutores como gente ligada, ideológica e/ou afectivamente, ao Frelimo da I República, associável (na sua complexidade) ao movimento comunista internacional e vinculada ao anti-colonialismo. Entre os portugueses percebo (ainda que tenham ditos mais heterogéneos) simpatizantes dos dois partidos comunistas tradicionais ou do recente dito pós-marxista.
 
Nestes é interessante a noção que aceita como justificável e legitimada uma invasão militar devido às políticas de relacionamento diplomático de um país vizinho. O que é - neste caso totalmente explícito - uma afirmação de uma soberania menorizada, o primado de uma tutela regional internacional, a qual se diria imperial. Isto é particularmente estranho entre moçambicanos, que têm recente experiência própria disso mas que agora surgem defendendo que se faça o mesmo alhures. Mas não têm qualquer rebuço, entenda-se vergonha, em acorrer aos teclados para perorar tal simpatia pelo efectivo colonialismo alhures - o que não é totalmente surpreendente, e recordo que em trinta anos a ler sobre Moçambique nunca vi um intelectual ou político desse país botar sobre a ocupação colonial do Tibete por mais vozeares revolucionários-progressistas anti-coloniais que emitam. Mas, claro, não se pode ter tudo...
 
2 - um outro traço do "opinativismo" pró-russo (de facto, um mero anti-americanismo) é que ninguém alude à participação da Bielorússia, da qual partiram tropas russas nesta invasão. Um país que é um verdadeiro protectorado russo, com um regime imposto por Moscovo, numa verdadeira lógica imperial (ou colonial, para usar uma linguagem mais austral).
 
Ora como nestes núcleos locutores - particularmente os portugueses - há imensa gente muito loquaz sobre a questão dos "refugiados", não deixa de ser interessante este "esquecimento". Pois é bem sabida a desumana política de Minsk para os refugiados. Mas nem isso chama a atenção ou corrói o simpático silêncio destes opinadores. E já nem aludo sobre o que essa efectiva tutela de Moscovo sobre a Bielorrússia (bem como outras regiões) significa sobre o verdadeiro desígnio de Putin...
 
3. Para percebermos o seguidismo, avulso mas também institucional, destes núcleos políticos convirá ler o que disse ontem na Assembleia de República o deputado comunista João Oliveira - esse mesmo, que tantos democratas louvaram lamentando não ter sido reeleito. Seguindo os argumentos do presidente Putin, até mesmo a ladainha dos "nazis ucranianos" - tal como há anos aqui o publicista do activismo anti-discriminações étnicas e raciais, o célebre dr. Ba, clamava "vêm aí os nazis ucranianos" aquando de um jogo da bola. Pois a cartilha comum destes núcleos políticos já tem historial...
 
4. Enfim, para todos estes "camaradas, companheiros, amigos", austrais e setentrionais, mais ou menos vinculados, ideologica ou afectivamente, ao "espectro do comunismo" (Marx, Engels, 1848), deixo aqui ligação ao comunicado oficial do Partido Comunista de Espanha sobre a invasão russa da Ucrânia. E, chamo a atenção dos menos lidos, trata-se de um texto num país com uma relação histórica com a NATO muitíssimo mais problemática do que Portugal. Também por isso é um texto muito relevante. Pela diferença que tem face ao mero bolçar dos pró-putinescos.
 
5. Claro que nada disto reduzirá o desprezo, mesmo ódio, pelo "Ocidente" e pela democracia, que vigora entre estes locutores. Excepto, friso, quando é para nele e sob ela se viver. E para morrer (e esta última meia-palavra é mais do que suficiente para qualquer bom entendedor).

09
Fev22

Assessoria de Vereação

jpt

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To Whom It May Concern:
 
Licenciado em ciência social e pós-graduado em matérias de desenvolvimento local; praticante da língua francesa e da inglesa; conhecimentos de Word e de comunicação nas redes sociais; forte sentido de empreendedorismo; espírito abnegado e voluntarioso, dotado de grande motivação; capacidade de integração em diversos contextos; fácil inserção em grupos de trabalho; jovialidade e franqueza como características pessoais fundamentais; adequado guarda-roupa e bons modos à mesa.
 
Procuro posto de assessor de vereador municipal (com ou sem pelouro atribuído), remuneração e horário a combinar. De preferência na Câmara Municipal de Nenhures ou suas cercanias, mas disponível para qualquer distrito de Portugal Continental e Ilhas Adjacentes, digo, Regiões Autónomas...
 
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Livro Torna-Viagem

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