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Nenhures

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Venho a votos, que não a banhos. Antes abanco na tasca, a ganhar coragem para confiar em alguém. Ou desconfiar menos, para ser franco. Para isso, e porque ainda é cedo, peço a cerveja, jamais Sagres pois gozou com Rui Patrício. Trazem-me esta, em completa violação da neutralidade requerida ao dia eleitoral. Ainda bem! Bebo e vou ao voto. "Como Dantes?" não. Basta (que não Chega) disto.

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Eu, no Facebook, perdão, Rossio de Lisboa... A foto não é de hoje - é de há dias quando fui almoçar ao Zé dos Cornos com o bom do Alvarães, e daí a boa disposição. Mas o raro sorriso adequa-se a hoje, Dia Internacional de Todos Nós, da igualdade (legal) e da equidade (real) entre a rapaziada e o mulherio. Todos iguais? Não, pois vive la petite difference. Tudo igual para todos nós, o que é bem diferente...

"Tás comunista, Zezé?!", espantam-se os amigos. "Não pá, liberal", respondo. "(Neo)Liberal", apedrejam os clientes dos poderes. "Tende bons subsídios...", desprezo-os... E junto as moedas pretas, afinal suficientes para mais uma imperial no morro no Vale do Tejo. Domingo cruzarei o Tejo, até ao Trancão, em busca de contribuir para a tal ... equidade. Com este sorriso. Ou seja, "contra os clientes, marchar, marchar..." (Sim, é em ti que estou a pensar, sacana, sabujo,. Ok, sabuj@)

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É consabido que desde há alguns anos os movimentos de extrema-direita - soberanistas, discriminatórios, genderófobos, fascizantes ou até mesmo fascistas, e também neoliberais (o que é mau é neoliberal, como também é bem sabido) - usam as possibilidades digitais para espalharem "inverdades", as antigas falsidades (ditas "fake news").
 
Em especial durante os períodos eleitorais somos inundados com estas aldrabices. E logo, de modo muito convicto, dignissímas mães de família, laboriosos pais de família, fidelíssimos filhos de família e recatadas filhas de família, acorrem aos seus múltiplos teclados aplaudindo as atoardas, apupando os visados, repassando tais dizeres aos seus vizinhos. Fazem-no com o mesmo afã que os neoliberais destroem os serviços nacionais de saúde, com o fito de matar os velhinhos e os adoentados. E se algum freguês da mesma freguesia os avisa, pacientemente, que estão enganados respondem, ríspidos e ufanos, se non è vero, è bene trovato... E nisso convocam os patifes que têm a mania dos factos para que metam a viola (esquerdista) no saco...!
 
Nos últimos dias essa fascista extrema-direita tem pululado na internet portuguesa. Em frenesim redistribuindo esta vilania cometida sobre o professor Ventura. Como é óbvio - ou deveria ser - para qualquer letrado, o ilustre prelado Tolentino (do qual tenho em casa alguns livros de auto-ajuda) nunca proferiu estes dizeres sobre o antigo comentador futebolístico, autarca de Loures e actual candidato à Assembleia da República.
 
E urge denunciar esta aleivosia da extrema-direita. Eu, por mim, não só o faço aqui, em defesa da democracia. E também, a bem da higiene digital, venho cortando as ligações (no FB) com os ordinários que partilham estas coisas.

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Às oito e um quarto soou o apito inicial. Logo nos primeiros minutos houve uma oferta da defesa do Moreirense e o Sporting inaugurou o marcador. Bons augúrios. Pois se é certo que o Sporting está pujante - há 50 anos que nenhuma equipa marcava tantos golos, é evidente que o jogo flui, nisso Trincão reassumiu-se, e também o jovem Quaresma recuperou o estatuto de "muito prometedor", o sueco avançado é um verdadeiro achado, o médio dinamarquês é bem mais do que se esperava, Gonçalo Inácio está soberbo, o "nosso" Catamo pegou de estaca, Adan não está como no ano passado ... -, o Moreirense vem fazendo um bom campeonato e sempre se teme uma escorregadela em qualquer "terreno difícil". Ainda por cima porque o malvado Benfica também está forte, com avantajada panóplia de recursos. Enfim, cinco minutos estavam decorridos e o sempre difícil primeiro golo estava alcançado, a repousar a equipa, assim mais disponível para explanar o seu jogo. E nos minutos seguintes viu-se que estava mandona, ciosa de si, empurrando os de Moreira de Cónegos para o seu último reduto, com pressão alta, muita posse de bola num jeito quase turbilhão. A sossegar o adepto no sofá, tão esperançoso nisto do "este ano é que é". Apesar do tal Benfica...

Por tudo isto às 8.30 passo o canal para a outra peleja, o combate, perdão, o debate entre o capitão do PSD, perdão, AD e o capitão do PS. Para "Meia-hora" daquilo, "Vê-se o debate, que demora a primeira parte do jogo e depois volta-se, até durante o intervalo". Entretanto telefonara-me um amigo sportinguista, mesmo já durante o jogo, por coisas cá nossas, e anunciara-me estar o Capitólio cercado por polícias arruad(c)eiros.

Chego ao evento e deparo-me com algo diferente do que esperava, quase um Super Bowl politiquês. Haviam-se congregado as três estações televisivas generalistas, num verdadeiro espavento, deslocadas para o tal "Pavilhão dos Debates" e o embate previsto para uma duração de uma hora, afinal! Ou seja, a de serviço público e as outras com alvará público para emitirem, delineam um modelo de debate eleitoral que reestabelece o velho primado da "bipolarização", como se esta uma realidade virtuosa, esse aldrabismo que os fazedores de opinião propalavam há décadas. Consagrando - e nisso reproduzindo - um "estatuto preferencial" para o PSD e para o PS. Como se isso seja uma realidade "natural", geológica até, e assim autojustificada.

A árbitra Clara de Sousa fez soar o apito inicial e logo Montenegro, campeão da sua causa, foi ao tapete. Pois perguntado sobre o que pensava daquela policiesca ululante que os circundava mostrou-se para com ela muito compreensivo, fazendo nisso lembrar António Guterres titubeante, e de lesto passo atrás, diante da arruada dos produtores de vinho, nesse então dispostos ali ao Terreiro do Paço reclamando contra a redução da taxa de álcool permitida aos condutores. O que lhe valeu um KO técnico, como estarão recordados alguns dos mais antigos... Logo, lesto, Santos assumiu-se como vigoroso estadista, situando que há limites no entre as "quatro linhas" da democracia, rijo num que "não se governa sob pressão", no fundo reclamando ordem unida à polícia. E nisso fez lance de três pontos, como no basquete. Depois seguiram-se 55 minutos de "você lá, você cá", entre chutos para a frente com previsões económicas salvíficas, futebol de praia sobre promessas aos "jovens" para que estes não emigrem, e um catenaccio ríspido dedicado aos pensionistas ("como reformar um país em que os governos tanto dependem dos velhos eleitores?", mastiguei eu enquanto me servia do pacote de vinho, um decente Palmela a preço apetitosíssimo).

Disso tudo ficou-me na retina uma bela ida à linha, seguida de cruzamento bem medido, em que Santos proclamou que com ele não se patinaria, ao contrário dos anteriores governos socialistas - nisso invectivando os modelos de jogo instaurados pelos antigos treinadores Costa, Sócrates e, decerto, Guterres. Assim como se proclamando "eu sou o Rúben Amorim do PS". E entretanto prometeu que nos próximos tempos o seu partido iria estudar as "áreas económicas estratégicas" para as quais será dirigido o investimento público. Assim recordando-nos que o PS está, grosso modo, no poder há trinta anos e, ainda mais, de modo seguido nos últimos oito - nos quais ele próprio governou, ao que parece um pouco a contragosto. E que nesses longos períodos não conseguiu descobrir quais as tais "áreas estratégicas" preferenciais. Do outro lado Montenegro optou pelo jogo de repelões, com algumas entradas duras, para meter o adversário em respeito, num arcaboiço técnico que me lembrou o seu (quase) conterrâneo Paulinho Santos. Ou, para ser mais actual, o geniquento e bem sucedido molde táctico-comunicacional do nortenho Sérgio Conceição. 

Tudo aquilo demorou - o tal desplante das estações televisivas - e terminou já a meio da segunda parte do confronto de Moreira de Cónegos, tendo encontrado o Sporting a ganhar por 2-0, e decorrendo o jogo em modo modorrento. "Este ano é que é", para o Sporting? A ver vamos, que será bem bonito se tal for. Depois caí à cama.

Hoje, na alvorada, "busco" notícias sobre o embate do Capitólio. Os comentadores dão notas aos contendores, como se tudo aquilo integrasse o velho Prémio Somelos-Helanca do "A Bola", quando o jornal existia. Os tipos do Sporting dizem que o Sporting ganhou, os tipos do Benfica dizem que o Benfica ganhou. Os tipos do Porto estão calados. E ainda não há notícias sobre as punições aos polícias que invocaram "doença" para faltarem ao Famalicão-Sporting. Nem sobre o despedimento dos médicos que lhes passaram os atestados médicos fraudulentos.

Para a semana vamos a Vila do Conde, mais um "campo difícil", o sempre codicioso Rio Ave. Lá para Março votar-se-á.

(Postal para o Delito de Opinião)

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(Escola Secundária dos Olivais, nos anos 1980s, agora chamada Eça de Queirós e reconstruída)

Consta dos anais familiares que o filho do casal Pimentel sofreu de uma agudíssima nefrite aos seus três anos, causando angústia familiar. Já na convalescença o seu pediatra, o consagrado doutor Abílio Mendes, - que o petiz viria, alguns anos mais tarde, perceber como o homem diante do qual o seu pai assumia a pose mais respeitosa, numa mescla de agradecimento pelos dotes médicos e de anuência à sua postura avessa à "situação" de então -, o doutor Abílio Mendes, dizia, recomendou que a criança fosse criada o mais ao "ar livre" possível. E assim quatro anos feitos foi inscrito no Colégio Valsassina, tanto pela (vera) excelência do ensino ministrado como pela esperada robustez advinda dos ares da magnífica Quinta das Teresinhas. E assim, enquanto os homens novos da sua família partiam para as guerras d'África, medrou, mais ou menos viçoso, jamais o último do  pelotão (excepto na traumática mesa alemã, nessa ex aequo com alguns outros coxos medrosos), e nem tanto o primeiro na meta ou no quadro de honra e louvor... Nas vésperas do então notório exame da 4ª classe irrompeu o saudado "25 de Abril" e subsequente imensa agitação. Poucos dias após a "intentona" da "maioria silenciosa", já sem bibe e calções, o rapazola avançou até ao andar térreo do edifício dos "grandes", para cursar o Ciclo Preparatório, o qual cumpriu ali resguardado do PREC circundante.

Depois, Constituição aprovada, "normalidade democrática" (enfim...) encetada, e após oito anos de permanência naquele ninho de saber, ao tal filho do casal Pimentel foi dada paterna "guia de marcha" para se apresentar, logo que possível, na Escola Secundária dos Olivais, então a inaugurar. Para cumprir o obrigatório rumo de encetar o ensino secundário, o então chamado 7º ano. Como o festivo evento estava atrasado o rapaz ainda fruiu o seu Colégio até Janeiro, quando, finalmente, a novel Escola oficial estava pronta e encetou o ano lectivo, pujante no seu chão de material tóxico que alguns anos depois seria substituído.

O menino sentiu a transferência como um descalabro. Deparou-se com um compósito social assustador, a pequenada da zona oriental daquela Lisboa, com a insurreição discente - da qual, alguns anos depois, se tornou agente activo, forma óbvia de se integrar e afirmar - e com a impotência docente. E com pormaiores impressionantes, como o nunca mais ter tido Educação Física, dada a inexistência de um pavilhão ou mero espaço disponível. E da ausência de quaisquer actividades extra-curriculares, às quais estava habituado, ali resumidas a espontâneos campeonatos de flippers na fronteira tasca do Sô Álvaro, onde corriam também taças sub-15 de "submarinos" (o cálice de bagaço dentro das "imperiais"), e as maratonas de ganzas, então fumadas em cachimbos de prata (os invólucros dos maços de tabaco). Tudo isso causou efeitos tremendos nos hábitos laborais e na aprendizagem curricular - ainda que alguns anunciados falhanços fossem ultrapassados  pela intervenção doméstica do paterno engenheiro, se em questões "científicas", e da materna (e bilingue) professora, se em questões linguísticas, isto para além dos laivos colhidos na biblioteca caseira. Pois o capital cultural familiar reproduz a estratificação social, aprenderia depois o já pós-adolescente quando estudando ali ao Campo Grande...

Um dia, mais tarde, já homenzito, chaves do Fiat 600 no bolso, cigarro na mão, o filho enfrentou o pai "com que propósito é que me tiraram do Valsassina?, é que aquela escola era uma catástrofe!". O Camarada Pimentel sorriu - naquele seu sorriso algo desanimado diante do mundo imperfeito que não se aperfeiçoa à velocidade tão desejada. E resumiu "Não queríamos que fosses um menino de colégio!"...

O filho do casal Pimentel cresceu. E até amadureceu. Estudou antropologia - "nos Olivais, não ali ao Campo Grande", faz sempre questão de dizer. Depois envelheceu, empobreceu, ensimesmou. E nisso tudo nunca foi um "menino de colégio...".

Obrigado Camarada Pimentel. Obrigado Pai António. Obrigado Mãe Marília.

(Lembrando tudo isto: nesta nossa continuada "normalidade democrática" o político "já-não marxista" Rui Tavares tem a descendência em boas escolas privadas, como refere o Paulo Sousa? Não vejo problema, não vejo contradição radical entre defender uma boa escola oficial e dar o melhor enquadramento possível aos filhos. Nem todos têm de seguir as mesmas concepções de paternidade. E não confundamos a esfera pública e a privada. Pois o problema é o da demagogia nas posições e o da irrealidade das propostas. E o LIVRE é um partido muito demagógico. Nisso até melífluo. Tenhamos fé que as boas escolas façam medrar melhores cidadãos entre as futuras gerações.) 

Adenda: não quero provocar ou alimentar polémicas. Mas somando ao que disse escreve-me um amigo, após ler o postal, chamando a atenção para que a mulher do político do LIVRE é uma diplomata. Se outra razão fosse necessária - que julgo não ser - para justificar a colocação dos filhos em escolas de ensino internacional, privadas sempre, esta seria mais do que suficiente. 

(Postal no Delito de Opinião)

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